Jovens: ‘O agora de Deus’

Durante a pandemia de COVID-19, muitos jovens têm atuado nos serviços pastorais, caritativos e litúrgicos, para preservar a saúde das pessoas de mais idade e continuar a missão evangelizadora e profética da Igreja

Luciney Martins/O SÃO PAULO

“A Igreja precisa de vocês, do entusiasmo, da criatividade e da alegria que os caracterizam!”, expressou o Papa Francisco aos 3 milhões de pessoas que acompanhavam a missa de envio da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 2013, realizada em julho daquele ano no Rio de Janeiro. Os jovens que ouviam o Santo Padre foram encorajados a testemunhar o amor e a misericórdia de Deus, sem ignorar as particularidades próprias da idade, para assim, percorrerem o caminho de evangelização e anúncio da sua Palavra.

Tal mensagem se torna ainda mais relevante diante da atual pandemia de COVID-19, uma vez que as pessoas de mais idade precisam resguardar a saúde, mantendo-se afastadas por esse período específico de suas atividades pastorais. Diante dessa realidade, muitos jovens deram sequência ou intensificaram sua missão na Igreja, fato este que remete à mensagem do Papa Francisco em seu encontro mais recente com a juventude mundial, na JMJ do Panamá, ocorrida em 2019.

“Vós, queridos jovens, não sois o futuro, porque é normal dizer que os jovens são o futuro. São o presente, vocês, jovens, são o agora de Deus. Ele convoca-vos e chama-vos, nas vossas comunidades e cidades, para irdes à procura dos avós, dos mais velhos; para vos erguerdes de pé e, juntamente com eles, tomar a palavra e realizar o sonho com que o Senhor vos sonhou”, disse o Pontífice.

INSPIRADOS NO PROJETO DE JESUS

Os exemplos deixados por Santa Teresa de Calcutá, São Francisco de Assis e Santa Dulce dos Pobres e por Dom Luciano Mendes de Almeida, Dom Paulo Evaristo Arns e Padre Júlio Lancellotti são inspiração para que Felipe Castelhano Pais, 21, da Paróquia Santa Rita de Cássia, no Setor Pastoral Belém, da Região Episcopal Belém, realize suas atividades pastorais.

O jovem, que cursa o quarto semestre da Faculdade de Direito, é o responsável pela arrecadação de mantimentos para a população em situação de rua, imigrantes e famílias carentes na região do território paroquial, em uma ação idealizada pelo grupo de jovens do qual é coordenador. Ministro Extraordinário da Sagrada Comunhão, ele leva a Eucaristia a aproximadamente 50 enfermos neste tempo de pandemia, e preside a celebração da Palavra em diversas casas da Missão Belém.

A cada fim de semana, 2 mil lanches são levados a essas pessoas nos bairros da Mooca, Belém, Brás, Pari, Vila Guilherme, Vila Maria e Armênia. É feita ainda a entrega de cerca de 400 cestas básicas. Antes da pandemia, as doações eram realizadas uma vez por mês.

“Em tempos de pandemia, devemos ser ainda mais luzes na vida de todos, principalmente dos desfavorecidos (…) É um convite para fazermos também nós, jovens, como somos, essa escolha, isso é o nosso agora! Imediato! Dessa forma, não podemos viver uma fé apenas cultural, mas sim de convicção, de mudança de vida.”

‘ESTAR A SERVIÇO’

Na Paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus, no Setor Pastoral Tucuruvi, da Região Episcopal Santana, Danilo Garcia atuou dos 14 aos 21 anos no grupo de coroinhas. Hoje, aos 29, serve a comunidade paroquial nas pastorais da Liturgia, Juventude e Comunicação.

Estudante de Arquitetura, ele contou que, durante o período das missas sem a presença de fiéis, os jovens permaneceram unidos por meio de encontros virtuais, que trataram de música, saúde emocional e, sobretudo, da compreensão de toda a Paróquia para a necessidade de valorizar as igrejas domésticas neste momento.

Com a reabertura gradual dos espaços religiosos, ele tem contribuído para que os protocolos de segurança sejam realizados na Paróquia, como a medição da temperatura e higienização do templo para as três missas dominicais.

Danilo salientou que a maior atuação da juventude na Paróquia é, também, resultado do compromisso semeado entre os membros do grupo: “Estamos sempre junto com as pastorais sociais, liturgia, catequese. Brincamos que não somos só para carregar cadeiras, mas estamos disponíveis a ajudar todos os que precisam”.

“Como devoto de Santa Terezinha e de São Francisco, vejo que a juventude deve sempre estar a serviço, e que isso ajude essa mesma juventude a entender a sua vocação”, afirmou.

Na mesma Paróquia, Caroline Souza Gonçalves, 25, há um ano integra o grupo de jovens, e, diante da pandemia, também tem auxiliado para que as missas presenciais ocorram. Ela reiterou não ser novidade a participação e o interesse dos jovens, mas a nova dinâmica paroquial evidenciou o envolvimento e o compromisso da juventude: “Essa pandemia pôde impulsionar novas orientações. Foi uma forma de estarmos reclusos e aprofundarmos tudo o que temos feito e obter novas ideias para trabalhar diante de tudo isso. Nada é em vão, e Deus não deixa nada nem ninguém de fora”.

‘SER INSTRUMENTO DE DEUS’

Na Paróquia São João Clímaco, no Setor Anchieta da Região Episcopal Ipiranga, Lucas Diniz, 25, relembrou que, por não fazer parte do grupo de risco da COVID-19, sua colaboração na animação e como acólito nas missas aconteceu com naturalidade. Ele realçou que este período fez com que as comunidades se reinventassem.

Já a estudante de Pedagogia Nayara Oliveira, 23, contou à reportagem que participa da Paróquia desde a infância. Ela já foi coroinha, ajudou a fundar o grupo de jovens Manancial, há seis anos, e hoje atua na Pastoral da Liturgia e acólitos. Nayara se dispôs a colaborar com os protocolos de segurança, sendo uma das responsáveis pela higienização da igreja e animação das missas.

Nayara rememorou o trecho da música “Oferta”, do Missionário Shalom: “Quero ofertar minha vida, gastar os meus dias, minha juventude, por amor”, para explicar que seu desejo “sempre foi e sempre será ser instrumento de Deus para a evangelização. É de extrema felicidade e importância, para mim, poder ser instrumento de Deus e ajudar o Evangelho a chegar a todas as pessoas”, concluiu.

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