
Todos nós precisamos que a nossa fé seja credível na sociedade e no mundo em que vivemos. Como proclamar um Deus que muda nossas vidas se, ao mesmo tempo, nos unimos a um clima de polarização maniqueísmo e confronto? Aqueles entre nós que têm vocação política, são particularmente chamados a testemunhar que a força profunda do Evangelho está também em ação na vida política. Mas, cuidado! De forma alguma podemos pretender o sonho anacrônico de unir todos os católicos em um único partido político. Respeitando nossas diferenças políticas e a legítima variedade de escolhas, devemos ser capazes de caminhar, trabalhar e até desejar estarmos juntos aos outros.
Jesus Cristo chamou tanto Simão, o Zelota (um homem que era membro de um partido de “esquerda”, na época), quanto Mateus, o cobrador de impostos (um funcionário do governo “de direita”, na época), para a mesa (cf. Lc 6,13-16). Não os chamou para fundar um partido político, mas para ser Igreja, para fazerem juntos a Igreja. Esse convite se repete no nosso tempo. Nosso desafio não é a unidade política dos cristãos, mas dar unidade à política, promovendo o respeito, o encontro e o diálogo.
“A realidade é mais importante que a ideia” (Evangelii Gaudium, EG 231ss). Para evitar preconceitos e medos infundados em relação a quem pensa diferente ou tem uma opção política diferente, precisamos tocar a realidade, ou seja, encontrarmo-nos face a face, para nos olharmos uns aos outros, ouvirmos uns aos outros e reconhecermos quando o outro, apesar de continuar a pensar politicamente de forma diferente, busca honestamente o bem, assim como eu.
“A unidade prevalece sobre o conflito” (EG 226ss). Não devemos ter medo do conflito ou da dissidência. Os cristãos não se esquivam do conflito, mas não permanecemos fechados nele, procuramos superá-lo, integrando o valor que as diferentes pessoas e grupos têm na construção do bem comum.
Desde sua fundação, nossa Academia de Líderes Católicos compreendeu que faz parte da sua natureza acompanhar os cristãos que têm vocação política, com a ajuda da Doutrina Social da Igreja. Neste caminho, tem sido fundamental a palavra, a orientação e o encorajamento que temos tido dos pastores, a começar pelo Papa Francisco. No caso do Brasil, o Cardeal Odilo Scherer nos encorajou a superar a tentação de uma cultura bipolar: “Os extremismos levam à cegueira ou, pelo menos, à miopia, à deturpação da realidade. Fundamentalismos são fechados e avessos ao diálogo, preferem a luta contra quem é diferente, pensa diversamente e tem escolhas partidárias ou convicções religiosas distintas das suas. Daí vem a polarização sectária, fonte de agressões e violências de todo tipo, até mesmo mediante o recurso à difamação, à calúnia e à violência física”. No caso do Manifesto pela dignidade da política a serviço do bem comum, foram fundamentais o apoio e o estímulo dados pelo Cardeal José Cobo, arcebispo de Madri, bem como por outros pastores que nos vem acompanhando, ouvindo e dialogando.

A Academia Latino-americana de Líderes Católicos dedica-se à formação, numa perspectiva católica, de lideranças comprometidas com a transformação social e política da América Latina. Fundada em 2011, oferece programas de capacitação presenciais e online para políticos, líderes comunitários e da sociedade civil. Para mais informações ver o site da Academia, https://liderescatolicos.com.br/index.html.