Dia Nacional da Adoção é celebrado em 25 de maio. no Brasil, quase 5 mil crianças e adolescentes estão à espera de uma família. a Igreja estimula este gesto de acolhida à vida

Giuliano Celms tinha apenas 33 dias quando foi adotado por Vera Helena. Natural de Porto União (SC), ele é o 13º filho de sua mãe biológica, que, sem condições financeiras de criá-lo, o entregou à adoção.
Hoje com 37 anos e atuando como produtor audiovisual, Giuliano contou ao O SÃO PAULO que cresceu cercado de afeto e sempre soube que foi gerado “não no ventre, mas no coração” de sua mãe adotiva, como ela costuma dizer.
“Minha mãe já havia perdido cinco gestações. Em uma delas, teve uma hemorragia grave. Ao ser alertada pelos médicos sobre os riscos de uma nova gravidez, decidiu antecipar o plano que já nutria de adotar uma criança. Uma amiga da minha avó materna, que morava em Santa Catarina, soube de uma mãe que não poderia ficar com o bebê. Após avaliação da assistência social, foi possível obter a documentação para que eu fosse retirado da maternidade e levado a São Paulo”, relembrou.
Para Giuliano, a adoção sempre foi tratada com naturalidade. Segundo ele, isso se deve à comunicação aberta que sempre existiu em casa. Depois de adotá-lo, Vera teve um filho biológico, mas a relação entre todos sempre foi marcada por sinceridade e carinho.
Com a experiência de quem foi acolhido, Giuliano afirma que quem deseja adotar deve ter consciência de que cada criança traz uma história, e que os vínculos precisam ser construídos com respeito, verdade e amor.
À ESPERA DE UMA FAMÍLIA
No Brasil, o Dia Nacional da Adoção é celebrado em 25 de maio. A data foi instituída em 1996, durante o 1º Encontro Nacional de Associações e Grupos de Apoio à Adoção. O objetivo é o de promover a conscientização sobre o número expressivo de crianças que ainda aguardam por uma família.
Segundo o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), em 2024 foram concluídas 3.409 adoções. Contudo, 4.935 crianças e adolescentes ainda aguardam a adoção no País, enquanto 35.622 pessoas estão habilitadas a adotar. Desse total, mais da metade – 26.431 – reside nas regiões Sudeste e Sul. A maioria, 33.488, tem preferência por crianças de até 8 anos de idade. A faixa etária mais procurada é a de 2 a 4 anos, com 11.382 pretendentes cadastrados.
NÃO TEMER O CAMINHO DA ADOÇÃO

O parágrafo 246 do Compêndio da Doutrina Social da Igreja (CDSI) aponta que a “solidariedade pertence à família como dado constitutivo e estrutural” e que uma de suas manifestações é a abertura “ao acolhimento, à guarda ou à adoção”.
O Papa Francisco também se referiu à adoção como um dom divino. Em sua primeira audiência geral de 2022, o Pontífice refletiu sobre São José, pai adotivo de Jesus, e destacou “todas as pessoas que se abrem para acolher a vida por meio da adoção”.
“É um comportamento generoso, belo. José nos ensina que esse vínculo não é secundário, nem uma alternativa. É uma das formas mais elevadas de amor. Quantas crianças no mundo esperam alguém que cuide delas! E quantos casais desejam ser pais, mas não conseguem por razões biológicas; ou, mesmo tendo filhos, querem partilhar o amor com quem não o tem. Não devemos temer escolher o caminho da adoção, de assumir o ‘risco’ do acolhimento”, afirmou o Papa.
UMA OPÇÃO GENEROSA
No número 179 da exortação apostólica Amoris laetitia, o Papa Francisco também define a adoção como uma “forma muito generosa de realizar o sonho da maternidade e da paternidade”.
“Adotar é o ato de amor que oferece uma família a quem não a tem. Aqueles que assumem o desafio de adotar e acolhem uma pessoa de maneira incondicional e gratuita tornam-se mediação do amor de Deus, que diz: ‘Ainda que a tua mãe chegasse a esquecer-te, Eu nunca te esqueceria’ (Is 49,15). A escolha da adoção e do acolhimento expressa uma fecundidade particular da experiência conjugal. Com particular gratidão, a Igreja apoia as famílias que acolhem, educam e cercam de carinho os filhos com deficiência”, escreveu Francisco.
‘A adoção já é uma certeza em nossas vidas’

No coração de Ivone Andrade, 40 anos, e Daniel Rodrigues, 36, o desejo de serem pais vem sendo cultivado há quatro anos. Para o casal, a adoção é o caminho para realizar esse sonho.
Analista de programação de produção, Ivone contou que a ideia de adotar sempre esteve presente nos diálogos com o marido: “Como católicos, somos abertos à vida e à vontade de Deus. Desde o início do nosso relacionamento, sabíamos da dificuldade para engravidar, pois tenho endometriose. A vontade de adotar já fazia parte da nossa história”.
Ao iniciar o processo, o casal recebeu o acompanhamento de assistentes sociais e psicólogos do Fórum de Guarulhos (SP). Já concluíram o curso de preparação, entregaram a documentação e, após um ano, foram habilitados para a fila de adoção.
“Compreendemos o processo e os prazos, que envolvem questões legais e familiares. Mas a espera é longa e, por vezes, dolorosa para quem anseia tanto por esse momento”, desabafou Ivone.
Ela também compartilhou que recentemente enfrentou um aborto espontâneo: “Foi uma experiência muito difícil, dolorosa e triste. Mas continuamos confiando na bondade de Deus, que tudo conduz em nossas vidas.”
O casal não tem preferência quanto ao sexo ou raça da criança. Por desejarem acompanhar todas as fases do desenvolvimento, optaram por adotar uma criança de até três anos. Caso haja irmãos na mesma faixa etária, estão abertos à adoção conjunta.
“A adoção, para nós, representa a esperança de viver os planos que Deus tem para nós. Esperança de amar um filho ou filha que será enviado, independentemente de termos filhos biológicos ou não. A adoção já é uma certeza em nossas vidas. Apesar da espera, continuamos confiantes, com o coração aberto e cheio de amor”, concluiu Ivone.
INFORME-SE SOBRE O PASSO A PASSO PARA UMA ADOÇÃO
No Brasil, o processo de adoção é gratuito e deve ser iniciado na Vara de Infância e Juventude mais próxima de sua residência. A idade mínima para se habilitar à adoção é 18 anos, independentemente do estado civil, desde que seja respeitada a diferença de 16 anos entre quem deseja adotar e a criança a ser acolhida. No portal do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) há uma página que detalha todas as etapas e documentações necessárias: https://sna.cnj.jus.br/home