Solidários e criativos, eles ajudam a vencer os desafios da educação no Brasil

O SÃO PAULO apresenta três iniciativas de voluntariado em diferentes partes do país que aproximam os jovens do sonho de cursar uma universidade; levam adultos a serem alfabetizados e estudantes da rede pública a não desistirem dos estudos

Tânia Rêgo/Agência Brasil

Nos dois próximos domingos, dias 5 e 12, mais de 3,9 milhões de pessoas realizarão o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Deste total, 48,2% – cerca de 1,8 milhão – já concluíram o ciclo da educação básica e 35,6% – 1,4 milhão de pessoas – o farão este ano, ao terminar o 3º ano do ensino médio.

A nota que obtiverem na prova do Enem poderá ser parcial ou integralmente usada para o ingresso em uma faculdade, a depender da instituição de ensino, mas estes brasileiros já venceram uma grande barreira: a evasão escolar. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Educação de 2022 apontam que 40% dos jovens interromperam os estudos para trabalhar; e um estudo realizado pelo Ipec, a pedido do Unicef, revela que 2 milhões de meninas e meninos de 11 a 19 anos deixaram a escola antes de terminar a educação básica.

Diante desta realidade, muitas são as iniciativas da sociedade civil com vistas a conter a evasão escolar, e melhorar o acesso e a qualidade da Educação no Brasil, como estas que O SÃO PAULO apresenta a seguir.

40 MIL ESTUDANTES NO CAMINHO DA UNIVERSIDADE

Arquivo Pessoal

Auxiliar estudantes da rede pública na escolha profissional e com os conteúdos que serão necessários ao longo do percurso rumo à universidade é a missão do projeto “Salvaguarda”, idealizado por Vinicius de Andrade, estudante de Economia na Universidade de São Paulo (USP), campus Ribeirão Preto (SP).

De família de baixa renda, Vinícius estudou em escola pública e sempre ouvia dos pais que precisava se preocupar com o trabalho, pois não teriam dinheiro para arcar com uma faculdade privada. “Essa realidade me motivou a estudar e buscar o conhecimento para alcançar o sonho de cursar Economia”, afirmou.

O “Salvaguarda” surgiu durante a pandemia e já ajudou mais de 40 mil estudantes. A iniciativa tem a colaboração de aproximadamente 5 mil voluntários entre professores e alunos de 154 universidades. Mais de 1,2 mil alunos já foram aprovados em cursos federais.

“O projeto oferece um conjunto de funcionalidades que promovem a interação direta entre os estudantes e todas as universidades públicas do País, por meio de nosso time de voluntários com membros que estão em todas elas. Nossa metodologia tem três pilares: motivação, conteúdo e informação”, explicou o idealizador.

No “Salvaguarda”, os estudantes do ensino médio podem acessar os conteúdos para estudo, tirar dúvidas com professores voluntários e solicitar apoio de um monitor. Para participar, o único critério é ter concluído ou estar cursando o ensino médio em escola pública. As inscrições e os conteúdos são gratuitos e podem ser feitos on-line por meio de um link disponibilizado nas redes sociais do projeto.

Vinicius de Andrade ressaltou que o ano de 2022 foi de grandes conquistas para o “Salvaguarda” e que em 2023 o projeto recebeu inscrições de 11.921 estudantes, de 1.557 cidades brasileiras, ou seja, de quase 1/3 dos municípios do Brasil.

Saiba mais em: https://programasalvaguarda.com.br.

‘DISTANTE SIM, DESCONECTADO NÃO’

Maria Creuza Cavalcante, 50, tem seis filhos. Na infância, não pôde estudar, pois precisava ajudar os pais na agricultura. Até 2021, apenas ‘rabiscava’ seu nome quando precisava assinar algum documento.

Em Cabrobó (PE), a professora de português Elineide Alves dos Santos Fernandes, 39, identificou que muitas mães dos estudantes da Escola Municipal Evandro Ferreira dos Santos não estavam alfabetiza- das – como Maria Creuza – ou eram semi-alfabetizadas. Diante disso, a professora passou a oferecer aulas às mães por meio do projeto “Distante sim, desconectado não”.

“A iniciativa nasce com a missão de lembrar que sempre é tempo de aprender, independentemente da idade e da distância”, afirmou Elineide.

“Na pandemia, identificamos a baixa participação dos alunos nas aulas remotas. Ao fazer contato com as mães, percebemos que a dificuldade dos alunos era, em muitos casos, que as mães também não conseguiam ajudá-los nas lições, pois elas não sabiam ler e ou escrever”, recordou.

“Nosso intuito é ensinar a leitura e a escrita a partir da realidade do dia a dia de cada uma, das dificuldades que enfrentam em casa. Com as aulas para as mães, vimos que cresceu a motivação dos filhos na participação nas aulas e no aprendizado”, conta a educadora.

O projeto já alfabetizou cerca de cem mães. Atualmente, uma turma de 20 mulheres está em sala de aula. “Hoje eu sei ler e escrever. Participar do projeto me trouxe um novo sentido para a vida. Quando pego um livro ou leio as etiquetas no supermercado ou lojas, isso me enche de orgulho”, disse Maria Creuza, mãe do Juliano, 12, do 6° ano da escola municipal em que Elineide é professora.

UMA AÇÃO CONTRA A EVASÃO ESCOLAR NO SEMI-ÁRIDO

O projeto ‘Educar Nestante’ é uma iniciativa do Instituto Ubíqua, desenvolvida na pandemia para ajudar alunos e professores no aprendizado em escolas da zona rural do semiárido piauiense, onde muitos estudantes têm dificuldades de acesso à internet.

Jessé Barbosa da Silva, coordenador do projeto, destacou à reportagem que o método trouxe uma diminuição significativa da evasão escolar: “O acesso ao conteúdo, feito de modo on-line ou off-line, motivou os estudantes a não desistir da sala de aula. Nosso projeto atende as demandas da educação formal nas escolas e também em cursos profissionalizantes, capacitando os jovens ao mercado de trabalho”.

Segundo o coordenador, o projeto já atendeu mais de mil jovens por meio dos cursos profissionalizantes gratuitos. Além disso, a plataforma torna as aulas mais participativas, pois o aluno consegue organizar os horários de estudo e melhorar seu desempenho.

“Com a plataforma, o professor acompanha e registra a evolução do aluno. A metodologia estabelece que o aluno precisa estudar antes da aula, para que a sala de aula deixe de ser para repassar conteúdo e passe a ser um momento para discutir, tirar dúvidas e construir novos conteúdos”, explicou Fábio Medeiros, professor da Escola São Sebastião, em Tanque do Piauí (PI).

Joaquim Guilherme Leal, cursa o 3° ano do ensino médio nesta escola. “O projeto veio para revolucionar o ensino, facilitou a aprendizagem e o acesso ao conteúdo, uma vez que também funciona de forma off-line e posso acessá-lo com facilidade”, afirmou o estudante, que sonha em cursar Engenharia ou Arquitetura.

Saiba mais em: https://www.nestante.com.br/educ

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