Com a pandemia e a crise econômica, há indicações seguras de que grande parte da população brasileira não tem segurança alimentar e que algo por volta de 33 milhões de pessoas estão “passandofome” noBrasil (isto é, sofrendo de uma insegurança alimentar grave).
A polarização partidária e o uso ideológico de informações, muitas vezes distorcidas, têm levado muita gente a duvidar dos dados sobre o retorno da fome ao cenário brasileiro. O termo “fome” é impreciso e a comunidade científica prefere falar em níveis de insegurança alimentar, esses claramente definidos. No Brasil, adotou-se uma Escala de Medida Domiciliar de Insegurança Alimentar (Ebia), que se baseia no acesso das famílias aos alimentos, com quatro categorias:
Segurança alimentar: acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente;
Insegurança alimentar leve: receio de falta de alimentos, recorre-se a alimentos com menor qualidade nutricional para se manter a quantidade necessária;
Insegurança alimentar moderada: existe falta de alimentos, mesmo que de baixo valor nutricional, em quantidade necessária para os adultos;
Insegurança alimentar grave: o problema se agrava e inclusive as crianças passam a sofrer a privação de alimentos.
Ainda que a condição de “estar passando fome” seja aplicado apenas à insegurança alimentar grave, a fome já se manifesta numa situação de insegurança alimentar moderada. Deve-se entender também que as pessoas normalmente não “morrem de fome” literalmente. A subnutrição acarreta problemas graves de desenvolvimento, que frequentemente nunca serão superados, nas crianças e uma debilidade geral no organismo que pode levar à morte por várias doenças. Por isso, é difícil encontrar pessoas que literalmente “morreram de fome”.
O estudo sobre o quadro de insegurança alimentar no Brasil mais frequentemente citado atualmente é o levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Pensann), feito em parceria por seis entidades e ONGs, publicado em 2022. Os resultados nacionais estão na tabela abaixo:
A pergunta que surge naturalmente, ainda mais se considerarmos os desacertos dos institutos de pesquisa nas últimas eleições, é se esses resultados são confiáveis. Como em todo estudo amostral, existe uma possibilidade de erro estimado: intervalo de confiança de 95% e margem de erro máxima para o total da amostra de 0,9 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que os pesquisadores acreditam que os resultados reais na população brasileira total não devem variar em mais de 1,0% em relação aos valores aqui apresentados.
Mas, voltemos à pergunta: esses resultados não podem estar totalmente errados? Retomando o exemplo das pesquisas eleitorais, veremos que damos muita importância aos casos em que as estimativas foram muito diferentes dos resultados reais, mas essas são situações relativamente raras – se consideramos a quantidade de projeções feitas nas eleições para presidente, governadores, prefeitos e senadores. Em outras palavras, esse quadro aqui apresentado tem altíssima probabilidade de ser verdadeiro… Uma probabilidade mais do que suficiente para orientar a todos aqueles que estão realmente interessados no bem comum e não apenas em fortalecer suas convicções partidárias.
ACESSE A ÍNTEGRA DO CADERNO FÉ E CIDADANIA