Historiador publica livro sobre o processual da santidade de Frei Galvão

Livro é resultado da tese de doutorado de Leandro Faria de Souza

O livro “Frei Galvão – A construção processual da santidade”, da editora Pluralidades, é de autoria do historiador Leandro Faria de Souza, 35, mestre e doutor em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Foto: Divulgação

O livro é fruto da tese de doutorado de Souza, defendida em 2018. Ele é da cidade de Jacareí (SP), localizada no Vale do Paraíba, mesma região de Guaratinguetá, onde Frei Galvão nasceu.  

É a segunda obra de Souza a ser publicada e foi escrita por meio de um software de voz, já que o autor tem paralisia cerebral, o que afeta principalmente sua coordenação motora.  

PROPOSTA EDITORIAL

A obra propõe analisar os atos de beatificação e de canonização do primeiro santo brasileiro, Frei Galvão, que foi canonizado pelo Papa Bento XVI, durante sua visita ao Brasil, em 11 de maio de 2007.

Busca-se, ainda, identificar uma nova abordagem para o documento histórico do processo de santificação, além de demonstrar o percurso histórico da construção simbólica de santidade.

“Procuro estabelecer o histórico do conceito de santidade da história da Igreja e como esse conceito vai evoluindo conforme o tempo vai passando”, explica Souza. “Além de como essa evolução ajuda a Igreja a se modernizar e se adequar de acordo com cada período da história.”

O autor diz ainda que o processo de canonização de Frei Galvão “bebe dessa trajetória histórica porque tem fragmentos de cada período de evolução legislativa que o procedimento tem.”

Também reforça que embora o processo de canonização seja composto por várias partes, a maioria das pessoas, sobretudo pelo que é divulgado na grande mídia, conhece apenas a última parte dele, que é a comprovação dos milagres de cura, desconsiderando que existem outras partes.

“Temos desde as fontes históricas ligadas ao possível candidato [à santidade], a comprovação das virtudes heroicas, que são as virtudes para a santidade, e, por último, a comprovação dos milagres”, acrescenta.

ELABORAÇÃO

A produção do livro foi iniciada em 2021 e o processo durou dez meses para ser concluído. Mesmo tendo a dissertação como base, Souza enfatiza que uma coisa é a tese, outra é o livro.

Souza recorda que uma das partes da produção da obra que mais exigiu tempo foi a tradução de documentos. “Porque como a minha tese se constituiu em cima do processo de canonização do Frei Galvão, tive acesso ao documento original, assim, as partes fundamentais que usei estão em italiano”, relata. “Para o livro, tive que traduzir tudo para o português.”

No total, a obra tem 274 páginas e é dividida em quatro capítulos. O primeiro é voltado para a história do conceito de santidade na Igreja.

“Nele, pegamos desde o Cristianismo primitivo, que são os três primeiros séculos da história da Igreja, os primeiros modelos de santidade, que são os mártires, passam pelos santos Reis, santos medievais, santos monges e vai puxando essa linha do tempo do conceito de santidade”, detalha Souza, acrescentando que neste mesmo capítulo consta também a evolução do procedimento de canonização e reconhecimento da santidade.

O segundo capítulo parte de todo esse movimento panorâmico e o autor apresenta sua análise do processo de canonização do Frei Galvão em si. “Do documento, estrutura, argumentação, o que é valorizado, o tipo de registro, que tem o tipo de documento histórico, o conjunto, o processo de construção da escrita no processo de canonização”, lista.

Já no terceiro, a obra trabalha a construção de uma memória a partir da fama de santidade de Frei Galvão e traz as consequências e a construção da santidade dele no processo de canonização.

“Eu ainda uso o documento como base, mas estabeleço minha análise, por isso a construção processual da santidade, a partir do processo da análise que eu fiz no capítulo anterior. Elaboro a forma de santidade e a questão do prestígio público”, explica.

Por último, no quarto capítulo, a obra apresenta a análise do documento do processo de canonização pelo método histórico. “Analiso parte por parte, vou demonstrando aos poucos. Como o documento vai se construindo e por meio dessa construção, como esta santidade de Frei Galvão vai se consolidando, e por causa disso o processo se torna bem-sucedido”, esclarece Souza.

Uma curiosidade sobre os quatro capítulos, compartilhada por Souza, é que eles podem ser lidos de modo independente, sem a necessidade de seguir uma sequência.

“O livro é articulado, mas se você quiser ler, por exemplo, o capítulo um hoje e o terceiro amanhã, você consegue. Porque ele parece difícil, mas não é”, afirma o autor.

Leandro Faria de Souza

AO ACESSO DE TODOS

“Quando vemos ‘a construção processual da santidade’ pensamos ‘o que é isso?’. Mas quando começamos ler, entendemos um pouquinho do processo histórico que a Igreja se moldou”, acrescenta Souza dando outra dica, de que o primeiro capítulo serve de base para o entendimento dos demais.

Souza conta também que durante a elaboração do livro se preocupou em torná-lo acessível, mas sem simplificar. “Porque existe uma grande diferença entre você tornar acessível e simplificar demais. Até porque se ficasse simples demais o trabalho iria perder força e a essência dele”, frisa.

Ele conta ainda que quando começou a escrever o livro, teve por foco o desejo de que cada vez mais pessoas tivessem acesso. “A intenção do livro é que as pessoas entendam melhor a história da própria Igreja e observem como essa história é rica e fundamental para a história humana”

Sobre o que o leitor pode esperar, Souza comenta que trata-se de uma obra “que desde a sua concessão se manteve sóbria e que levanta os pontos fundamentais da construção da santidade do Frei Galvão, mas ao mesmo tempo permite ao leitor manter contato com sua devoção, sem botar em dúvida rigorosamente nada”, afirma.

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