Juliano Cazarré: ‘Por que não dar chance à vida e afogar o mal com o bem?’

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Aos 43 anos de idade, o ator Juliano Cazarré é amplamente conhecido por seus papéis em telenovelas como Avenida Brasil (2012), Amor à Vida (2013), O outro lado do Paraíso (2017) e Pantanal (2022); e por suas atuações no cinema em longas-metragens como Tropa de Elite (2007), Serra Pelada (2013) e Dente por Dente (2020).

Foi no teatro, porém, há cerca de cinco anos, em meio aos preparativos para interpretar Jesus no tradicional espetáculo da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, em Pernambuco, que Cazarré se reencontrou com a fé católica, da qual havia se distanciado completamente por 20 anos, tendo inclusive se declarado ateu por algum tempo.

Este reencontro com Cristo foi uma virada de chave na vida do esposo da Letícia e pai de seis filhos: Vicente, Inácio, Gaspar, Maria Madalena, Maria Guilhermina e Estêvão. O ator passou a se aprofundar no conhecimento da fé cristã e hoje a testemunha cotidianamente, seja a pessoas mais próximas, seja em suas redes sociais, nas quais costuma fazer lives, convidando seus seguidores a rezar e ir à missa. Cazarré também se tornou um expoente pró-vida, com firmes posicionamentos contra o aborto e em defesa da família.

No início deste mês, o ator esteve na ExpoCatólica, em São Paulo, para apresentar o projeto de um curta-metragem sobre o achado da imagem de Nossa Senhora Aparecida. No estande da Arquidiocese de São Paulo, ele concedeu entrevista à jornalista Cleide Barbosa, da Rádio 9 de Julho. A seguir, leia os principais trechos. A íntegra pode ser vista no YouTube da Arquidiocese.

Você é muito conhecido por seus trabalhos na tevê e no cinema e de tempos para cá também se destaca como alguém que propaga a fé católica. Como veio esse chamado em sua vida?

Juliano Cazarré – Todo mundo que é tocado de verdade pelo amor de Jesus acaba impelido a divulgá-Lo. Eu tive uma experiência pessoal com Cristo e voltei para a Igreja Católica, da qual estava afastado havia 20 anos. Imediatamente, tive esta vontade de falar para os outros: ‘É muito fácil você sentir esse amor e receber essa consolação de Jesus. Tudo o que precisa dizer é ‘eu creio’, dar esse primeiro passo da fé, e a partir daí Deus começa a conversar com você nas situações da vida e se percebe a presença Dele em tudo’. E isso é tão bom que a pessoa acaba querendo chamar as demais para também viverem essa comunhão com Cristo. E quanto mais eu estudo, rezo, vou à missa e comungo, mais eu vejo que a nossa Igreja Católica é mesmo a Igreja de Deus.

Como este seu aprofundamento da fé acabou por incentivar o projeto ‘O Brasil de Todos os Santos’, a série documental sobre a santidade que estreou este ano pela plataforma de streaming católico Lumine?

Eu já tinha esse diálogo com a Lumine e também com a Minha Biblioteca Católica, especialmente com o Matheus Bazzo, fundador da Lumine. Um dia, ele e eu tivemos a ideia de fazer alguma coisa para falar sobre santidade no Brasil. Desde o começo, pensamos em mostrar que é possível ser santo hoje em dia, ser santo em um país como o Brasil, em grandes cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo. Todo mundo pode ser santo onde está. Você não precisa ir para a montanha, nem virar um monge recluso ou ser um padre. Você, leigo, onde está, em sua vida diária, é convidado a ser santo, a fazer tudo para a honra e glória do Senhor Jesus. E foi daí que nasceu a ideia de fazer ‘O Brasil de Todos os Santos’.

E o quanto apresentar estes exemplos em uma produção audiovisual ajuda que outras pessoas busquem uma vida de santidade?

Todos nós queremos o céu. E eu acho que é isso que Jesus veio nos dar: o céu, a vida eterna. Às vezes, nós nos esquecemos disso, falamos muito das coisas terrenas apenas, como ajudar os pobres, os hospitais, os orfanatos, os leprosários. Tudo isso a Igreja sempre fez, mas porque é tamanha a graça de Deus queacabamos tendo força para melhorar a vida aqui embaixo. Entretanto, nunca podemos esquecer que o principal é conquistar o céu, para que estejamos em comunhão com Cristo por toda a eternidade, experimentando uma felicidade que hoje nem conseguimos imaginar como será de fato. Não existem palavras para descrevê-la. Até usamos expressões como ‘felicidade eterna’, ‘paraíso’, mas vai ser muito mais do que isso. Será uma coisa muito linda um dia estar com Deus, estar com Cristo eternamente, vendo-O face a face. Imagina estar na presença de Nossa Senhora, de São José!

Aqui na ExpoCatólica você está divulgando um outro projeto ligado à fé católica. Pode falar mais a respeito?

Junto com três amigos, estou apresentando o projeto de um curta-metragem que conta a história do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida, é sobre o achado da imagem. Portanto, viemos apresentar este curta para tentar encontrar parceiros. Este projeto é como se fosse uma catedral, em que precisamos que todo mundo bote o seu tijolinho para a construirmos.

Você tem uma família maravilhosa, é casado, seis filhos, e muito tem falado sobre a defesa da vida. É algo que também faz parte dessa busca pela santidade?

Todas as vezes que eu falo de defesa da vida e contra o aborto, eu tento evitar colocar na mesma frase a Igreja. Todos sabemos que a vida é preciosa para Deus e que toda vida humana tem uma dignidade e um valor. Esse valor para a vida não é o Estado que dá, nem uma lei. Quando me posiciono contra o aborto, tento não me referir à questão religiosa, porque ela não é essencial para que alguém se posicione contra o aborto. Para isso, basta a ciência, que diz que a vida começa na concepção. Quando eu era um zigoto, eu não era outra pessoa. Dentro da barriga da minha mãe, eu, do tamanho de um grão de arroz, já era o Juliano. Nunca fui outra pessoa, nunca fui um aglomerado de células sem forma. Sempre fui eu, um DNA que nunca mais vai existir em outro alguém. Portanto, para defender a vida, só é preciso pensar cientificamente: quando começa a vida? Não é com duas semanas, nem com 12, não é no nono mês de gestação ou quando se nasce, mas desde quando alguém é concebido. Já naquele momento, Deus colocou ali uma alma imortal.

Desde a concepção e independentemente de como tenha ocorrido?

Sim. A sociedade traz essa discussão diante dos piores casos possíveis, como de crianças que engravidam com 10 anos de idade e se fala ‘Criança não tem de ser mãe’. Eu também acho que criança não tem de ser mãe. Mas, possivelmente, esta criança tem uma avó, uma mãe, que podem falar ‘olha, vamos fazer o parto com 23 semanas e se der certo, se a criança viver, eu vou criar’. Entendo, porém, que a família nem queira olhar para aquela criança que nasce, porque vai se lembrar de alguma violência que tenha ocorrido. Ok, então, entregue o bebê para adoção. O fato é: esta vida já existe, mesmo que tenha sido resultado de uma gravidez em que uma criança tenha sido abusada. O bebê vai ter de sair de dentro da barriga, não vai? Então, por que não dar a chance à vida e afogar o mal com o bem? Dar uma chance para aquela alma viver? Ninguém sabe qual é o destino daquela alma. Quantos são os depoimentos de mães que criaram os filhos após casos de estupro e hoje dizem ‘meu filho é a alegria da minha vida’. E, às vezes, é esse filho que vai cuidar dessa mãe na velhice ou tirar toda uma família da miséria. Vamos apostar na vida e deixar a criança viver. Se a mulher ou a família não querem ficar com o bebê, entreguem-no para adoção. Há tanta gente querendo adotar. Hoje, as filas de adoção são muito maiores do que o número de crianças que há para serem adotadas. Então, por que não optar pela vida?

(Edição: Daniel Gomes/O SÃO PAULO – colaborou: Fernando Arthur)

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