Pela revolução da Fraternidade Universal

Em nossos dias, guerra e paz deixam de ser momentos. Em todo o planeta, continuamente vigora uma guerra mundial em fragmentos. A violência deixa de ser atos isolados para ser estado, modo de ser, de viver, de se relacionar com os outros, de se relacionar com a Terra e com os seus viventes. É a solução universal para todos os conflitos. O outro, o diverso, deixa de ser o parceiro de diálogo e de um relacionamento comunicativo dialético, para ser o inimigo a ser calado e eliminado. O estar mais conectados uns com os outros no mundo virtual não nos tornou mais capazes de uma comunicação mais viva, profunda, fecunda, criativa, dialogal. Em grande parte, ela alimenta uma cultura do confronto e do ódio e não a cultura do encontro, da fraternidade e da amizade social.

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O que significa, nesta situação epocal, propor a mensagem que se concentra na expressão “Todos irmãos”? Esta ecoa a fala de Francisco de Assis, retomada em nossos dias pelo Papa Francisco. Trata-se de uma fala que exorta à fraternidade. Nela ressoa o Evangelho. Comunica o seu sabor. O ser cristão não se define pelo mero assentimento a dogmas ou pela adesão a ritos. O ser cristão se define pela posição que o ser humano toma na tensão dialética de amor e ódio que marca a história humana. Consiste no seguimento de Jesus, em adotar a forma de sua vida e a essência de sua pregação, que diz: “Ouvistes o que foi dito: amarás o teu próximo e odiarás teu inimigo. Pois eu vos digo: amai vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem para serdes filhos do vosso Pai que está nos céus. Pois Ele faz nascer o sol para bons e maus e chover sobre justos e injustos” (Mt 5, 43-45). Estas palavras conclamam a uma metanoia, isto é, uma reviravolta do espírito, do coração humano.

O Evangelho é a dinâmica da vida da terra iluminada e saboreada pela caridade universal. Ser evangélico é ser católico e ser católico é ser capaz de um amor-gratuidade que se abre para todas as diferenças. É ter o modo de ser de Jesus Cristo, que não excluiu ninguém de seu amor, e do Pai de Jesus Cristo, que faz nascer o sol para bons e maus e faz cair a chuva para justos e injustos. É, como notou São Francisco, ser menor, submisso a toda criatura humana por amor de Deus. Esta submissão nada tem de subserviência. É antes, colocar-se como a raiz, que tudo sustenta, como a terra, que, esquecida e desprezada, a tudo concede sustentação e solidez e tudo nutre, generosamente. Este é o modo de ser da Humildade, que é o vigor do poder inocente, do poder convertido em serviço. Quem tem este modo de ser se faz artesão, artífice, da paz. Este caminha na liberdade que a pobreza do espírito, isto é, o desprendimento de todo e qualquer apego, concede.

O mundo moderno evocou tantas vezes a necessidade de revoluções em favor da liberdade e da igualdade. Mas ainda falta realizar, de fato, uma revolução em favor da fraternidade. Só a fraternidade universal pode dar sentido a todas as lutas por libertação e por igualdade. Seremos capazes de dar início a uma revolução da fraternidade? Não foi isso que fez Jesus de Nazaré? Não foi isso que fez Francisco de Assis? Aristóteles dizia que a cidade se fundamenta sobre a justiça e sobre a amizade social. Que reine, na cidade, a justiça é condição necessária, mas ainda não suficiente para a boa vida de todos. É preciso que reine a amizade social. Ela é a condição suficiente da vida boa para a sociedade humana. Sem uma reviravolta da cultura contemporânea, o mundo seguirá sendo cada vez mais triste e escuro, imundo e inóspito, e a Terra continuará sendo cada vez mais deserta e desolada.

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