‘Tirei força de onde não tinha’, diz Isaquias Queiroz, prata em Paris 2024

Com a conquista na prova do C1 1.000 metros da canoagem velocidade, ele igualou a quantidade de medalhas olímpicas de Robert Scheidt e Torben Grael da vela

Foto: COB

A decepção por ter ficado de fora do pódio na final do C2 1.000 metros da canoagem velocidade ao lado de Jack Goodman, na quinta-feira, 8, parecia que iria pesar sobre o desempenho de Isaquias Queiroz na final do C1 1.000 metros, na sexta-feira, 9.

Na passagem da marca dos 250 metros, ele era o quarto colocado, e metros depois caiu à quinta posição. Mas o brasileiro tinha muitas motivações para reagir: a busca de sua quinta medalha olímpica certamente era uma delas, mas talvez festejar mais um pódio, desta vez com a família completa – a esposa e os dois filhos – nas arquibancadas fosse a força extra determinante.

Isaquias cresceu vertiginosamente de desempenho na última parte da prova, remou ainda mais forte para ultrapassar três adversários e, assim, conquistau a medalha de prata, com o tempo de 3:44:33, atrás apenas do tcheco Martin Fuksa, ouro, com 3:43:16. A medalha de bronze ficou com Serghei Tarnovschi, da Moldávia, com 3:44:68.

“Essa medalha de prata tem um gosto de ouro para mim, porque eu estava muito atrás na prova. Eu tirei força de onde não tinha. Decidi arriscar tudo, fui subindo, subindo, e quando cheguei nos últimos 100 metros, falei para mim mesmo que, se passasse o Petrov [que terminou em 5ª lugar], eu estaria com medalha. E, quando passei, percebi que também estava à frente do Tarnovschi. Aí foi só segurar até o final,” comemorou Isaquias após a confirmação da medalha.

“No finalzinho da prova, eu lembrei que meu filho pediu a medalha de ouro. A de ouro não deu, mas fico feliz de poder subir ao pódio e agora vou entregar essa medalha para ele. Esse é o meu presente para todo mundo do Brasil. Muito obrigado por acreditar em mim. Sou muito grato a todos pelo reconhecimento. Hoje o Brasil inteiro sabe o que é a canoagem de velocidade”, afirmou o multimedalhista olímpico da canoagem.

Ao lado dos velejadores Robert Scheidt e Torben Grael, Isaquias está entre os maiores medalhistas olímpicos do Brasil, com cinco pódios: além desta prata em Paris, ele foi ouro no C1 1.000 metros em Tóquio 2020, prata nesta mesma prova nos Jogos Rio 2016, quando também foi prata no C2 500 metros e bronze no C1 200 metros. Os três só possuem menos medalhas olímpicas do que Rebeca Andrade, da ginástica artística, que foi a seis pódios em duas edições olímpicas.

COM APOIO DA FAMÍLIA E DO TREINADOR

Isaquias revelou que a conquista da prata em Paris lhe trouxe um misto de alívio e de felicidade: “Não foi um ano fácil para mim e para minha esposa. O ano de 2023 foi diferente e especial, quando eu percebi o que não é ser campeão mundial e super atleta. E sim ser um humano com problemas físicos e psicológicos. Tive que me remontar. Tive que correr muito para ficar em forma. Não é fácil ficar fora de pódios”, contou. “Mas temos que aceitar quando perdemos. Não significa que somos ruins, e sim que eles foram melhores. Ganha quem tem a unha maior”, concluiu.

Nascido em Ubaitaba, na Bahia, localidade cujo nome em tupi-guarani significa “cidade das canoas”, Isaquias vem de família humilde. O pai faleceu ainda quando ele era criança, e a mãe, Dilma, teve que criar os nove filhos sozinha, trabalhando como servente na rodoviária da cidade. 

Com apenas três anos de idade, uma panela de água fervente virou sobre Isaquias, que ficou um mês internado, com queimaduras em diversas partes do corpo. Sem se recuperar a ponto de conseguir alta do hospital, Dona Dilma assinou um termo de responsabilidade, o levou para casa e cuidou dele até a recuperação.

Aos 10 anos, Isaquias caiu de costas em cima de uma pedra após subir em uma mangueira. Com a pancada, lesionou um dos rins e precisou passar por cirurgia para o retirada do órgão.


Ainda na adolescência. Isaquias começou a participar do projeto Segundo Tempo, que oferecia prática esportiva para crianças e adolescentes de Ubaitaba. Chegou a seleção brasileira e desde os Jogos Rio 2016 é uma referência da canoagem do Brasil.

“Agora, é continuar o trabalho, não só para mim, mas também para a nova geração de atletas como o Mateus, o Lucas, e tantos outros que estão vindo com força. O que o Lauro Pinda [treinador da seleção] está fazendo vai além de mim, e tenho certeza que teremos ainda mais conquistas pela frente”, destacou.

“Quando eu fui para a cerimônia de medalhas, eu estava super feliz, pulando de alegria, mas teve um momento antes de receber a medalha que eu desabei, comecei a chorar. O que me emocionou foi ver a bancada lotada de brasileiros”, declarou.

Lauro Pinda enalteceu a medalha de prata conquistada por Isaquias Queiroz, considerando o ciclo olímpico que a equipe enfrentou: “Foi um ciclo muito pesado. Em um momento deste ciclo, ele sentiu um pouco e tivemos que dar um passo para trás. No Mundial do ano passado, não conseguimos fazer do jeito que gostamos, mas conseguimos dar a volta por cima, graças à ao nível de atleta que o Isaquias é”.

“Temos um atleta que, até hoje, não falhou em nenhuma. Três Olimpíadas, três medalhas, e isso tem que ser valorizado”, concluiu o treinador.

(Com informações do COB e da Confederação Brasileira de Canoagem)

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