
“No coração de Deus, ocupam lugar preferencial os pobres, tanto que até Ele mesmo ‘se fez pobre’ (2 Cor 8,9) […] Quando [Jesus] começou a anunciar o Reino, seguiam-No multidões de deserdados, pondo assim em evidência o que Ele mesmo dissera: ‘O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Me ungiu para anunciar a Boa Nova aos pobres’ (Lc 4,18). A quantos sentiam o peso do sofrimento, acabrunhados pela pobreza, assegurou que Deus os tinha no âmago do seu coração: ‘Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus’ (Lc 6,20); e com eles Se identificou: ‘Tive fome e destes-Me de comer’, ensinando que a misericórdia para com eles é a chave do Céu (cf. Mt 25,34-40).
Deus manifesta aos pobres ‘sua primeira misericórdia’ (São João Paulo II). Esta preferência divina tem consequências na vida de fé de todos os cristãos, chamados a possuírem ‘os mesmos sentimentos que estão em Cristo Jesus’ (Fl 2,5). Inspirada por tal preferência, a Igreja fez uma opção pelos pobres, entendida como uma ‘forma especial de primado na prática da caridade cristã, testemunhada por toda a Tradição da Igreja’ (Sollicitudo rei socialis, SRS 42). Esta opção “está implícita na fé cristológica naquele Deus que Se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com sua pobreza’ (Bento XVI). Por isso, desejo uma Igreja pobre para os pobres […]
A necessidade de resolver as causas estruturais da pobreza não pode esperar; e não apenas por uma exigência pragmática de obter resultados e ordenar a sociedade, mas também para a curar de uma mazela que a torna frágil e indigna e que só poderá levá-la a novas crises. Os planos de assistência, que acorrem a determinadas emergências, deveriam considerar-se apenas como respostas provisórias. Enquanto não forem radicalmente solucionados os problemas dos pobres, renunciando à autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira e atacando as causas estruturais da desigualdade social, não se resolverão os problemas do mundo e, em definitivo, problema algum […]
Se alguém se sentir ofendido com as minhas palavras, saiba que as exprimo com estima e com a melhor das intenções, longe de qualquer interesse pessoal ou ideologia política. A minha palavra não é a de um inimigo nem a de um opositor. Interessa-me apenas procurar que, quantos que vivem escravizados por uma mentalidade individualista, indiferente e egoísta, possam libertar-se dessas cadeias indignas e alcançar um estilo de vida e de pensamento mais humano, mais nobre, mais fecundo, que dignifique a sua passagem por esta terra” (Evangelii gaudium, EG 197-208).