Neste Dia Internacional da Biodiversidade, 22 de maio, a sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) recebeu a abertura oficial da Semana Laudato Si’ no país. A cerimônia teve a participação de autoridades religiosas e políticas, como o secretário-geral da CNBB, dom Ricardo Hoepers; a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva; e o núncio apostólico no Brasil, dom Giambattista Diquattro, além de representantes das organizações que dinamizam as atividades da semana.
Em sua fala, o bispo de Rio Grande (RS) e secretário-geral da CNBB, dom Ricardo Hoepers, recordou o tema proposto para a semana e manifestou o desejo de que “sejamos unidos e perseverantes no bom propósito de garantir que a Terra, a Humanidade e a Esperança nunca sejam separadas”.
Dom Ricardo abriu a série de partilhas durante o evento e o fez recordando o canto de São Francisco de Assis que inspirou o título da encíclica do Papa Francisco sobre o cuidado da casa comum. Laudato Si’, louvado sejas, é o ponto de partida do documento que completa oito anos em 2023 e que, segundo dom Ricardo, “retoma com força os valores da Doutrina Social da Igreja e impactou o mundo com as propostas da Ecologia Integral e do cuidado da Casa Comum”.
O secretário-geral da CNBB louvou a Deus pela “esperança que nos move, para agirmos incansavelmente no cuidado da terra e garantir o futuro da humanidade”; pelos que assumiram o compromisso de savaguardar a terra; pelos que trabalham pela consolidação do cuidado da casa comum no mundo inteiro. Ele também citou os trabalhos das instâncias da Igreja que acedem esperança e iluminam “o caminho de um planeta viável para as futuras gerações” e homenageou as comunidades que, no anonimato, realizam trabalhos de sustentabilidade em várias regiões do Brasil.
Os Povos indígenas e a união de esforços
O representante do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente no Brasil, Gustavo Mañez, situou em sua fala o momento em que a Terra enfrenta devido à forma de manejo do recursos naturais, à poluição, às emissões e à perda da biodiversidade. Mañez citou as diversas ações realizadas pela ONU como o estabelecimento de acordos internacionais com metas para proteção do meio ambiente. Para ele, os povos indígenas e seu conhecimento não são passado, mas “futuro”.
“O que a ciência nos está a dizer quando nos fala de conservação dos recursos naturais: é que eles [povos indígenas] tem feito isso durante toda a história . E isso, combinado com a tecnologia, vai ser a nossa salvação. Mas temos que tomar ação imediata. É por isso que essa campanha Laudato Si’ é tão importante, porque é a união de todas as nossas ações que, apoiadas junto com as políticas públicas, pode causar impactos. Só tocando os valores que podemos tocar as ações, por isso que os fóruns religiosos podem, verdadeiramente, junto com a política mudar o comportamento das pessoas”, disse Gustavo.
Luta coletiva e o bem de todos
O cacique Dadá Borari, da Terra Indígena Maró, em Santarém (PA), foi um dos participantes do filme “A Carta”, baseado na encíclica Laudato Si’. Ele reforçou a ideia de que “a luta coletiva é para o bem-estar de todos”. Para ele, quando as lutas se fecham em grupos, não se está lutando pelo bem-estar de todos. É nesse sentido que ele articula com seu povo e em outras instâncias a preservação da Amazônia.
“Para a Amazônia ser cuidada e preservada, ela não depende somente do indígena e somente de quem está morando lá, ela depende de cada um de nós. E cada um de nós deveremos ter uma responsabilidade que é passar essa informação nos nossos locais de trabalho e em nossos locais onde nós vivemos”, convidou.
Amar a Deus e cuidar da criação
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, agradeceu em sua fala pela figura do Papa Francisco, que é “preocupado em amar o criador sem esquecer da criação”, frente à realidade na qual se vê a incoerência entre dizer amar a Deus e destruir a criação. Suas publicações e iniciativas, segundo a ministra, fazem parte do chamado da Igreja para que se cuide da criação.
Marina partilhou alguns versículos bíblicos que fazem parte de sua espiritualidade e que traduzem o convite de Deus para cuidar da criação. Ela agradeceu a oportunidade de ser ministra pela terceira vez e continuar a cuidar da biodiversidade. Comentou ainda da dificuldade de desintrusão das terras indígenas, por exemplo, e que as ações de cuidado do meio ambiente não são suficientes só com o Estado, precisando do apoio de toda a sociedade.
“Estamos no momento em que mudou o entendimento sobre biodiversidade. A gente achava que os recursos naturais eram infinitos. E não são, são finitos. E se mudou o entendimento, então vamos cuidar daquilo que é finito. Se mudou o entendimento de que jogar CO2 na atmosfera pelo uso do carvão, do petróleo, do gás aquece o planeta e pode destruir a vida na terra, vamos buscar alternativas que não são fáceis, mas a gente tem que buscar, porque a nossa prioridade é a vida”, disse Marina que também destacou a necessidade de aglutinar as diferenças para o cuidado da biodiversidade.
Compromisso eclesial
O núncio apostólico no Brasil, dom Giambatistta Diquattro, recordou a reflexão proposta pela Laudato Si’ sobre “que tipo de mundo queremos transmitir às gerações futuras”. Ele ressaltou que a questão ecológica não é uma questão ideológica ou técnica, mas “algo urgente que se coloca à nossa humanidade”.
“A perspectiva desse compromisso eclesial não se limita exclusivamente ao fenômeno da mudança climática, que também é muito importante. O compromisso da Igreja é um compromisso social em todos os âmbitos”, disse dom Giambattista. A perscpetiva, continuou, “é holística, global, ampla, o universo visto como um lugar onde a multiplicidade e a variedade se encontram e onde tudo está em relação unidos por laços indivisíveis e conexos. O mundo é uma rede de relações”.
O núncio apostólico no Brasil ressaltou que a Igreja está atenta ao grito da Terra e dos pobres e empenhada em salvaguardar a ecologia integral.
Quem também destacou a encíclica Laudato Si’ foi a secretária executiva da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam-Brasil), irmã Irene Lopes dos Santos. Ela recordou os oito anos do documento do Papa Francisco e recordou que o texto iluminou iniciativas da Repam e da Igreja na Amazônia.
A cerimônia foi encerrada com a música “Casa Comum”, interpretada por seu autor, o bispo de Livramento de Nossa Senhora (BA), dom Vicente de Paula Ferreira. Nesta terça-feira, dentro da programação da Semana Laudato Si’, dom Vicente lança o livro “Arquitetura da Impunidade”, na Universidade de Brasília.