No centésimo aniversário da Rerum Novarum, São João Paulo II beatificou Adolfo Kolping, mostrando como ele foi um precursor, na prática, do que entendemos hoje por Doutrina Social da Igreja, conforme observa São João Paulo II. A seguir, principais trechos de sua homilia na missa pela sua beatificação, em 27 de outubro de 1991.
Adolfo Kolping, no século XIX, lançou a grande luz do Evangelho sobre a sempre difícil questão da justiça social nas relações recíprocas entre trabalho e capital. A beatificação de Adolfo Kolping, no ano da celebração do centésimo aniversário da encíclica Rerum Novarum, adquire um significado particularmente eloquente. Ele procurou sacudir a indolência dos cristãos e lembrá-los de suas responsabilidades para com o mundo […] Os lugares em que a responsabilidade humana e cristã deve ser exercida são, para ele: a família, a Igreja, o trabalho e a política.
A Família é a primeira e mais natural comunidade da vida. Nenhum homem vem ao mundo sozinho: seu pai e sua mãe lhe dão a vida. Uma criança precisa de família, precisa de amigos e parentes para ajudá-la a estabelecer relações com o mundo ao seu redor. Adolfo Kolping escreve: “A primeira coisa que o homem encontra na vida, a última coisa que alcança e a coisa mais preciosa que possui, mesmo quando não a aprecia, é a vida familiar” […] É o lugar em que pode ter as suas primeiras experiências de vida e de fé, para poder, a partir desse fundamento, viver suas experiências posteriores de fé no mundo. No entanto, ele estava ciente das ameaças às famílias e de suas falhas. Por isso, deu tanto valor à santificação da família […] Se a família permanecer saudável, uma sociedade doente também pode se recuperar. Mas se as famílias estão doentes, a sociedade como um todo está seriamente ameaçada […]
A Igreja é o lugar em que o homem escuta a Palavra de Deus, que o orienta em todas as suas tarefas, e na qual ele se aproxima dos sacramentos que lhe dão força para cumprir essas tarefas. Tudo o que a Igreja tem, ela recebeu de Jesus Cristo. Ela tem tudo isso não para si, mas para a humanidade. Na Igreja, encontramos Cristo e, ao mesmo tempo, a nossa vocação no mundo […] Adolfo Kolping voltou-se sobretudo para os explorados e os fracos. Depois, foram os artesãos e os operários. O seu compromisso social, baseado na fé, deu-lhe forças para trabalhar a serviço do próximo, trazendo-lhe assim a fé na amizade que Deus tem pelo homem. Ele uniu artesãos e trabalhadores, superando o isolamento e a resignação. A comunidade na fé deu-lhes a força para enfrentar a vida cotidiana, como testemunhas de Cristo perante o mundo. Unirmo-nos na dispersão e tirarmos forças da unidade foi e continua a ser, ainda hoje, a nossa tarefa. Somos cristãos não só para nós mesmos, mas ainda mais para os outros […]
Trabalho. As sombras da injustiça, da exploração, do ódio e da humilhação dominaram a situação dos artesãos e operários do século XIX. Adolfo Kolping estava, antes de tudo, do lado das pessoas. Não foram as estruturas que tiveram de ser mudadas primeiro, mas as pessoas. Inspirado pela fé em Deus, que deseja a felicidade de todos, iniciou um trabalho paciente de educação. Com palavras e escritos, por meio de planejamentos e ações bem pensadas, procurou com seus colaboradores dar espaço e voz ao Evangelho do trabalho, que se tornou, para Kolping e sua obra, o campo de atuação para um Cristianismo cada vez mais próximo do mundo dos trabalhadores. Com suas ideias, ele abriu caminho e foi o precursor das grandes encíclicas sociais que, iniciadas com a Rerum Novarum (1891), encontraram uma expressão significativa com Centesimus Annus (1991) […]
Política. O fato de assumir a responsabilidade para com a sociedade e a comunidade dos homens foi para Kolping uma consequência do Evangelho. “Depende de nosso cristianismo ativo”, escreveu Kolping, “se o mundo retorna à ordem cristã. Agora, não devemos limitar esse cristianismo ativo apenas às paredes das igrejas ou aos quartos dos doentes ou às nossas esferas familiares, mas devemos trazê-lo para a vida cotidiana”. Por isso, preparou e incentivou os amigos a assumirem a responsabilidade na política e na sociedade. Os cristãos não devem recuar, mas têm o seu papel e a sua tarefa indispensável no mundo do trabalho e em posições de liderança na política. Sabia que: “A Igreja não pode e não deve negligenciar a questão social […] Ela deve participar da vida civil e não deve temer a batalha.”