Na última terça-feira, 4, a Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC) promoveu um workshop sobre a Campanha da Fraternidade 2025, que tem como tema “Fraternidade e Ecologia Integral”.
Anualmente, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) escolhe um tema para a Campanha da Fraternidade, com o objetivo de dar visibilidade para uma causa de grande impacto na sociedade. O bispo referencial do setor Educação da CNBB, Dom Francisco Agamenilton, e três assessores da Comissão para a Cultura e a Educação da CNBB colaboraram nas reflexões do workshop: o Padre Júlio César E. Resende, do Setor Educação, a Maria Beatriz Leal da Silva, do Ensino Religioso, e o Padre João Paulo dos Santos Silva, do Setor Universidades.
Para 2025, a Igreja nos faz um convite especial para refletir sobre a relação entre fé e o cuidado com o planeta. Inspirada pelo exemplo de São Francisco de Assis e na comemoração dos 10 anos da encíclica Laudato Si’, a Campanha reforça a necessidade de uma conversão ecológica e espiritual. Além disso, em um momento de urgência ambiental, a campanha ainda coincide com a realização da COP 30 em Belém do Pará, na Amazônia — destacando a relevância do tema para o Brasil e o mundo.
O evento online reuniu educadores, teólogos e especialistas em educação para refletir sobre a importância da ecologia integral no contexto educacional e pastoral, destacando a necessidade de uma conversão ecológica e social. O workshop foi iniciado com saudação do bispo referencial do setor Educação da CNBB, dom Francisco Agamenilton, bispo referencial do setor Educação da CNBB, seguida da fala de padre Júlio César, formado em teologia e filosofia, além de ter mestrado em educação, ambos pela PUC Minas Gerais. Ele atuou já como formador na sua congregação, como professor e, atualmente, é assessor do setor de educação na CNBB.
“O Papa Francisco nos convida a ouvir o clamor da terra, a ouvir o clamor dos pobres que gritam — gritam porque a situação atual que a nossa humanidade passa precisa de ação urgente”, afirmou. Segundo o palestrante, a Campanha da Fraternidade é um convite à escuta e à conversão, tanto pessoal quanto comunitária. “A obra da criação de Deus está em risco, e nós, como humanidade, não estamos cuidando daquilo que nos foi confiado.”
O padre também apresentou os 11 objetivos específicos da Campanha, que incluem desde o reconhecimento das ações já realizadas, como a Laudato Si’ e o Sínodo da Amazônia, até a promoção de mudanças no modelo econômico atual, que ameaça a vida no planeta. “A ecologia integral não é apenas um tema pastoral, mas deve perpassar toda a ação evangelizadora e transformadora da realidade”, enfatizou.
A dimensão pedagógica da CF
Gregory Rial, mediador do evento, destacou a importância de integrar a Campanha da Fraternidade no cotidiano das escolas católicas, não apenas como uma ação isolada da pastoral, mas como um tema transversal que dialogue com todas as áreas do conhecimento. “Nosso interesse aqui, enquanto a ANEC, é que toda a escola, todas as áreas do conhecimento se interconectem, se cruzem e se encontrem na Campanha da Fraternidade.”
Roberta Guedes, gerente de Educação Básica da ANEC, reforçou que a Campanha da Fraternidade deve ser um background pedagógico, integrando-se ao currículo escolar. “Pensar a Campanha da Fraternidade é refletir sobre a intenção que temos com essa temática. Se for apenas cumprir calendário, resultará em um projeto com data marcada para terminar. Mas se a intenção for pedagógica, pastoral e política (…), então o tema da Campanha da Fraternidade se tornará parte integral do processo pedagógico, pois ele tem espaço-tempo, significado e intencionalidade”, destacou.
Ela também destacou a importância de formar cidadãos críticos e conscientes, capazes de enfrentar os desafios socioambientais atuais. “A educação precisa potencializar pessoas, e a Campanha da Fraternidade nos convida a pensar na ecologia integral como um caminho para a construção de uma cidadania global”, afirmou. Roberta citou o Pacto Educativo Global, proposto pelo Papa Francisco, que chama todos a construir uma sociedade melhor.
