O trabalho é para a pessoa, não o contrário

O ser humano se realiza pelo trabalho. Ainda que comporte a fadiga cotidiana e sirva ao nosso sustento, o trabalho nunca poderá ser corretamente vivido sem sua função subjetiva de realização da nossa humanidade.

É mediante o trabalho que o ser humano deve procurar o pão cotidiano, contribuir para o progresso contínuo das ciências e da técnica, e sobretudo para a incessante elevação cultural e moral da sociedade, na qual vive em comunidade com os próprios irmãos. E com a palavra trabalho é indicada toda a atividade realizada por ele, tanto manual quanto intelectual, independentemente das suas características e das circunstâncias […] O trabalho comporta em si uma marca particular do ser humano e da humanidade: a marca de uma pessoa que opera numa comunidade de pessoas; e uma tal marca determina a qualificação interior do mesmo trabalho e, em certo sentido, constitui a sua própria natureza (SÃO JOÃO PAULO II, Laborem exercens, Apresentação)

É como pessoa, pois, que o homem é sujeito do trabalho. É como pessoa que ele trabalha e realiza diversas ações que fazem parte do processo do trabalho; estas, independentemente do seu conteúdo objetivo, devem servir todas para a realização da sua humanidade e para o cumprimento da vocação a ser pessoa, que lhe é própria em razão da sua mesma humanidade […] Embora seja verdade que a pessoa está destinada e é chamada ao trabalho, contudo, antes de mais nada o trabalho é “para a pessoa” e não a pessoa “para o trabalho”. E por esta conclusão se chega a reconhecer justamente a preeminência do significado subjetivo do trabalho sobre o seu significado objetivo. Partindo deste modo de entender as coisas e supondo que diversos trabalhos podem ter um maior ou menor valor objetivo, procuramos, todavia, pôr em evidência que cada trabalho se mede sobretudo pela dignidade do sujeito do trabalho, isto é, da pessoa que o executa (SÃO JOÃO PAULO II, Laborem exercens, LE 6)

Não se fala apenas de garantir a comida ou um decoroso “sustento” para todos, mas prosperidade e civilização em seus múltiplos aspectos. Isto engloba educação, acesso aos cuidados de saúde e especialmente trabalho, porque, no trabalho livre, criativo, participativo e solidário, o ser humano exprime e engrandece a dignidade da sua vida. O salário justo permite o acesso adequado aos outros bens que estão destinados ao uso comum (FRANCISCO, Evangelii gaudium, EG 192)

A grande questão é o trabalho. Ser verdadeiramente popular – porque promove o bem do povo – é garantir a todos a possibilidade de fazer germinar as sementes que Deus colocou em cada um, as suas capacidades, a sua iniciativa, as suas forças. Esta é a melhor ajuda para um pobre, o melhor caminho para uma existência digna. Por isso, insisto que ajudar os pobres com o dinheiro deve sempre ser um remédio provisório para enfrentar emergências. O verdadeiro objetivo deveria ser sempre consentir-lhes uma vida digna por meio do trabalho. Por mais que mudem os sistemas de produção, a política não pode renunciar ao objetivo de conseguir que a organização de uma sociedade assegure a cada pessoa uma maneira de contribuir com as suas capacidades e o seu esforço. Com efeito, não há pobreza pior do que aquela que priva do trabalho e da dignidade do trabalho. Numa sociedade realmente desenvolvida, o trabalho é uma dimensão essencial da vida social porque não é só um modo de ganhar o pão, mas também um meio para o crescimento pessoal, para estabelecer relações sadias, expressar-se a si próprio, partilhar dons, sentir-se corresponsável no desenvolvimento do mundo e, finalmente, viver como povo (FRANCISCO, Fratelli tutti, FT 162)

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