Geyze Diniz: ‘Não podemos nos conformar que tantos brasileiros continuem a passar fome’

Disse em entrevista ao O SÃO PAULO, a empresária Geyze Diniz, cofundadora e presidente do conselho do Pacto Contra a Fome, que agrega instituições, pessoas e o poder público com o objetivo engajar as pessoas para acabar com a fome de maneira estrutural e permanente e reduzir o desperdício de alimentos no Brasil

Foto: Fernanda Scott

Lançado recentemente, o Pacto Contra a Fome nasceu com a missão de engajar toda a sociedade para erradicar a fome de maneira estrutural e permanente e reduzir o desperdício de alimentos. 

A meta do movimento é que até 2030 não haja ninguém passando fome no Brasil e, até 2040, todos os brasileiros estejam bem alimentados. Pesquisas recententes apontaram que, em 2022, cerca de 33 milhões de brasileiros passavam fome no Brasil, ou seja, quando a família fica dias sem comer, às vezes sem conseguir alimentar nem mesmo as crianças, estando, assim, no nível mais grave de insegurança alimentar. 

SOMAR FORÇAS

Durante a pandemia, Geyze Diniz engajou-se em ações para ajudar quem precisava. Por meio do movimento União SP, entregou 900 mil cestas básicas. Atuou, em seguida, na campanha “Panela Cheia Salva”, que em quatro meses captou o equivalente a 4 milhões de cestas básicas (virtual e física), beneficiando entidades como a Central Única das Favelas (Cufa) e a Gerando Falcões. Desde então, motivada e impactada com os números da fome e o alto índice de desperdício de alimentos, arregaçou as mangas com o intuito de transformar tal realidade. 

Geyze dedicou-se a estudar a situação. “Eu quis entender o que é a fome, o desperdício e a correlação entre eles. E, fiquei impressionada com o que vi e pesquisei. E, entendi que para grandes mudanças, eu precisava de apoio e colaboração de todos”, enfatizou.

“Não podemos nos conformar que, em pleno 2023, tantos brasileiros continuem a passar fome. É incoerente que nosso País, um dos maiores produtores e exportadores agrícolas do mundo, ainda conviva com seus patriotas em situação de fome e ladeados por tanto desperdício de alimentos”, mencionou. 

AÇÃO E TRANSFORMAÇÃO 

O Pacto Contra a Fome nasceu com o intuito de estudar e conhecer a fundo a situação a partir de pesquisas e apontar caminhos para a erradicação da fome. 

“Nós não vamos distribuir cesta básica. Vamos buscar e organizar informação, inteligência, sinergia e conexões. Vemos tantas iniciativas no terceiro setor, na área privada e no governo que não se falam. Queremos unir forças e juntos encontrar soluções reais para que caminhando juntos possamos sanar tal realidade em nossa sociedade, pois somente quando a gente se junta, conseguimos bons resultados e a mudança acontece”, ressaltou.

Segundo Geyze, o Pacto Contra a Fome quer trazer consciência para toda a comunidade, de que somos todos responsáveis: “Eu fico impressionada e não consigo entender que estamos cercados com tanta inteligência e tecnologia, em um país que produz alimentos, e que haja tanta gente com fome”.

O Pacto Contra a Fome atuará pautado em três pilares:

  • Inteligência: consolidar e fornecer conhecimento sobre a situação da fome; mensurar o impacto e construção de sinergias por meio da tecnologia. Por isso, criou-se o Hub Pacto Contra a Fome, plataforma de inteligência que pode ser acessada em https://hub.pactocontrafome.org;
  • Articulação: diálogo com o governo e a sociedade civil na busca de políticas públicas eficazes no combate a fome e desperdício de alimentos;
  • Incentivo: reconhecer iniciativas atuantes e promover novas ações envolvendo o setor privado e o mercado financeiro, mobilizando toda a sociedade para a causa.

Geyze salientou que com a colaboração de todos os brasileiros será possível cumprir as metas estabelecidas. “Mobilizados e unidos, todos juntos, conseguiremos grandes feitos e, principalmente, elevar o Brasil a um país sem fome e sem desperdício de comida”, falou.

DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS

Sobre o desperdício de alimentos, Geyze ressaltou que não há estudos com metodologia de mensuração de dados que permitam fazer um mapeamento coerente do problema no país. No entanto, com base nos dados existentes, estima-se que cerca de 55 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçadas anualmente no País, o equivalente a 30% do que é produzido. 

“Precisamos distinguir que a fome é um problema estrutural e precisa ser solucionada a partir de políticas públicas na esfera federal, estadual e municipal e com o apoio de toda a sociedade. Já o desperdício, necessita gerar um incômodo e inconformismo interior e levar a ações concretas no combate à fome, com ações, como reaproveitar os alimentos em casa. É no pouco e nas pequenas coisas que a mudança começa”, pontuou. “O Pacto Contra a Fome quer trazer consciência para toda a comunidade: somos todos responsáveis”, enfatizou. 

Geyze lembra que o desperdício de alimentos ao longo dessa cadeia de produção e consumo tem oito vezes o tamanho suficiente para matar a fome dos que não têm o que comer no Brasil. “É inadmissível e até, no mínimo, imoral, jogarmos comida no lixo sabendo que há gente com fome, num país que produz, exporta e diz, com orgulho, que é o celeiro do mundo. A fome é um problema de diversas naturezas, quanto mais a gente estuda, mais ouve especialistas, trazendo todas essas instituições para atuar de modo sistêmico e estrutural. É nesse lugar que o Pacto Contra a Fome se propõe atuar”, reforçou.

Geyze ressaltou a importância da mudança de hábitos: “Comprar e cozinhar os alimentos de forma consciente; reaproveitar os alimentos integralmente (cascas,talos); não jogar o que sobra, mas, reaproveitar em um novo prato, por exemplo, sobrou legumes, fazer uma sopa, enfim, a criatividade evita o desperdício”.

CONHEÇA O MOVIMENTO:

Site: www.pactocontrafome.org

QUEM É GEYZE DINIZ:

Geyze Diniz é conselheira da Península Participações, empresa de investimentos da família Abilio Diniz, e do Instituto Península. Também faz parte do Conselho do Instituto Verdescola, do Conselho Social da FIESP, e atua como Vice-presidente do Conselho do MASP. Formada em Economia pela Universidade Mackenzie e com MBA pela Fundação Getulio Vargas, trabalhou durante nove anos no Grupo Pão de Açúcar (GPA), sendo três anos como diretora de Planejamento Estratégico. Em 2005, ingressou no Conselho de Administração do GPA, do qual fez parte até 2013. Em paralelo, em 2006, quando também atuava como consultora do grupo, criou a marca Taeq. Em 2018, junto ao Abilio, fundou o Plenae, plataforma que compartilha conteúdos sobre bem-estar, longevidade e qualidade de vida, oferecendo dicas, reflexões, podcasts, entrevistas e pesquisas. Geyze é também cofundadora e presidente do conselho do Pacto Contra a Fome, com atuação no combate à fome e a redução do desperdício de alimentos de forma estrutural, engajando a sociedade civil e governos.

PRÊMIO PACTO CONTRA A FOME

E com o intuito de incentivar iniciativas atuantes que o Pacto Contra Fome, em cooperação com a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura)  e a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), anunciou as inscrições para a 1ª edição do Prêmio Pacto Contra a Fome, que tem como objetivo reconhecer e dar visibilidade às iniciativas que trabalham no combate à fome e/ou ao desperdício de alimentos no Brasil. 

Para participar é necessário cadastrar a iniciativa no HUB Pacto Contra a Fome e, em seguida, preencher o formulário específico do Prêmio. As inscrições estarão abertas até 10 de julho e o anúncio das seis iniciativas vencedoras será feito em outubro. 

A premiação de R$100 mil será dada a cada um dos projetos que se destacarem nas seguintes categorias: Combate à Fome, Redução ou Reversão do Desperdício de Alimentos e Promoção da Segurança Alimentar, dentro das subcategorias: assistencialista de curto prazo e estrutural permanente. 

O objetivo da premiação é priorizar, ações que respeitem, valorizem e incluam diversidades culturais, de gênero, de raça e territoriais e que busquem, principalmente, a diminuição das desigualdades sociais em que vivem as populações e comunidades tradicionais no Brasil, como povos indígenas, comunidades quilombolas, ribeirinhas, entre outras populações que se encontrem em situação de insegurança alimentar e nutricional.

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