“Como diz o provérbio africano, é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança. Precisamos de pessoas com pensamento crítico, capacidade de resolver problemas, criatividade e colaboração”, disse.
Já Beatriz Leal, assessora nacional do Setor Ensino Religioso da Comissão Episcopal para a Cultura e Educação, focou sua fala no potencial pedagógico da Campanha da Fraternidade no ensino religioso. Ela apresentou subsídios práticos para trabalhar o tema nas escolas, alinhados às competências da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). “Cuidar da Casa Comum é uma urgência, e o ensino religioso tem um papel fundamental nessa missão”, disse.
Beatriz sugeriu atividades como a criação de hortas comunitárias, projetos de reciclagem e campanhas de conscientização ambiental, que podem ser desenvolvidas em parceria com outras disciplinas. “Não existe planeta reserva. Precisamos ampliar essa temática, levando-a para as famílias e para a comunidade ao redor da escola”, ressaltou.
Ela também destacou a importância de trabalhar com as competências da BNCC, como “reconhecer e cuidar de si, do outro, da coletividade e da natureza” e “analisar as relações entre as tradições religiosas e os campos da cultura, da política, da economia e do meio ambiente”.
A ecologia integral na prática
O workshop também destacou a importância de ações concretas para promover a ecologia integral. Roberta Guedes e Beatriz Leal compartilharam experiências práticas, como o reuso da água do ar-condicionado para regar hortas e a transformação de materiais recicláveis em arte e brinquedos. “São pequenos gestos que fazem a diferença e mostram que podemos transformar lixo em luxo”, afirmou Beatriz.
Roberta também enfatizou a necessidade de superar a visão tecnocrática dominante e colocar a criação no centro, não a criatura. “Precisamos superar a visão de que o ser humano é o dominador da natureza. Somos guardiões da criação, e isso deve ser refletido em nossas práticas educativas”, disse. Ela citou exemplos de como pequenas ações, como a criação de uma horta comunitária na educação infantil, podem preparar os alunos para discutir temas complexos como economia solidária e sustentabilidade no ensino médio.
A parte final do Workshop foi dedicada à dimensão pastoral da ecologia integral. A diretora pastoral da ANEC, irmã Carolina Mureb apresentou as principais conexões teológico-pastorais da ecologia integral. Ela destacou três apelos fundamentais: necessidade de afirmar a bondade de Deus expressa na criação que é a ordem do amor; pensar em um novo modelo antropológico a partir dos apelos da ecologia integral que ultrapassa a ecologia ambiental; e impactar o mundo por uma real conversão ecológica. “A conversão ecológica é uma necessária mudança de rumo diante do pecado contra o Criador”, afirmou a Irmã.
A partir de suas provocações, seguiram-se duas intervenções: a do padre Diego Lélis, gestor pastoral da Claretiano – Rede de Educação e do padre João Paulo dos Santos Silva, assessor do setor Universidades da CNBB. Padre Diego chamou a atenção para a contribuição da Pastoral Escolar na construção da subjetividade ecológica e o padre João Paulo enfatizou a importância de as Universidades Católicas, pela integração da pastoral universitária às dimensões do ensino-pesquisa-extensão, contribuírem para a fundamentação da ecologia integral como pauta urgente para a Igreja e para a sociedade.
Com este workshop, a ANEC reforçou seu compromisso com a Campanha da Fraternidade 2025 e o chamado à ação, à conversão e à educação integral. “Precisamos abandonar a idolatria do consumismo e do materialismo e ter olhos que contemplem a beleza da obra criada por Deus”, afirmou padre Júlio César.
A ANEC se comprometeu a apoiar as escolas católicas na implementação de projetos que integrem a ecologia integral ao currículo, promovendo uma educação que leve à vida e à esperança. Para mais informações sobre os subsídios e materiais da Campanha da Fraternidade 2025, os educadores podem entrar em contato com a ANEC ou acessar os recursos disponíveis no site.
Fonte: CNBB