Nesta oração, ‘Maria, santuário do Espírito Santo (cf. Lc 1,35), ao ser suplicada por nós, apresenta-se em nosso favor diante do Pai’, afirma São João Paulo II
Diante das crescentes situações de conflito em diferentes partes do mundo, o Papa Francisco tem pedido aos cristãos constância na récita do Rosário. “Exorto a rezarem o Rosário todos os dias, abandonando-se com confiança nas mãos de Maria. A ela, mãe carinhosa, confiamos o sofrimento e o desejo de paz das populações que sofrem a loucura da guerra, em particular a martirizada Ucrânia, Palestina, Israel, Mianmar e Sudão”, disse o Pontífice na audiência geral do dia 9 deste mês.
Rezar para que a Virgem Maria interceda junto a Deus é uma prática da Igreja desde o começo do Cristianismo. A forma atual do Rosário foi fixada por São Pio V, no século XVI, que incluiu no calendário litúrgico da Ordem de São Domingos a Festa de Nossa Senhora do Rosário, a qual foi estendida a toda a Igreja pelo Papa Clemente XI em 7 de outubro de 1716.
Os 4 Mistérios
De modo sucinto, a récita do Rosário ou do Santo Terço, como é popularmente conhecido, proporciona a meditação dos mistérios da Vida, Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. A cada dia da semana é recomendada a reza de um conjunto de mistérios: os gozosos (às segundas-feiras e sábados), os dolorosos (às terças e sextas-feiras), os gloriosos (às quartas-feiras e domingos) e os luminosos (às quintas-feiras), estes últimos acrescidos por São João Paulo II no ano de 2002.
Os mistérios gozosos contemplam a Anunciação do Anjo à Virgem Maria; a visitação da Virgem Maria a Isabel; o nascimento de Cristo; Sua apresentação no templo; e Sua perda e posterior reencontro.
Já os mistérios dolorosos recordam a Oração do Senhor no Horto das Oliveiras; Sua flagelação; a coroação de espinhos; o caminho do calvário; e Sua crucifixão e morte.
Os mistérios gloriosos, por sua vez, remetem à Ressurreição do Senhor; Sua Ascensão; a vinda do Espírito Santo; a Assunção de Maria; e a Coroação da Mãe de Deus.
Por fim, os mistérios luminosos lembram o Batismo de Jesus no Rio Jordão; a autorrevelação nas bodas de Caná; o anúncio do Reino e o convite à conversão; a Transfiguração; e a instituição da Eucaristia.
Quem faz o Rosário completo terá como que oferecido 200 rosas a Nossa Senhora, com 200 Ave-Marias, já que, somados, há 20 mistérios e para cada um deles é recitado um Pai Nosso, dez Ave-Marias e um Glória ao Pai.
Contemplar Cristo com Maria
Na carta apostólica Rosarium Virginis Mariae (RMV), São João Paulo II lembra que o Rosário é uma “oração de grande significado e destinada a produzir frutos de santidade… [e que] na sobriedade dos seus elementos, concentra a profundidade de toda a mensagem evangélica, da qual é quase um compêndio. Nele ecoa a oração de Maria, o seu perene Magnificat pela obra da Encarnação redentora iniciada no seu ventre virginal. Com ele, o povo cristão frequenta a escola de Maria, para deixar-se introduzir na contemplação da beleza do rosto de Cristo e na experiência da profundidade do seu amor” (RVM 1).
O Pontífice também indica que “o Rosário é, ao mesmo tempo, meditação e súplica. A imploração insistente da Mãe de Deus apoia-se na confiança de que a sua materna intercessão tudo pode no coração do Filho… No Rosário, Maria, santuário do Espírito Santo (cf. Lc 1,35), ao ser suplicada por nós, apresenta-se em nosso favor diante do Pai que a cumulou de graça e do Filho nascido das suas entranhas, pedindo conosco e por nós” (RMV 16).
A força do Rosário para a paz
São João Paulo II também indica que o Rosário permite “mergulhar na contemplação do mistério Daquele que ‘é a nossa paz’, tendo feito ‘de dois povos um só’, destruindo o muro da inimizade que os separava’ (Ef 2,14). Portanto não se pode recitar o Rosário sem sentir-se chamado a um preciso compromisso de serviço à paz” (RMV 6).
