O SÃO PAULO apresenta as origens destes festejos e as biografias de Santo Antônio, São João, São Pedro e São Paulo
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Igreja do Calvário
Você já programou a ida à quermesse de sua paróquia neste mês? Ou está no grupo dos que participam do ‘arraiá’ em família ou entre amigos? Não importa onde ocorram, o certo é que as festas juninas sempre são marcadas pela alegria, muitos pratos típicos, brincadeiras e expressões da fé cristã.
Em abril de 2023, com a publicação da lei federal 14.555, as festas juninas passaram a ser reconhecidas como manifestação da cultura nacional. De fato, já é uma tradição entre os brasileiros festejar de maneira intensa em junho a devoção a Santo Antônio, no dia 13; a São João Batista, no dia 24; e a São Pedro, no dia 29, ocasião em que os católicos também celebram São Paulo, uma vez que estes dois apóstolos são considerados as colunas da Igreja.
E COMO TUDO COMEÇOU?
As origens das festas juninas remontam ao século XII, no Hemisfério Norte, época em que a subsistência das pessoas estava altamente atrelada ao cultivo da terra. Para celebrar a chegada do verão, alguns povos como os bretões, bascos, sardenhos, persas e egípcios faziam momentos festivos e de invocações para o crescimento da vegetação, a fartura das colheitas e o pedido por chuvas.
Com a expansão do catolicismo na Europa, estas festividades foram incorporadas ao calendário da Igreja, mas fazendo alusão aos santos mais populares celebrados em junho.
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AS FESTAS JUNINAS NO BRASIL
No artigo “Tradições e sabores juninos”, publicado em junho de 2004 na revista do Centro de Memória da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Eliane Morelli Abrahão, mestra e doutora em História, recorda que as festas juninas passaram a acontecer no Brasil no período colonial, iniciadas pelos portugueses, e, ao longo das décadas, também incorporando elementos indígenas e afro-brasileiros.
“No Brasil, junho marca o início do inverno, coincidindo com a realização dos rituais indígenas referentes à preparação do solo para o plantio e para a fartura das colheitas. As festas juninas acontecem aqui desde o século XVI, trazidas pelos jesuítas. Eles acendiam fogueiras e tochas durante as comemorações de São João. Essas festas tiveram também um caráter catequético, elas atraiam os índios ao convívio missionário. Em Portugal, essa festa denominava-se Festa Joanina”, escreve Eliane.
“A influência brasileira na tradição da festa pode ser claramente percebida na alimentação. Os produtos da culinária tipicamente indígena, como o aipim, o milho, o coco, foram introduzidos na preparação dos pratos e alimentos para os festejos. Por outro lado, foram os portugueses que temperaram com sal, canela, alecrim, erva-doce e cravo-da-índia esses novos pratos”, detalha a historiadora.
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TRADIÇÕES
Em muitos locais, especialmente no Nordeste brasileiro, as festas juninas mobilizam multidões, como é o caso do “São João de Campina Grande”, na Paraíba; o “São João de Caruaru”, em Pernambuco; o “Mossoró Cidade Junina”, no Rio Grande do Norte; e os festejos “São João de Estância”, “São João de Paz e Amor” e “Festa do Mastro”, em Sergipe.
Ao longo dos anos, a festa junina – inicialmente chamada de “Festa Joanina”, em alusão à comemoração de São João – também se tornou conhecida no Brasil por duas outras expressões: quermesse, derivada de “kerkmesse”, do idioma flamengo, referente às festividades com barracas de comes e bebes, brincadeiras e leilões de prendas que marcavam a inauguração de uma igreja (hábito, difundido nos Países Baixos); e ‘arraiá’, modo como esta festividade passou a ser chamada em alguns povoados rurais do Brasil, acrescendo-lhe trajes típicos interioranos e brincadeiras como a encenação do casamento.
Entre as tradições mais comuns das festas juninas estão:
- A fogueira, que simboliza, conforme a piedade popular, o modo que Santa Isabel encontrou para que a Virgem Maria soubesse, mesmo a muitos quilômetros de distância, que São João Batista havia nascido;
- A quadrilha junina, que surgiu nos bailes rurais da França, no século XVIII, nos quais os casais se cumprimentavam e trocavam de pares. A dança foi incorporada aos festejos juninos com a chegada da família real portuguesa no começo do século XIX. Nas décadas seguintes, as quadrilhas também ganharam aspectos mais regionais;
- O mastro e as bandeiras, que remetem à tradição portuguesa na qual eram erguidas na ponta superior de um mastro três bandeiras simbolizando Santo Antônio, São João e São Pedro. Nos primórdios dos festejos juninos, grandes bandeiras coloridas também traziam as imagens destes santos. Com o passar dos anos, elas deram lugar às atuais bandeirinhas coloridas;
- As comidas feitas com milho – como bolo, pamonha, milho verde, pipoca e canjica –também são abundantes nas festas juninas, pois este é o período do ano em que ocorre a colheita deste fruto.
