No domingo, 03 de dezembro, a Igreja Católica inicia o novo ano litúrgico com o Tempo do Advento, período de preparação para a celebração do Natal do Senhor. Durante quatro semanas, os cristãos são inseridos na espera do Filho de Deus, que se encarnou no ventre da Virgem Maria, para salvar a humanidade.
O nome desse tempo litúrgico tem sua origem em Adventus, do verbo advenire em latim, que significa “vinda, chegada”. O Catecismo da Igreja Católica destaca que, ao celebrar a cada ano a liturgia do Advento, “a Igreja atualiza esta espera do Messias: comungando com a longa preparação da primeira vinda do Salvador, os fiéis renovam o ardente desejo de sua segunda vinda”.
Nesse sentido, o Advento não é um momento de preparação para a festa do “aniversário” do nascimento de Jesus, mas é uma expectativa pela realização do mistério da salvação.
No Advento, celebram-se as três misteriosas etapas da história da salvação. A primeira é a antiga expectativa dos patriarcas, relacionada com a vinda do Messias, que se encerra com a encarnação, morte e ressurreição do Filho de Deus. A segunda etapa diz respeito ao presente da salvação em Cristo, realizada no mundo, mas ainda não complementada. Por fim, o futuro da salvação, que se revelará na transformação do mundo no fim dos tempos.
ROXO
Assim como na Quaresma, tempo que antecede a celebração da Páscoa, a cor litúrgica do Advento é o roxo, sinalizando o espírito penitencial e de recolhimento interior, preparando o coração para celebrar a natividade do Senhor.
Advento deve ser um tempo caracterizado pela sobriedade e a moderação expressas na liturgia, vestes e cantos, evitando-se antecipar a plena alegria da festa do Natal de Jesus. Por isso, neste período não se entoa o hino de louvor “Glória”, que voltará a ser entoado na noite do Natal, assim como os anjos fizeram para anunciar o nascimento do Filho de Deus.
No 3º Domingo do Advento, conhecido como Gaudete (Alegrai-vos, em português), o roxo dos paramentos litúrgicos é amenizado pelo tom róseo ou rosa, pois a Igreja se alegra pela proximidade do Natal. A quebra do espírito penitencial do Advento ocorre para dar mais força aos fiéis, a fim de perseverarem nos propósitos de conversão feitos para viver bem este tempo.
COROA
Este tempo litúrgico é rico de símbolos que ajudam o cristão a se aprofundar na espera do Senhor. Um deles é a coroa do Advento, que consiste em quatro velas entrelaçadas por ramos no formato de uma coroa, acesas a cada domingo.
Tem sua origem nos países nórdicos, com raízes simbólicas universais: a luz como salvação, o verde como vida e o formato redondo como eternidade. Era uma forma de as famílias vivenciarem a espera do Natal em suas casas, entrelaçando ramos de ciprestes, uma das poucas plantas que permaneciam verdes no intenso frio do inverno europeu, e acendendo uma vela a cada semana durante um momento de oração.
Com o passar dos anos, esse símbolo passou a ser usado também nas igrejas, como uma forma pedagógica de sinalizar o mistério celebrado nesse período. As velas acesas a cada domingo simbolizam, ainda, a luz que ilumina as trevas com a aproximação da vinda do Salvador. Essa escuridão e expectativa são sinalizadas pela cor roxa usada nos paramentos dos ministros.
PRESÉPIO
É também deste período o símbolo que alcança de forma especial os lares católicos no Advento e no Natal: o presépio, representação artística da cena da natividade do Senhor.
O primeiro presépio de que se tem notícia foi feito por São Francisco de Assis, em 1223, numa gruta, com o objetivo de facilitar a compreensão do povo sobre o sentido do Natal. No entanto, as tradições bizantinas do Oriente cristão já destacavam ícones que retratavam a cena da Natividade do Senhor na gruta de Belém.
O termo vem do latim praesepe, que significa “estrebaria ou curral”. Geralmente, contém as imagens da Sagrada Família, cercada de animais, pastores, anjos e os reis magos. Contudo, é possível representar o presépio apenas com as imagens da Virgem Maria, São José e o Menino Jesus.
O presépio costuma ser montado nas casas e igrejas no início do Advento e, geralmente, é desmontado após a celebração da Epifania do Senhor, que recorda a visita dos reis magos a Jesus.
EM CASA
No ambiente familiar, o presépio tem um valor importante e pedagógico, sobretudo para inserir as crianças no mistério do Natal cristão.
Em 2019, o Papa Francisco escreveu a carta apostólica Admirabile signum, sobre o valor e significado do presépio. No texto, o Pontífice afirma que a representação do presépio “ajuda a imaginar as várias cenas, estimula os afetos, convida a nos sentirmos envolvidos na história da salvação, contemporâneos daquele evento que se torna vivo e atual nos mais variados contextos históricos e culturais”, completou.
Outra tradição antiga da Igreja é a celebração da novena de Natal, que faz alusão aos nove meses de gestação de Jesus no ventre da Virgem Maria. Liturgicamente, essa novena é celebrada de 16 a 24 de dezembro. Neste período, recita-se no Ofício Divino as sete famosas antífonas da expectação da Mãe de Jesus, que, pelo fato de se iniciarem com a exclamação “Ó”, deram origem ao título mariano de Nossa Senhora do Ó.
No Brasil, é popular o costume de se realizar a novena de Natal ao longo do Advento em grupos que se reúnem entre famílias, condomínios, escolas, hospitais, asilos e até mesmo nos cárceres.