Evangelizar pela acolhida também é comunicar

Aline Tarallo

Em vez de iniciarmos este texto com uma definição do que é a palavra “acolhida” ou até mesmo citar a explicação de um dicionário ou listar os benefícios que ela traz, optamos por um caminho que não será externo, mas, sim, interno.

Convidamos você a fazer uma rápida retrospectiva de alguma situação em que se sentiu verdadeiramente acolhido(a) por alguém. Aquela experiência em que a outra pessoa lhe trouxe para perto do coração dela. É libertador, não é? Parece que o mundo para e, dessa forma, é possível experimentar uma alegria interior inexplicável.

Este é poder que a acolhida tem na vida das pessoas. Esta vivência pode ter sido feita com um(a) amigo(a) de verdade, com seu terapeuta, seu pai ou sua mãe, avô, avó, alguém que lhe quer bem pelo que você é, pela sua pessoa, que é imagem e semelhança de Deus.

COMUNIDADE ACOLHEDORA

Este acolhimento também é fundamental em nível comunitário e deve cada vez mais ser levado em conta em nossas comunidades, paróquias e dioceses, pois é pela acolhida que um membro tem acesso à própria comunidade.

Segundo o Documento n° 71 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), “as pessoas não buscam em primeiro lugar as doutrinas, mas o encontro pessoal, o relacionamento solidário e fraterno, a acolhida” (cf. CNBB, Doc.71, n.99, p.62). Sem uma verdadeira acolhida na Igreja, não é possível ensinar as doutrinas, pois ninguém permanece onde não é bem acolhido.

Portanto, a hospitalidade ainda é um desafio em nossas comunidades, sendo necessário dar ainda mais passos para que todos que chegam à nossa igreja sejam bem recepcionados, sintam-se, de fato, em casa, valorizados, ouvidos com o coração. Por ser uma realidade tão necessária, a acolhida é realizada por uma pastoral, que se dedica exclusivamente a este acolhimento.

COMUNICAÇÃO E ACOLHIDA

Não há como separar acolhida e comunicação. Acolher é comunicar. E para haver uma boa comunicação, a pessoa que acolhe também precisa estar bem, acolher-se, estar em harmonia consigo e com o outro. Do contrário, será algo muito artificial, mecânico. Tudo isso diz respeito à comunicação humana. A comunicação perpassa toda a nossa vida. Sentimentos de afeto e o calor humano fazem parte do ato de acolher o outro. Nesse sentido, acolher não é algo momentâneo, mas deve ser constante em nossas relações interpessoais.

E, para que haja uma verdadeira acolhida em nossas paróquias, basta seguir um modelo: Jesus Cristo, o Mestre, que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Ele é o espelho da acolhida. Se olharmos mais para Jesus e tentarmos colocar em prática a acolhida que Ele praticava, ninguém passará por nós e continuará igual. Vai desejar também conhecer e seguir este Jesus de Nazaré, que está Vivo em nosso meio!

TRANSVERSALIDADE DA ACOLHIDA

De acordo com o Padre José Carlos Pereira, autor do livro “Pastoral da acolhida – guia de implantação, formação e atuação dos agentes”, publicado pela Paulinas Editora, a Pastoral da Acolhida deve permear toda a ação pastoral. A recepção deve acontecer não apenas no espaço sagrado em que acontecem as celebrações, mas em toda a conjuntura pastoral da paróquia, a começar pela acolhida no expediente paroquial, que, de certa forma, é o “cartão de visita” ou a porta de acesso à paróquia, passando pelas pastorais, movimentos e associações, até a acolhida na porta da igreja na hora das celebrações, porque é o modo de acolhida mais visível que se tem em um espaço sagrado.

Além disso, outras atitudes que estão relacionadas ao acolher bem são: atenção a todos; interesse de ajudar a solucionar um problema; demonstração de interesse pelo outro, mostrando que cada um(a) que está ali, seja aquele que está há mais tempo, seja quem acabou de chegar, é único(a), tem seu valor e não é mais um(a), mas, sim, membro do corpo da comunidade, cuja cabeça é Cristo.

PARTICIPAÇÃO ATIVA

E mesmo em uma comunidade bem acolhedora, ainda pode restar a pergunta: como atrair mais católicos batizados para que participem de forma ativa da vida cristã?

Sobre este aspecto, vale recordar uma passagem do Evangelho. Às vezes, podemos nos assemelhar ao eunuco etíope, que estava buscando o Senhor, mas precisava de alguém que o levasse até Jesus. Outras vezes, podemos nos encontrar no papel de Filipe, que ajuda, com uma pergunta certa: “Tu compreendes o que estás lendo?” (cf. At 8,26-40). Podemos traduzir esta pergunta para hoje, em um convite simples: “Gostaria de ir comigo à missa?”

Padre José Carlos ao citar o documento n° 71 da CNBB em seu livro, afirma: O documento destaca a importância da acolhida como meio de evangelização e diz que é preciso acolher àqueles ‘católicos apenas de nome’, isto é, que não costumam frequentar assiduamente as missas ou que não descobriram o valor dos sacramentos. Se houver uma acolhida adequada, esses católicos poderão superar a dimensão religiosa meramente cultural de suas vidas e ser atuantes.

Continue a refletir sobre esta temática nas próximas páginas deste Caderno Pascom em Ação. Você encontrará dicas que contribuem para acolher bem e sobre a acolhida no espaço sagrado em que acontecem as celebrações. Trazemos, ainda, bons exemplos de acolhida em paróquias da Arquidiocese de São Paulo, nas quais a evangelização acontece por meio de homens e mulheres hospitaleiros, que testemunham a alegria de servir a Deus com a própria vida!

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