UNIÃO, HARMONIA E DEVOÇÃO
Em artigo publicado em junho de 2018, Dom Jaime Spengler, Arcebispo de Porto Alegre (RS) e hoje Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), falou sobre os muitos aspectos positivos percebidos nos festejos juninos: “Essas festas são oportunidade privilegiada para o encontro de pessoas e recordação de um estilo de vida, por vezes distante no tempo, mas sempre marcado por saudades, devido à simplicidade, o encontro amigo, a alegria, a partilha, a descontração e a fé”.
Ainda segundo Dom Jaime, “os festejos populares juninos são expressão da obra divina realizada em figuras da tradição cristã. Santo Antônio é invocado especialmente nas dificuldades. São João é aquele que foi enviado para preparar os caminhos do Senhor. São Pedro é a rocha escolhida sobre a qual o Senhor edificou sua Igreja. São Paulo é evangelizador intrépido. Estes homens, por caminhos distintos, cooperaram e cooperam para que a obra de Jesus continue no tempo. Um intercede nas dificuldades, outro inaugura caminhos, outro é garantia da unidade da comunidade de fé, e outro ainda, intrepidamente, vai ao encontro de diversos povos e culturas. Esses homens são santos! Por isso são venerados – isto é, merecem respeito, consideração, reconhecimento pelo bem que realizaram ao longo de suas vidas na relação com Deus, no seguimento de Jesus Cristo, no testemunho e anúncio do Evangelho e na relação com os irmãos e irmãs”.
Ainda segundo o Arcebispo de Porto Alegre, “nas festas juninas se expressa o desejo de um mundo melhor, marcado por paz e justiça, fraternidade e concórdia”, e elas também indicam “o desejo humano de confraternização, promovendo comunhão e unidade. Elas são espaço de cultivo da possibilidade de um mundo transformado, no qual dificuldades imputadas possam ser superadas; bloqueios e empecilhos desfeitos; a unidade, reconstruída; a fraternidade e a paz experimentadas”.
(Com informação de Agência Brasil, Ministério do Turismo e Senac-DF)
Santo Antônio (13 de junho)
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Nascido em Lisboa, Portugal, em 1195, Santo Antônio fez de sua vida um incansável apostolado de amor a Deus e ao próximo.
Aos 15 anos, entrou na Ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho, tendo sido ordenado sacerdote aos 24 anos. Em 1220, decidiu ingressar na ordem franciscana e ir em missão a Marrocos, onde adoeceu, se vendo obrigado a partir para a Itália. Em 1221, já com a saúde reestabelecida, foi a Assis, depois passou por outras cidades, tendo pregado o Evangelho de modo especial em povoados do Norte da Itália e do Sul da França. Como superior de fraternidades franciscanas, também visitou muitos conventos e abriu novas casas.
Um dos legados de Santo Antônio é uma série de sermões, nos quais são encontradas cerca de 6 mil citações bíblicas, menções dos grandes padres da Igreja e alusões às ciências naturais. Eram proferidos em uma linguagem compreensível, atraindo as multidões, e muitos dos que o ouviam depois procuravam o sacramento da Confissão.
Em 13 de junho de 1231, sentindo a proximidade da morte, Frei Antônio, com apenas 36 anos, pediu para ser levado a Pádua, na Itália: “Vejo o meu Senhor!”, foram suas últimas palavras.
Na piedade popular, ele é o “Santo casamenteiro”, fama que adquiriu por seu empenho para que algumas leis de sua época fossem modificadas e permitissem que as moças cujas famílias não tinham dinheiro para o dote também pudessem se casar. A ele são ainda atribuídos episódios inexplicáveis, como a pregação que fez aos peixes após ser ignorado pelos hereges.
Santo Antônio foi proclamado doutor universal da Igreja pelo Papa Pio XII em 1946.
São João Batista (24 de junho)
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A São João Batista, filho de Zacarias e de Isabel – que já idosa era considerada estéril –, Deus concedeu a graça de “dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. Ele não era a luz, mas apenas a testemunha da luz” (Jo 1,6-8).
