O amor de mãe é mais forte que a depressão pós-parto

Com o devido suporte familiar e acompanhamento clínico, mulheres superam quadro depressivo e compartilham as alegrias proporcionadas pela maternidade

Kelly, alegre ao lado da filha Kimberlly, após ter superado um quadro de depressão pós-parto
Arquivo pesoal

“A Kimberlly é minha melhor companhia, minha dádiva. Deus me presenteou com uma filha amorosa. Não consigo ver minha vida sem ela e quando estou longe o coração fica apertado”.

O relato de Kelly do Nascimento, 33, personal trainer, sobre o amor pela filha, Kimberlly Maya, 3, é comum ao de muitas mulheres que vivem a dádiva da maternidade. Mas esta história tem um enredo ainda mais especial: Kelly sofreu com a depressão pós-parto e, graças à ajuda de familiares e de profissionais de saúde, superou esse momento e hoje dá testemunho de que não importa o tamanho das adversidades: o amor de mãe sempre terá a palavra final.

UMA NOVA ETAPA

Kelly conta que teve uma gestação sem maiores intercorrências. “Foi uma gravidez tranquila. E sempre tinha a certeza de um amor infinito pela minha filha”.

Entretanto, ainda durante o parto, ela começou a ter crises de choro e ansiedade. “Lembro que estava feliz com o nascimento da minha filha, mas, ao mesmo tempo, só pensava em chorar e não queria chegar perto dela”, recorda.

“Eu pensava que era ingratidão da minha parte ser presenteada por Deus com uma filha linda e saudável e ficar sofrendo sem compreender o porquê. Fui buscando entender o que estava acontecendo comigo, procurei informação e apoio”, recorda. A personal trainer, então, foi diagnosticada com depressão pós-parto e por causa dos sintomas começou o acompanhamento com uma psicóloga e fez uso de medicamentos controlados.

Ela conta que o apoio do esposo, Marciano, foi fundamental para a superação do quadro depressivo. “O período da depressão pós-parto foi difícil, mas passageiro. O apoio do meu esposo e a ajuda profissional com minha terapeuta foram fundamentais no processo de cura”, diz a mãe.

Kelly, ao olhar pelo que passou, tem a certeza de que aceitaria superar tudo novamente por amor: “Mamãe que está enfrentando isso, eu posso afirmar: não se sinta culpada ao surgirem os primeiros sintomas. Não hesite em buscar ajuda dentro de casa e ajuda profissional. A maternidade é uma bênção e representa o amor de Deus”.

Ela assegura que a maternidade transformou seu modo de ser e pensar a vida e mudou suas prioridades. “Ninguém escolhe ter uma doença. Mas, é possível superar essa fase”, reafirmou.

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

A depressão pós-parto é um transtorno que pode acometer mães até quatro semanas depois do parto. Os sintomas patológicos podem incluir humor deprimido, cansaço, insônia, irritabilidade, ansiedade excessiva, alterações de peso e apetite, dificuldade e perda de prazer nos cuidados da puérpera consigo e com o bebê.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), cerca de 25% das mães de recém-nascidos no Brasil desenvolvem a depressão pós-parto.

“É possível identificar a doença quando a mãe não está dando mais conta das coisas e evita fazer vínculo com o bebê. Outro fator é o descuido tanto da própria mãe consigo mesma quanto com a criança, o sentimento de incapacidade, choro excessivo, irritação, nervosismo e fadiga”, detalha Vanessa Pontoni Martins, 50, psicóloga.

A profissional destaca que não existe uma única causa para a depressão pós-parto, que pode ser provocada por fatores físicos (queda dos hormônios femininos, mudanças no volume de sangue, da pressão arterial, do sistema imunológico e do metabolismo); emocionais (depressão, ansiedade ou outras condições psicológicas); histórico de depressão pós-parto em uma gravidez anterior; privação de sono; sedentarismo; falta de apoio da família ou do parceiro; e até problemas na amamentação.

O tratamento da depressão pós-parto pode ser feito com acompanhamento terapêutico ou psiquiátrico e com recomendação medicamentosa. De acordo com a psicóloga, o médico ginecologista e obstetra é o profissional capaz de identificar os primeiros sinais e encaminhar a mãe para o tratamento: “É importante que os profissionais de saúde estejam atentos e possam identificar os primeiros sinais de depressão perinatal para que uma avaliação com profissional especializado possa ser realizada”, orienta Vanessa, lembrando que além do apoio psicológico especializado, o suporte social vindo dos parceiros — mães, amigos e familiares em geral — é fundamental para que essas mulheres se sintam acolhidas.

Vanessa Pontoni Martins, 50, psicóloga
Arquivo pessoal

ACOMPANHAMENTO PROFISSIONAL

A médica ginecologista e obstetra Carolina Delage frisou que mulheres que têm a Tensão Pré Menstrual (TPM) mais intensa são, geralmente, mais predispostas a ser diagnosticadas com baby blues ou depressão pós-parto.

“Isso geralmente acontece porque elas têm uma oscilação na produção hormonal na segunda fase do ciclo pós ovulação e antes de menstruar, justamente quando aparecem os sintomas de TPM. Por causa disso, terão uma ten- dência maior a ter um baby blues puerperal ou depressão pós-parto, por causa da oscilação hormonal que acontece no pós-parto quando sai a placenta que é responsável pela produção da progesterona”, destacou.

A obstetra menciona que “quando se tem esse histórico da paciente em acompanhamento, é importante estar atento aos sinais e sintomas no pós-parto, para que a mulher não se sinta desamparada e tenha uma rede de apoio profissional e familiar”.

A FÉ COMO ALIADA

Adrielli Vaccani, 33, operadora de telemarketing, é mãe do Rafael, 9, e do Luca, 7. Ela contou que após o nascimento do primeiro filho passou por um momento de profunda tristeza. “Por duas semanas, não conseguia controlar a tristeza, tinha medo de ficar sozinha e passei por constantes crises de choro. Eu me questionava: ‘Meu filho nasceu, como posso estar triste?’”

Diante desse cenário, ela recorda ter sido aconselhada pela mãe e ter intensificado a vida de fé. “Em Deus, encontrei forças e a alegria da maternidade”, afirma.

Superada a depressão pós-parto da gestação de Rafael, Adrielli voltou a engravidar. “Desta vez não tive nada. O Luca nasceu e completou a nossa família. Meu bem maior são meus filhos”, afirmou, ressaltando que os sintomas do baby blues a fortaleceram para a chegada do novo membro da família.

“Eu superei a depressão e me senti mais forte. Sabia que em nenhum momento estaria sozinha: Deus estava comigo; meu esposo, minha família estavam ali comigo, segurando minha mão, além de uma rede de apoio profissional. Costumo falar que a situação e essa fase de superação me fortaleceram como mãe e mulher”, recorda.

Por fim, Adrielli ressalta que cada gestação é especial: “Tive duas gestações, cada uma foi única, com seus desafios e alegrias, mas o maior presente é a vida que nasce e ressignifica nosso ser e existir. Ser mãe é com certeza a maior bênção que Deus me concedeu”.

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