O cinquentenário da Casa do Migrante

A Casa do Migrante da Missão Paz completa 50 anos neste mês de novembro de 2024. Localizada nas dependências da Igreja Nossa Senhora da Paz, na Rua do Glicério, bairro da Liberdade, foi construída nos anos de 1940 pela Congregação dos Missionários de São Carlos (Scalabrinianos), juntamente com a comunidade italiana, a qual, fugindo da Segunda Guerra Mundial, buscava refúgio em outros países. Até hoje, a igreja continua sendo ponto de referência para os imigrantes italianos. A Casa do Migrante, por sua vez, criada em 1974 como AVIM (Associação de Voluntários pela Integração do Migrante), sempre buscou, como diz o profeta, “alargar o espaço de sua tenda” (Is 54,2). Ao longo deste meio século de existência, tornou-se espaço de acolhida e de “primeiros socorros”, como também lugar de encontro econvivência para muitos povos, nações e culturas, como veremos a seguir.

Integrada no conjunto da Missão Paz, a Casa do Migrante é um espaço privilegiado de acolhimento a quem desembarca nesta gigantesca metrópole.  Comporta, além da acolhida, outros serviços anexos e integrados, tais como encaminhamento para o trabalho, documentação, saúde, assistência social, jurídica e psicológica, o Centro de Estudos Migratórios, a Revista Travessia, Biblioteca especializada na temática do fenômeno migratório, o Centro de Documentação, outras publicações vinculadas ao estudo da mobilidade humana!… A Igreja da Missão Paz, além da paróquia territorial, hospeda ainda a paróquia pessoal dos imigrantes italianos, a paróquia pessoal dos imigrantes de língua espanhola, com atendimento diário e variadas atividades de natureza pastoral, sacramental e cultural. Como missão Scalabriniana, além dos serviços normais em língua portuguesa, a obra oferece ainda missas em vários idiomas, como francês, inglês e, naturalmente, espanhol e italiano.

Desde sua fundação, primeiro como AVIM e depois como Casa do Migrante, de início a obra passou a receber os migrantes internos que chegaram em massa especialmente dos estados do Nordeste e de Minas Gerais, mas também do interior de São Paulo e Paraná, para erguer esta gigantesca metrópole. Em seguida, abriu-se aos imigrantes dos países vizinhos, seja devido à situação de pobreza e carência nos lugares de origem, seja devido às ditaduras militares do Cone Sul ou à violência dos movimentos de guerrilha com seus “desplazados”. Nesta perspectiva, a obra abrigou números significativos de chilenos, argentinos, uruguaios, paraguaios; depois, vieram também os bolivianos, peruanos, equatorianos, colombianos, e assim por diante.

Com a economia globalizada e a mobilidade humana cada vez mais intensa, diversificada e complexa, a Casa do Migrante passou a acolher imigrantes de todos os continentes, chegando a abrigar por vezes mais de 20 nações simultaneamente representadas. A proposta da obra, longe de pretender resolver o problema de todos os migrantes que procuram a cidade de São Paulo, consiste na tentativa de uma acolhida diferenciada e humanizada, um pequeno sinal que possa servir de luz e testemunho no vasto mundo das migrações, de acordo com o carisma da Congregação. Felizmente esta cidade conta hoje com outros centros de acolhida, bem como de serviços variados aos migrantes.

Nos últimos anos, por conta do agravamento em todo mundo dos conflitos armados de todo tipo, das catástrofes climáticas cada vez mais frequentes e extremas, da intolerância étnica e religiosa, política ou ideológica, e sobretudo do aumento progressivo da assimetria e desigualdade socioeconômica entre países e regiões de todo planeta, verifica-se uma grande pluralidade de imigrantes. Primeiro aqueles dos países vizinhos, os coreanos e haitianos; ultimamente verifica-se a predominância de venezuelanos, afegãos, ucranianos, angolanos, congoleses, nigerianos, sudaneses, e outros países africanos e asiáticos. As motivações se repetem: guerras, pobreza, violência de todo tipo e, impondo-se, pouco a pouco, a devastação do meio ambiente e do aquecimento global.

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