Na juventude, João Batista retirou-se para o deserto para amadurecer a graça de Deus que lhe fora conferida. Iniciou a pregação sobre a vinda do Senhor nas margens do Rio Jordão, por volta dos anos 27 e 28 d.C, onde realizava o batismo de conversão: “Eu batizo com água, mas no meio de vós existe alguém que não conheceis, e quem vem depois de mim. Eu não mereço nem sequer desamarrar a correia das sandálias dele’” (Jo 1,26-27). Quando João batizou Cristo, viu o Espírito Santo descer do céu e pousar como uma pomba sobre o Salvador (cf. Mt 3,13-17).
Aos que batizava, São João Batista exortava que fizessem coisas para provar que haviam se convertido e, também, lhes pedia que partilhassem o que tinham.
São João Batista foi morto por volta do ano 32 d.C, após denunciar um casamento ilegal: Herodíades era esposa de um irmão de criação de Herodes, e desfez a primeira união para casar-se com o rei. João denunciou o fato, foi preso e acabou decapitado após a filha da mulher, Salomé, pedir que assim fosse feito.
A Igreja celebra a natividade de São João Batista em 24 de junho, tendo como referência uma passagem do diálogo em que o Anjo anuncia à Virgem Maria que ela será a mãe do Salvador: “Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril” (Lc 1,36), ou seja, há uma diferença de seis meses entre os nascimentos de São João e de Cristo. Também o martírio deste Santo é celebra- do em 29 de agosto.
São Pedro e São Paulo (29 de junho)
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Os dois santos são chamados de “colunas da Igreja” por terem lançado a base da pregação do Evangelho: Pedro, o primeiro entre os discípulos a professar a fé no Cristo e a testemunhá-lo, foi chamado por Deus para guiar e reunir a comunidade apostólica, e é considerado como o primeiro papa; Paulo, o Apóstolo dos Gentios, difundiu a fé em suas muitas viagens apostólicas. Segundo a tradição, ambos foram martirizados em 29 de junho do ano de 67.
PEDRO era pescador e foi convidado pelo próprio Cristo para segui-Lo. De temperamento inquieto e impulsivo, muitas vezes agiu em nome dos apóstolos, frequentemente questionava Jesus sobre as pregações e parábolas, e embora tenha negado a Cristo por três vezes às vésperas de Sua crucifixão (cf. Lc 22,54-60), foi o primeiro entre os apóstolos a reconhecer no Senhor o caminho da Salvação. “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo” (Mt 16,16), ao que Jesus respondeu-lhe: “Eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. E eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,18-19). Esta passagem bíblica explica a piedade popular de que São Pedro é o responsável pelas condições climáticas, é aquele que “manda a chuva”.
Depois da Ascensão do Senhor aos Céus, Pedro passou a pregar em público e a fazer curas em nome de Cristo. Durante a perseguição de Nero aos cristãos, este apóstolo foi preso e, por fim, crucificado, de cabeça para baixo, na Colina Vaticana.
PAULO passou a ser conhecido por este nome após a sua conversão cristã. Nascido em Tarso, Saulo era judeu e cidadão romano, possuía uma boa formação cultural greco-helênica e era um exímio orador. Ao saber da expansão das comunidades cristãs, passou a persegui-las veementemente: “Detestava a igreja, ia de casa em casa, arrastava homens e mulheres e os lançava à prisão” (At 8,3).
Em uma viagem a caminho de Damasco para procurar cristãos que fugiram de Jerusalém, ele foi envolvido por uma forte luz, que o fez perder a visão e cair por terra. “Saulo, Saulo, por que me persegues?”, disse-lhe a voz do Senhor. E Saulo perguntou: “Quem és tu, Senhor?” Ele respondeu: “Eu sou Jesus, a quem você persegue. Levanta-te, entra na cidade; alguém te dirá o que deves fazer” (At 9,3-6). Após três dias de profunda reflexão, ele recobrou a visão e depois foi batizado.
Paulo iniciou seu apostolado com os discípulos de Jesus em Damasco. Depois, foi a Jerusalém, onde conheceu Pedro e os outros apóstolos. Recém-convertido, deparou-se com a hostilidade dos judeus e a incredulidade de muitos cristãos. Decidiu, então, sair de Jerusalém e evangelizar em sua cidade natal, Tarso. Anos mais tarde, com Barnabé, foi a Antoquia e de lá partiu para suas viagens apostólicas – realizou três grandes viagens pelo vasto império romano – com os propósitos de converter os pagãos – também chamados de “gentios” – formar novas comunidades e orientar as já estabelecidas.
Acusado pelos judeus de pregar contra a lei e de introduzir no templo um pagão convertido, Paulo foi preso e depois transferido para Roma. Libertado por falta de provas, ele voltaria a ser preso tempos depois e condenado à morte pelo Tribunal Romano, sendo, por fim, decapitado na Vila Ostiense.
(Com informações de Vatican News)