Ainda de acordo com o Pontífice, “quem assimila o mistério de Cristo – e o Rosário visa a isto mesmo – apreende o segredo da paz e dele faz um projeto de vida. Além disso, devido ao seu caráter meditativo com a serena sucessão das ‘Ave-Marias’, exerce uma ação pacificadora sobre quem o reza, predispondo-o a receber e experimentar no mais fundo de si mesmo e a espalhar ao seu redor aquela paz verdadeira que é um dom especial do Ressuscitado (cf. Jo 14, 27; 20,21)” (RMV 40).
A contemplação que ilumina o mistério do homem
São João Paulo II também lembra que ao recitar o Rosário, o fiel percorre todas as etapas da vida de Cristo e extrai muitos aprendizados.
“Contemplando o Seu nascimento, aprende a sacralidade da vida; olhando para a casa de Nazaré, aprende a verdade originária da família segundo o desígnio de Deus; escutando o Mestre nos mistérios da vida pública, recebe a luz para entrar no Reino de Deus; e seguindo-O no caminho para o Calvário, aprende o sentido da dor salvífica. Contemplando, enfim, a Cristo e sua Mãe na glória, vê a meta para a qual cada um de nós é chamado, caso se deixe curar e transfigurar pelo Espírito Santo. Pode-se dizer, portanto, que cada mistério do Rosário, bem meditado, ilumina o mistério do homem” (RVM 25).
Oração da família e pela família
O Papa polonês lembra, ainda, que “o Rosário foi desde sempre também a oração da família e pela família… presta-se de modo particular a ser uma oração na qual a família se encontra. Os seus diversos membros, precisamente ao fixarem o olhar em Jesus, recuperam também a capacidade de se olharem sempre de novo, olhos nos olhos, para comunicarem, solidarizarem-se, perdoarem-se mutuamente, recomeçarem com um pacto de amor renovado pelo Espírito de Deus” (RMV 41).
Por fim, ele orienta que os pais rezem o Rosário pelos filhos e com os filhos (cf. RMV 42) e a todos exorta: “Retomai confiadamente nas mãos o terço do Rosário, fazendo a sua descoberta à luz da Escritura, de harmonia com a Liturgia, no contexto da vida cotidiana” (RMV 43).
A oração predileta dos santos e beatos
São inumeráveis os relatos de santos e beatos que difundiram a oração do Rosário. São Luís Maria Grignion de Montfort (1673-1716), por exemplo, que compôs a meditação dos mistérios, dizia que “o Rosário é manancial de maravilhosos frutos e depósito de toda espécie de bens”.
No livro “O Rosário – a oração amada pelos santos” (Paulinas Editora), as religiosas paulinas Ana Paula Ramalho e Rosa Maria Ramalho apresentam a reflexão dos mistérios do Rosário e como foram vivenciados por santos e beatos.
O Beato Carlo Acutis (1991-2006), por exemplo, afirmava que “O Rosário é a escada mais curta para subir ao céu”. Já Santa Teresinha do Menino de Jesus (1873-1897) assegurava que “enquanto o Rosário for rezado, Deus não poderá abandonar o mundo, pois essa oração é poderosa em seu coração”. E Santa Teresa de Calcutá (1910-1997) orientava: “Apegue-se ao Rosário como as folhas de hera se agarram na árvore; porque sem Nossa Senhora não podemos permanecer”.
“Os santos, por sua relação de intimidade com Deus, certamente encontraram no Rosário um itinerário de encontro com Ele, segundo estas duas vias: a simplicidade e a profundidade. Com um diferencial: acompanhados por Maria à qual os santos sempre foram devotos”, avaliou Irmã Rosa ao O SÃO PAULO, destacando, ainda, que quem contempla os mistérios do Rosário coloca-se na escola de seguimento de Jesus. “Não existe santidade sem termos como estilo de vida aquele de Jesus, e só aprendemos este estilo contemplando o Evangelho”, concluiu.
SAIBA MAIS SOBRE OS MISTÉRIOS DO ROSÁRIO
(Com informações de Vatican.va, Academia Marial e Paulinas)