A história de nosso povo é uma história de imigrantes. Raros entre nós podem se considerar descendentes exclusivamente dos povos originários, os índios, ou mesmo das primeiras levas de portugueses que aqui chegaram. Somos quase todos descendentes de imigrantes. Solidarizar-se com aqueles que agora chegam é, de certa forma, honrar uma história que é de todos nós.
Hoje vemos muitos descendentes de estrangeiros no Brasil. São diversas nacionalidades que se misturam no campo rural ou urbano e nos trazem uma dúvida: Como ocorreu essa migração?
No século XIX, principalmente pela expansão da economia cafeeira e a retração do comércio de escravos motivaram vários produtores a importarem mão de obra de outras nações. Em pouco tempo, povos de diferentes nacionalidades viriam a redesenhar as relações sociais e de trabalho no país. Começava assim a grande migração estrangeira!
Entre os principais desafios estavam a falta de informação, as dificuldades com o idioma e acesso à documentação estão entre os principais obstáculos encontrada pelos estrangeiros no país.
São Paulo e a imigração. Bem: O estado de São Paulo foi, sem restar dúvida, a principal região de atração de imigrantes no Brasil ( cerca de 57% do total dos estrangeiros entrados no país), dentro de uma tripartição histórico-geográfica da imigração constituída por: a) uma região central fortemente atrativa, os estados do Sudeste, caracterizada pelo sistema agroexportador, mas também pela incipiente industrialização e pela franca expansão urbana; b) uma região de atração importante, mas secundária, os estados do Sul, com consistentes núcleos coloniais rurais formados por pequenos proprietários e urbanização recente e mais rarefeita; c) a macrorregião dos estados do Norte e Nordeste, onde a inserção dos estrangeiros foi quase exclusivamente urbana, mas muito pouco significativa no seu complexo e em relação ao resto do país, embora importante para as dinâmicas econômicas, sociais e culturais das grandes cidades. Mas nosso foco neste artigo é São Paulo.
Os italianos foram prevalecentes em todo estado de São Paulo, também em Minas e nos três estados sulinos, mas eram superados pelos portugueses nas cidades do Rio de Janeiro, Santos, Salvador e Recife. Os italianos imigraram para o Brasil sobretudo no período 1889-1903, no auge da imigração subvencionada para os latifúndios paulistas, mineiros e fluminenses e para os núcleos e colônias do sul, enquanto nas décadas seguintes foram os portugueses que prevaleceram. No caso paulista, os italianos continuaram sendo o principal grupo imigrante durante todo o período 1890-1930. Os japoneses só começaram a chegar a partir de 1908, enquanto os sírio-libaneses e os alemães, outros dois grupos minoritários, imigraram com fluxos constantes ao longo de todo o período. Todos os grupos utilizaram a imigração subvencionada, que foi absolutamente prevalecente no caso de italianos e espanhóis, mas para alguns, notadamente os portugueses e sírio-libaneses, o número de imigrantes espontâneos foi sempre muito alto e largamente majoritário na maior parte do período. Esses grupos formam nossa mistura étnica!
Braços para o cafezal. Os antecedentes da imigração no Brasil remontam ao período imperial, quando, na ótica da extinção do trabalho escravo, começou a ganhar espaço a ideia de que a implementação do trabalho livre no país deveria recorrer à importação de mão de obra estrangeira (durante o Império tinham chegado cerca de 900 mil imigrantes). Principalmente, duas ordens de motivos levaram a abrir o país para receber contingentes de imigrantes: uma política de europeização da população e a necessidade de disponibilidade maciça de mão de obra para uma expansão rápida de um dos principais setores da agroexportação, o café. Esta última consideração pesou mais que a primeira, de cunho cultural, uma vez que parecia mais viável um sistema de captação de trabalhadores estrangeiros do que a ativação de um processo de migrações internas para conseguir as melhores condições do mercado de trabalho: abundância da oferta de mão de obra e sua concentração localizada no tempo e no espaço, de modo que fosse possível, ao mesmo tempo, selecionar qualitativamente os trabalhadores, pressionando para baixo os salários e limitando a oferta geral em torno das condições de vida e de trabalho fixadas nos contratos.
Os fazendeiros paulistas, particularmente aqueles ligados ao complexo cafeeiro, reorientaram a política imigratória ao longo da década de 1880, elaborando um sistema de imigração subvencionada e controlada que previa a concessão gratuita da passagem e da moradia e a concentração dos imigrantes em hospedarias, para que fossem direcionados principalmente aos latifúndios das principais regiões rurais do Sudeste. Hoje podemos visitar a “Casa do Imigrante” ali no Bairro do Brás.
O perfil do imigrante típico no Brasil foi o do camponês europeu pobre, vindo junto com seu núcleo familiar para se estabelecer no país, na zona rural, a longo prazo ou definitivamente. Os latifundiários não podiam, nem queriam, nem conseguiram, sobretudo a partir da diminuição do preço do café no fim do século XIX e das primeiras crises de superprodução, absorver toda a mão de obra imigrada ou retê-la. Ao mesmo tempo, ficou patente, para os imigrantes que vieram nas primeiras grandes levas ao longo da década de 1890, que o sonho do acesso à propriedade da terra, imaginado e astutamente propagandeado pelos agentes dos fazendeiros, permanecia um sonho, pelo menos no curto prazo.
Os imigrantes e a cidade. Pensando que o principal foco de atração e fluxo imigratório no Brasil teve características explicitamente rurais, a imigração urbana não pode ser desconsiderada, pois tornou-se evidente, desde o início da imigração de massa, que o crescimento das cidades em todas as regiões do país interessadas no fenômeno imigratório estava ligado à vinda de população estrangeira. A imigração urbana foi basicamente de dois tipos: A indireta, como fluxo secundário de estrangeiros provenientes das áreas rurais onde se tinham fixado num primeiro momento; e a direta, como fluxo primário de imigrantes que logo na entrada se fixavam nas áreas urbanas. A partir dos últimos anos do século XIX, a primeira começou a se realizar concomitantemente à segunda, aumentando progressiva e consideravelmente durante a primeira década do século XX. A imigração indireta foi sobretudo resultado do êxodo de imigrantes insatisfeitos com as condições de trabalho ou em excesso nas áreas rurais de latifúndios e, de forma menor, de estrangeiros dos núcleos coloniais rurais, por motivos semelhantes. A cidade proporcionava também oportunidades de ascensão social, e maiores possibilidades para a educação e a saúde. Não poucas vezes o retorno à pátria de origem, saindo das áreas rurais brasileiras, passava por um período de trabalho nos centros urbanos.
Um bilhão de pessoas, um sétimo da população mundial, são migrantes. Apesar destas barreiras, os imigrantes continuarão a desempenhar um papel essencial nas comunidades e na economia dos países para onde imigram. No Brasil não foi e não é diferente! Somos todos migrantes! Um país formado por estrangeiros vindos por vários motivos e que com fé e muita disposição construíram nossa nação!