O nascimento da neta mudou a vida de Socorro Lima, de Manaus (AM), e a história de outra criança de São Paulo a motivou para uma boa ação, mesmo após sofrer uma injustiça
Não há quem nunca tenha ouvido falar que a chegada de uma criança muda a percepção das pessoas sobre a vida. E isso Maria do Socorro Lima Nascimento, 51, moradora de Manaus (AM), pode testemunhar.
Em 2013, ela aguardava ansiosamente pelo nascimento da neta, Maria Júlia, que veio ao mundo perto do sétimo mês de gestação. A menina precisaria, portanto, permanecer na UTI neonatal, porém não havia leito disponível no hospital.
“Eu estava com meu Terço na mão e um médico passou por mim. Eu lhe perguntei como faríamos, e ele me disse: ‘A melhor “arma” está aí na sua mão! Ore!’ Naquele momento, eu consagrei a minha neta a Nossa Senhora. Depois de um tempo, ele voltou e disse que haviam conseguido uma vaga em uma UTI de outro hospital, mas que ela não tinha condições de ser transferida. Então, eu lhe falei: ‘O senhor me disse que a melhor “arma” estava aqui. Se a Mãe [Virgem Maria] começou a operar o milagre, ela não vai deixá-lo pela metade’”. Minutos depois, o médico retornou para informar-lhe que os pais de uma criança que estava em condição mais estável aceitaram transferir o filho para outro hospital e disponibilizar o leito para que Maria Júlia recebesse os devidos cuidados.
Gratidão
Maria Júlia teve complicações de saúde na UTI, por causa de bactérias no pulmão e infecção por um fungo no sangue. Semanas depois, recuperou-se, e Socorro decidiu abandonar o emprego para ajudar no cuidado da neta. Até os 2 anos de idade, a menina precisou de acompanhamento neurológico e até os 3 realizou fisioterapia.
“Em 2017, quando estava perto dos 4 anos de idade, eu comecei a me preocupar com a educação dela. Fiz cursos e me inteirei sobre o que havia de novo. Algumas amigas souberam disso e pediram que eu acompanhasse a educação de seus filhos, minhas irmãs também, e, assim, montei uma turma de apoio pedagógico”, conta Socorro, que na juventude, quando cursava o Magistério, dera aulas particulares.
Surgia assim o “Apoio da Vovó”, para reforço escolar presencial a crianças e o desenvolvimento de materiais pedagógicos, que Socorro usava também para a alfabetização da neta, e resolveu disponibilizar em um site e pelas redes sociais.
“Eu encontrei muitas famílias fazendo home schooling [educação domiciliar], mães que saíam do emprego para acompanhar os filhos. Pensando nelas, comecei a compartilhar os materiais. Também fiz isso em gratidão àquela criança que cedeu o lugar no hospital para minha neta e que eu nunca conheci”, explica.
Uso indevido
Socorro Lima passou a compartilhar os conteúdos também no Instagram. Foi um sucesso: de pouco mais de mil seguidores em 2017, hoje mais de 30 mil pessoas acompanham seu perfil nesta rede social, incluindo professores e profissionais que dão aulas de reforço.
Os conteúdos que produz quase que diariamente para auxiliar as crianças no ensino de Língua Portuguesa e Matemática estão disponíveis para download gratuito no site Apoio Escolar da Vovó, e Socorro também realiza lives para esclarecer dúvidas.
Bastam poucos minutos de navegação no Instagram da vovó para averiguar o quanto os conteúdos são elogiados. No começo deste ano, porém, Socorro teve uma grande decepção.
“Eu descobri que uma pessoa fazia o download dos meus materiais, imprimia, montava apostilas e os vendia. Eu fiquei muito chateada com isso e decidi parar de postar. Continuei enviando apenas para quem me acompanha e pedisse”, conta.
Uma nova criança, uma outra mudança
E foi “navegando” pelas redes sociais que Socorro encontrou motivação para continuar a fazer seu gesto de solidariedade: pelo Instagram, ela soube da história de Talita Alonso, moradora de São Paulo e mãe de cinco filhos, um deles José Pio, o JP, hoje com 9 meses de vida.
JP nasceu prematuro, com má-formação no sistema nervoso e complicações respiratórias. Após ter realizado nove cirurgias e permanecido por cinco meses na UTI, hoje ele precisa de redobrados cuidados de saúde em casa, o que demanda gastos adicionais para a família, por exemplo, com sessões de fisioterapia e terapia ocupacional, a fim de que não haja prejuízos em seu desenvolvimento motor.
A história sensibilizou Socorro Lima. “Quando soube do caso, resolvi que iria ajudar as crianças e direcionar os recursos para uma delas. Em agosto, fizemos isso para o JP. Abrimos uma parte no site – a outra gratuita continua –, que nós chamamos de materiais novos, e começamos a pedir que quem desejasse adquirir os materiais depositasse R$ 10,00 diretamente na conta da Talita. Assim que a pessoa envia o comprovante, eu mando o conteúdo. Graças a Deus, a Talita já conseguiu comprar as órteses de que o JP precisa”, detalha, contando que a ação continuará neste mês, para ajudar mais uma criança.
Os sinais da fé no dia a dia
Uma criança ajudou a salvar Maria Júlia e hoje Socorro colabora para que outras crianças possam ter uma condição de vida melhor, uma corrente de solidariedade, que, para ela, só pode ser explicada pela ação de Deus.
“Eu aprendi uma coisa com a minha avó, que era uma pessoa santa: nenhum bem que fazemos é jogado fora. Quando você precisar, Deus vai colocar alguém para o ajudar. O bem atrai o bem. Naquele período em que fiquei chateada, em que decidi parar com os materiais, algo machucava meu coração. Naquela época, minha mãe adoeceu, fez uma cirurgia de emergência, e meu pai teve algumas complicações, mas sempre aparecia alguém com um sorriso no rosto para nos ajudar. E eu pensava: ‘Estou sendo retribuída, mas não estou mais colaborando, preciso voltar’. Nas minhas orações, isso vinha em meu coração. Não era certo cruzar os braços, uma pedra no caminho não podia me impedir de caminhar, pois tantos sofreram e continuaram lutando, e eu estava sendo fraca em parar diante do primeiro empecilho. Ao saber da história do JP, lembrei-me disso tudo. Foi, certamente, ação do Espírito Santo”, conclui.
(Colaborou: Jenniffer Silva)
Saiba mais sobre o trabalho de Socorro Lima
Instagram – limasocorro
Site – Apoio Escolar da Vovó