Cristo: rei e salvador da humanidade

Reprodução de Cristo Rei, ‘Grandes Horas de Ana da Bretanha’ – Biblioteca Nacional da França, Paris

No próximo dia 26, a Igreja celebra a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Essa celebração, que marca a conclusão do ano litúrgico, foi instituída pelo Papa Pio XI, por meio da encíclica Quas Primas, em 11 de dezembro de 1925, com o intuito de fortalecer a fé dos cristãos, devido ao cres­cimento de correntes de pensamento seculares e lai­cistas que se opunham aos valores cristãos.

A data original da festa de Cristo Rei era o último domingo de outubro, ou seja, no domingo que pre­cedia a festa de Todos os Santos, mas com a reforma litúrgica de 1969, foi transferida para o último do­mingo do Ano Litúrgico. Dessa forma, fica claro que Jesus Cristo, o Rei, é a meta da nossa peregrinação terrena.

Mais do que um título piedoso ou metafórico, ou ainda a tentativa de igualá-lo aos poderosos do mundo, essa solenidade enfatiza que Jesus Cristo é Rei, soberano por excelência, pelo qual “todas as coisas foram feitas”, como ressalta o Credo Niceno­-Constantinopolitano.

REINO ETERNO

No encíclica já mencionada, Pio XI afirma que, embora o reino de Cristo seja “principalmente espi­ritual” e se refira “às coisas espirituais”, “erraria grave­mente aquele que negasse a Cristo-homem o poder sobre todas as coisas humanas e temporais”. O reino de Jesus é, como destaca a liturgia desta solenidade, um reino de verdade e vida, santidade e graça, justi­ça, amor e paz.

É o próprio Cristo que adverte: “Meu Reino não  é deste mundo” (Jo 18,36). Seu senhorio se manifestará em plenitude com sua segunda vinda, gloriosa, quando se instaurarem os novos céus e a nova terra, e “todas as cria­turas, libertas da escravidão e servindo sua majestade, o glorifiquem eternamente”, como ressalta a oração litúrgica desta data.

CRUZ

Ao longo dos séculos, os teólogos e pontífices não he­sitaram em ressaltar que é na cruz que Cristo manifesta sua singular realeza. São Cirilo de Alexandria comenta: “Vê-lo crucifixo e chamá-lo rei. Crês que aquele que su­porta escárnio e sofrimento chegará à glória divina”.

“Segundo o evangelista João, a glória divina já está pre­sente, mesmo se escondida pelo desfiguramento da cruz. Mas também na linguagem de Lucas, o futuro é antecipa­do para o presente quando Jesus promete ao bom ladrão:

‘Hoje estarás comigo no paraíso’ (Lc 23,43)”, destacou o Papa Bento XVI, na homilia da missa de Cristo Rei em 2007.

Já Santo Ambrósio observa: “Ele pedia ao Senhor para que se recordasse dele, quando estivesse no seu Reino, mas o Senhor respondeu-lhe: ‘Em verdade, em verdade te digo, hoje estarás comigo no Paraíso’. A vida é estar com Cristo, porque onde está Cristo ali está o Reino”. Nesse sentido, continua o doutor da Igreja, a acusação “Este é o Rei dos Judeus”, escrita numa tábua pregada no alto da cruz, tor­na-se a proclamação da verdade. “Justamente a inscrição está no cimo da cruz, porque mesmo estando o Senhor Jesus na cruz, contudo resplandecia do alto da cruz com uma majestade real”, completou.

CABEÇA

Outro texto bíblico que enaltece a realeza de cristo é o hino cristológico da Carta aos Colossenses, na qual São Paulo afirma: que “por Ele e para Ele, todas as coisas foram criadas… e todas subsistem nele” (Cl 1,16). O Apóstolo acrescenta que, mediante a morte na cruz do Filho, Deus reconciliou consigo todas as criatu­ras, estabeleceu a paz entre o céu e a terra; ressus­citando-o dos mortos, tornou-o primícias da nova criação, “plenitude” de qualquer realeza e “cabeça do corpo” místico que é a Igreja (cf. Cl 1, 18-20).

“A Igreja é aquela porção de humanidade na qual já se manifesta a realeza de Cristo, que tem como manifestação privilegiada a paz. É a nova Je­rusalém, ainda imperfeita porque peregrina na his­tória, mas capaz de antecipar, de qualquer modo, a Jerusalém celeste”, sublinhou Bento XVI, ao comen­tar esse texto bíblico.

PODER DIVINO

Na oração do Angelus de 25 de novembro de 2018, o Papa Francisco afirmou que, observando toda a vida de Cristo, é evidente que Jesus não tem ambições políticas. “Recordemos que depois da multiplicação dos pães, o povo, entusiasmado pelo milagre, o teria proclamado rei, para derrubar o poder romano e restabelecer o reino de Israel. Mas para Jesus, o reino é outra coisa, e não se realiza certamente com a revolta, a violência e a força das armas. Por isso, retirou-se sozinho sobre o monte para rezar (cf. Jo 6,5-15). Depois, respondendo a Pi­latos, evidencia que os seus discípulos não comba­teram para O defender. Diz: ‘Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus súditos certamente teriam pelejado para que eu não fosse entregue aos judeus’ (Jo 18,36)”, acrescentou. O Santo Padre enfatizou que Jesus quer fazer compreender que acima do poder político há outro  muito maior, que não se obtém com meios humanos. “Ele veio à terra para exercer este poder, que é o amor, dando testemunho da verdade (cf. Jo 18,37). Trata-se da verdade divina que, enfim, é a mensagem essencial do Evangelho: ‘Deus é amor’ (1 Jo 4,8) e deseja estabelecer no mundo o seu reino de amor, justiça e paz… que se estende até o fim dos tempos”, continuou.

“Jesus, hoje, pede-nos para deixarmos que Ele se torne o nosso rei. Um rei que com a sua palavra, o seu exem­plo e a sua vida imolada na cruz nos salvou da morte, e indica – este rei – o caminho ao homem perdido, dá luz nova à nossa existência marcada pela dúvida, pelo medo e pelas provações de todos os dias”, exortou Francisco, re­cordando que Jesus só poderá dar um sentido novo à vida de cada um, às vezes posta a dura prova, inclusive pelos erros e pecados, “se não seguirmos as lógicas do mundo e dos seus ‘reis’”.

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários