Nos tempos atuais, muitos políticos buscam os votos dos cristãos. Frequentemente, porém, suas ideias estão até em desacordo com o magistério católico, e seus comportamentos não são nada cristãos. Franco Montoro foi um exemplo de político coerente, nas ideias e nas ações.
Franco Montoro fez parte de um grupo de políticos que viveu as agruras do século XX, mantendo-se firmes em seu compromisso com o bem comum e a democracia. Dizia que cada vez que ia tomar uma decisão, pensava primeiro nos pobres. Perguntava a si mesmo: como essa decisão que estou tomando vai impactar a vida dos pobres? Não importava se a questão dizia respeito a duplicar uma estrada, construir um hospital, criar uma escola, proteger uma floresta ou propor um conselho participativo. Sabia que toda decisão, não importa qual seja o setor, tem um impacto sobre a população, em especial sobre os mais pobres, que são os que mais sofrem com os erros dos governos.
Assim, os princípios da doutrina social da Igreja, permeavam os seus mandatos (foi governador e senador por São Paulo, deputado federal e estadual, ministro do trabalho). Por exemplo, explicitou o princípio da subsidiariedade, pouco conhecido entre nós, se concretizou no tema da descentralização, quando criou escritórios regionais de governo e percorreu o interior como governador, para ficar mais próximo da população. Visando aumentar a participação, criou conselhos participativos de mulheres, jovens etc. Traduzia valores e princípios cristãos em projetos e programas governamentais.
Além disso, pensava em batalhas permanentes, orientadas pelos ensinamentos cristãos e pela solidariedade: a batalha da educação, a da saúde, aquela da assistência… Respostas concretas às demandas da população. Era um homem de diálogo e escuta, aberto à conversa, em especial com os grupos que normalmente não são escutados. Procurava ouvir as pessoas, em lugar de impor políticas e projetos que não tinham aderência aos interesses e necessidades reais da população.
Também em sua conduta pessoal, Franco Montoro dava um testemunho cristão. Dava também testemunho de uma vida em família, sempre acompanhado pela esposa, dona Lucy, pelos filhos e netos. Demonstrava a importância da família no contexto político. Era um homem muito ligado à Igreja, vínculo que se manifestava no plano acadêmico (foi um dos grandes professores do curso de Direito da PUC-SP), no plano político (foi um dos fundadores do Partido Democrata Cristão, nos anos ’50. Líder inspirador de muitos outros, fundou o Instituto Jacques Maritain, em parceria com outros intelectuais católicos brasileiros, em particular Dom Cândido Padim.
Seguindo a tradição do pensamento social católico, que sempre propôs a solidariedade entre as nações, foi um grande defensor da integração latino-americana. Acreditava sinceramente que “para a América Latina, a opção é clara: integração ou atraso”. Com esta convicção, teve atuação destacada para que a integração latino-americana figurasse na Constituição de 1988 (Artigo 4º) e na criação do Mercosul.
Ser um político cristão, para ele, não foi uma opção ideológica ou um aguerrido combate contra os adversários, mas um modo de ser que permeou toda a sua vida