“Despertar o espírito comunitário e cristão no povo de Deus, comprometendo, em particular, os cristãos na busca do bem comum” é um dos objetivos permanentes da Campanha da Fraternidade (CF), “uma iniciativa concreta para realizarmos ações que testemunhem um profundo arrependimento e uma verdadeira conversão, em âmbito pessoal, comunitário, eclesial e social”, conforme apontam os bispos da presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), no texto de apresentação da CF 2024.
Este ano, a campanha traz a temática da “Amizade Social” e seu texto-base aponta inúmeras situações que dificultam a plena vivência desse ideal nas relações. Entretanto, também indica caminhos para “alargar a tenda” da fraternidade humana, reforçando o lema da Campanha – “Vós sois todos irmãos e irmãs” (cf. Mt 23,8).
“Em um mundo maculado pela autorreferencialidade, que leva a enxergar o irmão como adversário, o primeiro passo para a reconstrução da fraternidade precisa ser a reconciliação – em âmbito pessoal, na família e na vizinhança, mas também em âmbito comunitário, com a opção pela paz em vez da guerra –, a começar em nossos discursos” (CF 2024, 99).
Na cerimônia de lançamento da Campanha, no dia 14, Dom Ricardo Hoepers, Secretário-geral da CNBB, exortou a ações em prol da amizade social. “Comecemos a curar as feridas em nossas casas, nas nossas famílias, nas divisões internas, nas nossas comunidades, pedindo perdão, reatando laços e vínculos que foram perdidos. Depois, vamos também para as comunidades eclesiais, fortalecer a amizade, fortalecer as nossas pastorais, a nossa comunhão com o pároco, com o bispo, com o Papa. É tempo de testemunhar esta unidade da Igreja. Nós somos católicos, vivemos em plena comunhão, e expressar isso ao mundo é um sinal de uma amizade que extrapola os muros da igreja e se torna uma amizade universal”, prosseguiu. “Vamos para a sociedade anunciar o amor, a reconciliação, a justiça, o respeito, a paz, pois Deus nos criou a todos com a mesma dignidade à sua imagem e semelhança”, enfatizou o Bispo.
Na terceira parte do texto-base da CF 2024, dos parágrafos 128 e 130, há indicativos de ações concretas em âmbito pessoal, comunitário-eclesial e social para fortalecer a amizade social. Veja a seguir algumas das atitudes que são propostas.
EM ÂMBITO PESSOAL
- Oferecer os frutos das renúncias quaresmais na Coleta Nacional da Solidariedade (dia 24/03);
- Resgatar a própria identidade e o conhecimento de si (qualidades, competências, dificuldades e faltas);
- Cultivar, por meio da oração e da reconciliação sacramental, uma espiritualidade de comunhão, uma mística do encontro, ternura e da misericórdia;
- Identificar as “nossas guerras”, falsidades, ambições, maquinações e cuidar para que estes males não cresçam e se espalhem;
- Ter uma atitude samaritana com o próximo;
- Olhar a cada pessoa com amor;
- Promover a cultura do encontro;
- Formar-se para a abertura à diversidade, ao diferente e ao contraditório;
- Dialogar sempre;
- Ser um agente de reconciliação e de paz;
- Apostar em uma educação para a liberdade e o respeito absoluto às pessoas;
- Incentivar e tornar pública a exigência do amor cristão, que acolhe a todos como Jesus, sem nada exigir em troca;
- Incentivar encontros interpessoais, reuniões de famílias e grupos de convivência, para que as pessoas experimentem e vivenciem o amor e o respeito mútuo;
- Ir ao encontro dos vizinhos, mesmo aqueles a quem ainda não conheça;
- Celebrar as conquistas e vitórias do próximo.
NA DIMENSÃO COMUNITÁRIA E ECLESIAL
- Empreender com coragem a conversão pastoral;
- Investir na mística, na espiritualidade de comunhão, fugindo de todo ativismo e individualismo, nem sempre facilmente percebidos;
- Alargar o círculo de atuação para além da própria igreja;
- Buscar os grupos extra-eclesiais que cuidam dos mais vulneráveis e com eles pensar o todo da própria ação (revisão de vida, método e agir pastoral);
- Fortalecer o ministério da escuta/pastoral da escuta;
- Lutar pela igualdade de oportunidade para todos;
- Educar para o bom uso das redes sociais, como espaços de partilha fraterna e amorosa, de crescimento, conhecimento e mútua cooperação;
- Estimular a amizade social entre sacerdotes e consagrados;
- Praticar o ecumenismo e o diálogo inter-religioso;
- Abordar, na Catequese e na pregação, a fraternidade universal, a amizade social, a solidariedade, a comunhão e o diálogo, a fim de criar e robustecer uma cultura do encontro e da partilha;
- Estabelecer e/ou fortalecer parcerias com o governo e a sociedade civil na educação e promoção dos direitos humanos para todos;
- Desmascarar, com caridade e de forma pedagógica, atitudes de ódio, exclusão e cancelamento que ocorram na comunidade;
- Ser presença de fraternidade, reconciliação e mediação de conflitos nas escolas e outros ambientes educativos, por meio do padre, dos gestores, professores e profissionais de apoio verdadeiramente comprometidos com a vida cristã;
- Fomentar espaços para a escuta das pessoas em grupos de partilha de experiências;
- Promover pequenos grupos de ajuda mútua, de solidariedade e caridade;
- Nas comunidades eclesiais missionárias, promover espaços de estudo e partilha da Doutrina Social da Igreja;
- Incentivar a participação ativa das famílias nas comunidades escolares para que estas sejam espaços de convivência pacífica e do cultivo da cultura da proximidade;
- Fortalecer o ensino religioso nas escolas públicas e privadas;
- Apoiar iniciativas de formação de professores para que sejam qualificados como mediadores de conflito por meio de práticas pedagógicas restaurativas e preventivas;
- Orientar os clérigos, religiosos, seminaristas, catequistas e agentes de pastoral para enfrentar e responder aos discursos de ódio em suas atividades diárias, de forma a coibir concepções, práticas e discursos contrários à fraternidade e à amizade social dentro da própria Igreja.
O AGIR EM SOCIEDADE
- Valorizar o voluntariado e o serviço comunitário;
- Implementar e popularizar a prática da justiça restaurativa [por meio da qual os conflitos que geram dano são solucionados de modo estruturado];
- Promover a discussão de temas como migração, preconceitos e racismo;
- Fomentar as pastorais e movimentos que cuidam dos migrantes e daqueles que estão nas “periferias existenciais”, em especial os excluídos e desprovidos de dignidade;
- Expressar condenação às experiências autoritárias e ditatoriais da atualidade;
- Apoiar as instituições públicas de denúncia de crimes de ódio e intolerância;
- Promover as instituições que cuidam da cultura da paz por meio do esporte, lazer, cultura e educação;
- Estabelecer um observatório da Amizade Social que recolha e partilhe as experiências exitosas, assim como as situações de ameaça à fraternidade;
- Incentivar atividades que conduzam ao pensamento crítico e o fortaleçam, à inteligência emocional e ao diálogo intercultural e contribuam para um ambiente social inclusivo;
- Conscientizar e formar as pessoas para o bom uso dos recursos digitais, especialmente as redes sociais;
- Fomentar e incentivar as redes de comunicação popular e comunitárias.
Amém!