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Fatores que minam a qualidade de vida das famílias nas grandes cidades brasileiras

Por que milhões de famílias em capitais brasileiras enfrentam condições de vida precárias, apesar de morarem em grandes centros urbanos? Cidades como Maceió (AL), Belém (PA), Recife (PE) e Manaus (AM) possuem IPS (Índice de Progresso Social) relativamente baixos, revelando que o tamanho da cidade não garante dignidade para quem nela vive. Cinco fatores estruturais afetam diretamente a vida das famílias:

A urbanização desigual, sem planejamento, condena gerações inteiras a viver em territórios abandonados pelo poder público. Na Baixada Fluminense, famílias acordam às 4h para trabalhar no centro do Rio, voltando para casas sem infraestrutura básica. Duque de Caxias tem a segunda maior economia fluminense, mas ocupa apenas o 56º lugar no Indice de Desenvolvimento Humano (IDH) estadual. Em cidades como Ananindeua (PA), São Gonçalo (RJ) e Nova Iguaçu (RJ), crianças crescem sem postos de saúde próximos e escolas adequadas.

A falta de saneamento básico significa que famílias convivem diariamente com doenças evitáveis. Em Macapá (AP, IPS 58,72), apenas 5% da população têm acesso a esgoto tratado, enquanto nos 20 melhores municípios brasileiros 97,7% da população tem coleta de esgoto. Crianças brincam em ruas contaminadas, contraem verminoses e infecções que comprometem seu desenvolvimento. Mães em Porto Velho (RO, 57,25), Belém (62,33) e Manaus (63,19) lutam para manter os filhos saudáveis sem água potável garantida.

Em muitas cidades de porte médio e grande, a insegurança e a violência reduzem a qualidade de vida significativamente, afetando a mobilidade social, a saúde mental e oportunidades econômicas. O Nordeste concentra as maiores taxas de violência do País. A insegurança contribui para pontuações mais baixas no IPS, em municípios como Salvador (BA, IPS 62,05), Recife (63,33) e Maceió (61,48), nas quais altas taxas de homicídios e acidentes de trânsito minam o bem-estar. Em Maceió, com 38,6 mortes violentas intencionais por 100 mil habitantes, há relatos de pais restringindo as brincadeiras dos filhos na rua após o anoitecer devido à insegurança. Famílias em Salvador e Recife frequentemente adaptam rotinas diárias para evitar áreas de tiroteios entre facções. No Rio de Janeiro (IPS 66,13), onde ocorreram 2.938 homicídios dolosos em 2024, mães da periferia expressam temor constante de que seus filhos sejam assassinados ou cooptados pelo tráfico. Nas áreas dominadas pelo crime, empresas hesitam em se instalar, com perda de oportunidades de emprego.

A concentração de renda e a falta de oportunidades obstaculizam o progresso pessoal e familiar. Em Manaus, a renda média dos mais ricos é nove vezes maior que a dos mais pobres. O crescimento econômico não se traduz em progresso social, com empregos de baixa remuneração e alta informalidade, afetando 40% a 50% da força de trabalho nas metrópoles nordestinas.

Por fim, as cidades com pior qualidade de vida para as famílias padecem de uma governança ineficiente, com gestão sem resultados. Políticas loteadoras criam territórios fragmentados nos quais bairros nobres convivem com periferias abandonadas. A ausência de governança orientada a resultados impede que investimentos se convertam em bem-estar coletivo, mantendo cidades presas em ciclos de subdesenvolvimento crônico.

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