O livro “A Saga Desconhecida do Santo Sudário de Cristo e de sua Igreja”, publicado pela editora Lumen et Virtus, conduz o leitor a uma viagem histórica, filosófica, teológica e imagética, analisada sob a perspectiva da fé e da ciência.
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O lançamento do livro aconteceu no sábado, 19, no Museu de Arte Sacra de São Paulo (MAS). Na ocasião, o autor, Jack Brandão, proferiu uma palestra sobre o conteúdo da obra, contextualizando e aprofundando a temática do Santo Sudário. Ele é doutor em Literatura pela Universidade de São Paulo (USP), pesquisador da Arte e Literatura do período medievo ao século XVII e diretor do Centro de Estudos Imagéticos, Condes-Fotos Imago Lab.
APÓS 30 ANOS DE PESQUISA
Na obra, o autor apresenta de maneira verossimilhante a origem do tecido de linho – desde a plantação do linho no Egito, sua manufatura nos teares sírios até sua chegada a Jerusalém –, os meios empregados para salvaguardá-lo e protegê-lo dos possíveis inimigos da fé, bem como sua elevação a objeto científico, a partir da fotografia de Pio Secondo, em 1898.
O estudo publicado é fruto de 30 anos de pesquisa de um dos mais renomados estudiosos do tema no Brasil. O professor aborda um dos objetos mais estudados do século XX, o Santo Sudário de Turim.
A obra não se resume apenas a contar a trajetória da relíquia, uma vez que também aborda todo o contexto que a acompanhou, como a história da Igreja e a dos impérios pelos quais passou, em mais de 2 mil anos de Cristianismo.
O itinerário traçado pelo autor propõe aos leitores questionamentos e reflexões sobre aquilo que, realmente, conhecem da história de Jesus, bem como seu legado difundido por seus discípulos.
ROMANCE
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O gênero literário escolhido para a narrativa do livro foi o romance. O Sudário é o personagem principal de sua saga. O autor conduz o leitor não somente a uma viagem histórica sobre o Santo Sudário, mas, também, sobre o surgimento e desenvolvimento da Igreja, sua história, seus anseios e seus conflitos no interior do Império Romano e Persa.
A obra está dividida em nove capítulos com personagens históricos e outros, criados para dar fluidez à leitura. Na narrativa, o autor apresenta o após- tolo João como uma figura-chave na salvaguarda do Sudário, uma vez que o Evangelho de São João fala sobre os panos no túmulo de Jesus.
“Por exemplo, um capítulo é dedicado à história do linho, como é plantado, como se dá seu processo de fabricação na indústria têxtil da época. Outro capítulo traz a cidade de Edessa como personagem, pois, segundo as pesquisas, é o lugar para onde o Sudário foi levado”, explicou o autor.
Segundo Brandão, a priori serão seis volumes da saga: “O primeiro vai do século I ao III, que corresponde, de acordo com as minhas pesquisas e de outros pesquisadores, ao período em que o Sudário esteve escondido na cidade de Edessa; o segundo volume vai do século III ao VI, período da redescoberta do Sudário na época de Justiniano e, assim, a obra prossegue até chegar ao século XXI, com o apelo do Papa Francisco de, no início da pandemia, expor o Santo Sudário aos fiéis”, informa.
Os próximos volumes serão lançados em breve.
MAIS QUE UMA RELÍQUIA
O Santo Sudário é o pano de linho que teria envolvido o corpo de Cristo após sua crucificação, e ainda hoje intriga religiosos, cientistas e demais pesquisadores a respeito de sua veracidade.
Para alguns pesquisadores, o Sudário não passaria de uma pintura medieval; enquanto para outros, seria a verdadeira imagem de Cristo. Embora muitas pesquisas tenham surgido a respeito da relíquia, um estudo envolvendo a arte e a ciência elaborado por Brandão afirma não ser possível o tecido ser uma pintura medieval.
ARTE E CIÊNCIA
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Brandão elucidou que durante muitos anos a arte era mimética (imitação pura), ou seja, os artistas se imitavam entre si e, por outro lado, a arte era paradigmática. “Quando os artistas começam a querer pintar ou representar Jesus Crucificado, faltava-lhes o paradigma, pois Constantino, no século IV, proibiu a crucificação. Coube, então, ao artista criar aquilo
que ele achava que era a crucificação. Outro aspecto importante a ser ressaltado é que os modelos de crucificação que temos na arte não correspondem aos modelos vistos no Sudário de Turim. Pelo contrário: se o Sudário fosse uma farsa medieval como foi apregoada a partir do exame do Carbono 14, ele deveria ser a representação de um modelo preexistente, e esse modelo não existia”, destacou.
Quando se publicaram, em 1989, os resultados do teste do Carbono 14 do Sudário de Turim, muitos cientistas, agnósticos e teístas de diversas agremiações religiosas não católicas comemoraram seu resultado diante do suposto “desmascaramento” da relíquia.
Brandão mencionou que estes se esqueceram, porém, de que a história da arte, mais do que documentada há séculos, demonstra exatamente o contrário: sua confecção imagética seria inconcebível entre 1260 e 1390, período apontado como de sua provável criação.
O autor recordou que a visão se modificou a partir do século XIX por meio de uma fotografia. “Quando o fotógrafo amador Secondo Pia fotografou o Sudário, ocorreu uma descoberta incrível: a imagem que vemos quase que embaçada no pano – se transforma no que na fotografia chamamos de negativo fotográfico (cores da foto es- tão invertidas) para o que chamamos de positivo (cores originais são revela- das)”, disse o autor, ressaltando que a relação entre o Sudário de Turim e a fotografia é extremamente importante para as pesquisas no campo da ciência. Os cientistas, no final do século XIV, ficaram intrigados com essa questão. “Ao olhar para o Sudário in loco, praticamente não se vê nada; o Sudário só é visível a partir de três metros de distância”, ressaltou o professor. Brandão busca, por meio de sua pesquisa e cursos, apresentar o Santo Sudário de Turim não apenas como um objeto de cunho religioso, uma “mera” relíquia, mas como um objeto que transcende o sacro e adentra tanto o campo artístico quanto o científico.