Esta poderia ser uma boa “chamada” para o conhecido programa de reportagem que vai ao ar na tevê nas noites de sexta-feira. No entanto, as perguntas acima são mais do que cruciais para falar sobre os influencers, que estão se multiplicando rapidamente no ambiente digital.
Cada vez mais, tem se tornado essencial refletir sobre quais são os maiores cuidados para se ingressar neste universo, a fim de que essa participação não se torne uma “moda adaptada para a Igreja”, mas sim uma poderosa e coerente ferramenta de evangelização.
FÉ POR INFLUÊNCIA OU EXPERIÊNCIA?
É claro que ter uma boa referência na fé é sempre saudável e bem-vindo. O próprio Papa Francisco, durante a Jornada Mundial da Juventude de 2019, no Panamá, associou Maria a uma “influencer”, dizendo: “Maria, a influencer de Deus, com poucas palavras soube dizer ‘sim’, inspirando muitos que vieram depois dela”.
E foi justamente Maria quem deixou em uma frase simples o segredo para um bom influenciador: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5). Com isso, a Mãe de Jesus envia cada um a fazer sua própria experiência de escuta a Cristo, tomando atitudes não por induções ou imitações, mas a partir do que foi experimentado pela própria pessoa.
Alzirinha Rocha de Souza, uma das cinco autoras do livro “Influenciadores digitais católicos: efeitos e perspectivas”, explica essa diferença: “A fé não acontece por influência, mas por experiência e testemunho com o Ressuscitado, e isso não pode ser confundido no processo de evangelização”.
AS 5 FONTES
A preocupação com o conteúdo comunicado por um influenciador deve ser prioridade para quem assume esse papel, uma vez que sua presença digital alcança e mobiliza públicos diversos por meio de dinâmicas tecnológicas. Muitas vezes, essa audiência é validada apenas pelo número de curtidas e visualizações.
A pesquisa que fundamentou o já referido livro indica cinco fontes essenciais para desenvolver conteúdo católico:
- A Tradição da Igreja;
- A Sagrada Escritura;
- O Magistério;
- As orientações do Concílio Vaticano II;
- As palavras do Papa Francisco.
E é sobre esse sólido fundamento que todo influenciador católico deve desenvolver seus conteúdos. E isso implica evitar fazer uso das plataformas pessoais como púlpito para opiniões particulares, rotulando-as como conteúdo católico, já que tal prática pode gerar confusão e fragmentar a comunhão dos seguidores de Cristo.
OS ‘RINGS DIGITAIS’
Outro cuidado que um influenciador preocupado em repassar a sã doutrina da Igreja deve ter é o de não fazer de suas páginas lugares de críticas e confrontos que exponham a própria Igreja. Criar embates e “bolhas separatistas” acabam muitas vezes gerando apenas divisão.
“Transformar um perfil em um ‘ring digital’, ou seja, em um espaço unicamente para crítica contra a própria Igreja, não forma nem evangeliza ninguém, apenas deforma e cria ‘guetos eclesiais’”, comenta Alzirinha.
A autora também ressalta que todo criador de conteúdo deve ter uma preocupação constante em buscar pontos de convergência, respeitando as diferentes opiniões, com o objetivo de promover a comunhão.
O ‘EU VANGELIZADOR’
E há, ainda, outro grande cuidado a ser tomado por quem cria conteúdos sobre a fé na internet: o de não distorcer o centro de mensagem, a fim de fazer com que tudo se volte para si.
As plataformas digitais são ferramentas para a antiga e sempre nova missão de evangelizar, e esta é e sempre precisará ser ‘cristocêntrica’, ou seja, ter Jesus como centro e ápice da mensagem. O autorreferencialismo representa um sério perigo, seja por dispersar o foco da fé, seja por alimentar o pecado da idolatria.
É crucial que quem deseja ser um evangelizador nas redes sociais examine sinceramente suas motivações mais profundas, discernindo se seu objetivo genuíno é aumentar o seguimento a Cristo ou a si próprio.
O ideal é que antes de publicar ou compartilhar um conteúdo nas redes, a pessoa busque a orientação de alguém com sólido conhecimento da fé para avaliar se aquilo que se pretende postar realmente iluminará as mentes sobre o Reino de Deus.
Afinal, o aspecto mais notado de uma lâmpada não são suas estruturas ou filamentos, mas a luz que ela irradia: “Que brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16).