Todos Somos Hum

Três amigas mostram a força da solidariedade, em projeto desenvolvido em favor das pessoas em situação de vulnerabilidade social, amplificada com a pandemia de COVID-19

Edmilson Fernandes
ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Adriana Wey, Carla Liba e Márcia Regina Santos Brito são amigas e procuradoras federais em São Paulo. Em maio, Adriana teve a ideia de lançar no grupo de WhatsApp dos amigos de happy hour um pedido de contribuição para comprar kits de higiene para pessoas em situação de rua. Uma semana antes, Márcia já tinha feito uma campanha de arrecadação para a Paróquia Sant’Ana e para a Paróquia São Domingos Sávio, onde ela atua, na zona norte da Capital Paulista.

Animadas com a generosidade dos amigos, elas convidaram Carla, que já tinha um trabalho de amparo a vulneráveis de rua nas madrugadas, e criaram o grupo Todos Somos Um.

Dias depois, o grupo mudaria de nome, por acaso, após uma ação para ajudar a Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo.

Padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua

Na carta de agradecimento, o Padre Júlio Lancelotti, Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua, escreveu Todos Somos Hum, com H. “Nós gostamos tanto que mudamos o nome. ‘Todos somos humanos’, conta Márcia ao O SÃO PAULO.

Auxiliar os que querem ajudar, mas não podem

Em três meses, o Todos Somos Hum já contribuiu com dezenas de entidades e pessoas necessitadas de São Paulo e de outros Estados. Somente em julho, foram 33 ações, que beneficiaram grupos como o Treino na Laje, o Projeto Formigueiro, a Corrente Amigos do Bem, o Instituto Simplesmente Amor, a Casa do Betinho, o projeto Argilando, o Hospital da Criança com Câncer, aldeias indígenas, a União Amazônia Viva e pessoas individualmente. “Ajudamos quatro criancinhas de Manaus, Brasília, Santa Catarina e São Paulo que sofrem de atrofia muscular espinhal (AME)”.

Crianças atendidas pela Casa do Betinho, que também contou com a colaboração do grupo
Iniciativa auxilia o projeto assistencial da Paróquia São Domingos Sávio para a compra e distribuição de fraldas

Prestação de contas e o testemunho dos beneficiados

As arrecadações do Todos Somos Hum é feita pelo grupo do WhatsApp, que hoje tem 230 membros. Cerca de 85% deles são advogados e procuradores. A cota mínima de doação é de R$ 50,00, mas cada membro pode dar quanto quiser acima disso. Depois de prestar contas, elas postam no grupo todas as ações realizadas – com recibo, carta ou vídeo de agradecimento, fotos e links da entidade beneficiada.

Auxiliou com um terço do valor da reinstalação do sistema hídrico da comunidade indígena Tekoa Itakupe, do Pico do Jaraguá, destruído por um incêndio
Doação ao projeto das Professoras da Escola Municipal Marcos Mélega, no Lauzane Paulista. Elas montam cestas básicas para as famílias de alunos carentes

O que o grupo representa na vida de cada uma:

ADRIANA WEY

A pandemia nos mostrou o quanto somos frágeis e quanto é necessário que cuidemos de nós mesmos e do próximo, pelo bem de toda a humanidade. Mostrou que não adianta uma parcela da sociedade estar bem e protegida, enquanto outros irmãos estão em estado de vulnerabilidade, à mercê da própria sorte.

E nesse momento difícil que estamos passando, as diferenças sociais ficaram mais evidentes, escancarando o fato de que, realmente, nem todas as pessoas possuem as mesmas oportunidades.

Assim, nesse espírito de empatia e até de obrigação social, surgiu o grupo Todos Somos Hum, o qual nos trouxe muitas alegrias, pois é uma oportunidade de nos sentirmos presentes e participativos.  

Sem dúvida, ajudamos os mais necessitados. Mas, em última análise, ajudamos a nós mesmos, uma vez que participar de uma comunidade solidária nos traz a esperança de um futuro mais fraterno.

CARLA LIBA

Eu sempre tentei ter um olhar e alguma atuação em prol de grupos de pessoas vulneráveis, mesmo antes da pandemia.  Há tantas formas de ajuda, mas nem sempre a motivação é puramente altruísta, pois quem se doa de alguma forma recebe muito mais do que quem é assistido. Com a pandemia, o número de pessoas vulneráveis aumentou expressivamente. Como é notório, nosso Governo foi extremamente inábil para lidar com a crise em todos os níveis. Com a economia desmantelada, dança das cadeiras nas pastas ministeriais essenciais e auxílio emergencial insuficiente, começaram a surgir muitas iniciativas privadas de solidariedade. E o nosso grupo nasce dentro desse contexto.

O que fizemos não foi nada além do que reunir várias pessoas em prol dessa grande “corrente do bem”. E nesse caminho, acabamos nos deparando com carências que sequer sabíamos que existiam. São muitos excluídos socialmente, embora a sensação de pertencimento seja essencial a todo ser humano. O que foi o mais gratificante nessa experiência pra mim é saber que o bem se propaga. Que brasileiro é uma raça forte e solidária. Que nosso povo não se abate. E que a União, de fato, faz a força!

MÁRCIA SANTOS BRITO

O grupo representa solidariedade pura. Quando você finaliza uma ação e percebe que conseguiu pegar um pouquinho de cada um e ajudar tanta gente que nada tem, enche o nosso coração. O grupo veio reafirmar que só somos felizes de verdade e a vida só tem sentido se a gente se importa com o outro.

PLANOS

O Todos Somos Hum é um grupo temporário. Foi criado para ajudar pessoas afetadas pela pandemia durante três meses. A última arrecadação no formato atual será agora em agosto. Nos próximos meses, a arrecadação será feita apenas entre amigos e todas as ações serão postadas no Instagram. Mas a ideia da procuradora Márcia é reativar o grande grupo de WhatsApp em dezembro, para ajudar no Natal de crianças e entidades necessitadas.

Para saber mais veja a página do grupo no Instagram: @todossomoshum

Sobre o autor do texto: Edmilson Fernandes é jornalista, coordenador da Pascom da Paróquia São Pedro Apóstolo, do bairro do Tremembé, em São Paulo. Também trabalha na Rádio CBN, onde é chefe de reportagem e editor.

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