O diferencial é a misericórdia

O amor nunca foi tão necessário. Amor que se manifesta de forma objetiva diante dos pobres e dos refugiados. Amor que se manifesta de forma mais subjetiva na acolhida aos discriminados, na reconstrução das famílias despedaçadas, na descoberta de um amor puro e gratuito. A tudo isso, o Papa Francisco iluminou com seu testemunho. Cabe a nós a conversão.

Papa Libia credito Vatican Media
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Em uma leitura introdutória, o princípio fundamental do marxismo é a contradição entre capital e trabalho, raiz da luta de classes. Para o neoliberalismo, o princípio fundamental é a liberdade individual, com a negação de qualquer autoridade que cerceie a autonomia individual, mesmo que – nas versões mais extremadas – essa autonomia leve à autodestruição pessoal ou ao caos social. Na Doutrina Social da Igreja, esse princípio fundamental é o amor ao próximo. Um certo cinismo de nossos tempos, disfarçado de realismo, dirá que isso é ilusório – mesmo que o sangue dos mártires e até as iniciativas de voluntariado, tão em voga, mostrem que o coração humano anseia por doar-se!

Perguntado, pelo jornal Folha de S. Paulo, sobre o maior legado do Papa Francisco, o Cardeal Leonardo Steiner, voz incontestável de uma Igreja comprometida com os pobres, respondeu: “A misericórdia. Os outros legados são quase que consequência”. De modo similar, o jesuíta argentino Juan Carlos Scannone, amigo e mestre de Bergoglio, escreveu: “Ao ser chamado para escrever um volume sobre a ética social do Papa Francisco, logo pensei que o fio condutor deveria ser o da misericórdia, que não só inspira sua doutrina social, mas também todo o seu agir, ensinar, governar e viver […] Na misericórdia, o Papa Francisco encontra ‘a própria substância’ (Carta ao Cardeal Poli), ‘o núcleo’ (Misericordiae Vultus, MV 9), a ‘palavra-chave’ (ibid.), a ‘síntese’ (MV 1), a ‘lei fundamental’ (MV 2), o ‘feixe mestre’ (MV 10) da Boa Nova de Jesus, ‘a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade’ e ‘o caminho que une Deus ao homem’ (MV 2). ‘Do próprio coração da Trindade, da mais profunda intimidade do mistério de Deus, brota e corre sem parar o grande rio da misericórdia’ (MV 25)”.

Nunca deixará de ser tempo de nos deixarmos tomar ainda mais pela misericórdia do Pai e, a partir daí, olharmos e nos comprometermos, de uma forma ainda mais humana, com a construção de um mundo melhor.

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