Manter a casa limpa e organizada pode ajudar a viver melhor

Foto: U Splash

“A caridade não se faz com aquilo que sobra, mas com o que é necessário”, disse o Papa Francisco, em uma homilia na Casa Santa Marta, em novembro de 2015. Na ocasião, ele refletiu sobre o capítulo 12 do Evangelho segundo São Mateus.

A caridade cristã, uma das ações a serem vividas durante a Quaresma, sugere o desapego e a doação de alimentos, rou- pas e outros itens para pessoas que passam por situações de carência material ou vulnerabilidade.

Mas, o que doar? O Papa Francisco, na homilia citada acima, recorda uma história que aconteceu em sua diocese de origem: “Sentou-se à mesa uma mãe com três filhos; o pai estava no trabalho; estavam comendo bife à milanesa… Naquele momento, bateram à porta e um dos filhos – pequeno, 5, 6 anos, 7 anos o mais velho – vem e disse: ‘Mamãe, tem um mendigo que pede comida’. E a mãe, uma boa cristã, pergunta a eles: ‘O que vamos fazer?’. ‘Vamos dar comida, mãe…’ ‘Então, tá bom’, pega o garfo e a faca e tira metade do bife de cada um. ‘Ah, não, mãe, não! Assim não! Pega da geladeira’. A mãe responde: ‘Não! Vamos fazer três sanduíches assim!’. E as crianças aprenderam que a verdadeira caridade se dá, se faz, não do que nos sobra, mas do que nos é necessário”.

DESAPEGAR PARA MELHORAR

A organização da casa pode ser o primeiro passo para que uma pessoa verifique o que realmente é necessário e o que poderia ser doado e aproveitado da melhor forma possível.

Para Fátima Soares Ferreira da Silva, 45, que trabalha como personal organizer há mais de dez anos, as pessoas têm percebido, sempre mais, que não precisam de tantas coisas para viver e que, muito mais do que acumular objetos, roupas ou outros acessórios, é preciso manter tudo organizado e em funcionamento.

“Há pessoas que tem dois, três eletrodomésticos iguais em casa. Isso acontece porque, quando um quebra, elas imediatamente compram outro, mas não se desfazem do anterior. Às vezes, a dificuldade de se desapegar de um item quebrado, por exemplo, se dá pelo valor emocional agregado. Um presente de casamento ou um casaco comprado durante uma viagem pode se tornar um item de apego, muito mais do que ter uma função específica”, disse em entrevista à reportagem.

Ela salientou, ainda, que a organização tem que partir de uma decisão pessoal. “Quando faço consultorias, oriento as pessoas a separar caixas e ir colocando em cada uma delas os itens de acordo com a função. Se você for arrumar seu armário, por exemplo: coloque, em uma caixa, roupas que usa todos os dias ou que são úteis para você; em outra, roupas que serão destinadas para doação; numa terceira caixa, as roupas que estão rasgadas, furadas, que devem ser descartadas e não doadas e, na quarta, aquelas que você quer guardar, como a primeira roupinha do seu filho ou um cachecol que ganhou de uma pessoa querida”, explicou.

Fátima disse que, quando se trata de se desfazer das coisas, as pessoas tendem a doar itens que, em muitos casos, devem ser descartados. “As instituições de caridade e ação social, muitas vezes, precisam orientar as pessoas a lavarem as roupas antes de doar, porque muitas vezes, além de rasgadas e manchadas, as peças estão sujas”, comentou.

MENOS É MAIS

Quando optou por uma vida minimalista, Bárbara Castro, 32, viu-se em meio ao desafio de viver com menos e, no início, sentiu falta de muitas coisas com as quais estava acostumada.

“Eu não repetia roupas nem tinha o hábito de consertar algo quebrado. Mas, quando você decide viver com menos, percebe o quanto isso faz bem e passa até a ter mais tempo para fazer o que gosta. Não precisar ficar horas em frente ao espelho, pensando na melhor combinação de roupas e sapatos, por exemplo, é libertador”, afirmou.

Bárbara, que trabalha como designer em uma empresa de investimentos financeiros, disse que isso não significa, por outro lado, descuidar-se da aparência. “Pelo contrário, quando você tem menos, fica mais seletivo e até mais elegante”, continuou.

Quando diminuiu a quantidade de roupas e sapatos do armário em menos de 30% do que tinha, Bárbara assistiu a muitos vídeos e leu sobre itens essenciais, para que não precisasse comprar tudo novamente em pouco tempo. As roupas, muitas delas novas e todas em perfeito estado, foram doadas para uma instituição de caridade do bairro em que mora, na zona Sul de São Paulo.

“Além de facilitar a própria vida, você oferece a outras pessoas a oportunidade de se vestirem bem. Todo mundo ganha, não é mesmo?”, disse, ao ser perguntada sobre as consequências de sua ação.

Com menos para arrumar, a designer viu seu tempo se multiplicar, pois consegue manter tudo mais limpo e organizado. “Tudo aconteceu no momento certo e, além disso, com a pandemia e o home office, vi meu quarto, que também é ambiente de trabalho, se tornar um lugar bem melhor para viver”, enfatizou.

Fátima disse, ainda, que manter a casa limpa e organizada durante a pandemia, quando todos passam mais tempo nela, é, sem dúvida, um desafio diário. “É preciso envolver a todos numa rotina de tarefas e sempre verificar o que está a mais e poderia ser passado adiante”, insistiu.

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