
“Na Laudato si’ ressaltei que hoje, mais do que nunca, tudo está intimamente ligado e a salvaguarda do meio ambiente não pode ser separada da justiça em relação aos pobres, nem da solução dos problemas estruturais da economia mundial. Por conseguinte, é preciso corrigir os modelos de crescimento incapazes de garantir o respeito pelo meio ambiente, o acolhimento da vida, o cuidado da família, a equidade social, a dignidade dos trabalhadores e os direitos das gerações vindouras. Infelizmente, ainda não foi ouvido o apelo a tomar consciência acerca da gravidade dos problemas e sobretudo a pôr em prática um modelo econômico novo, fruto de uma cultura da comunhão, baseado na fraternidade e na equidade […] Perante esta urgência, todos, absolutamente todos nós, somos chamados a rever os nossos esquemas mentais e morais, para que estejam mais em conformidade com os mandamentos de Deus e com as exigências do bem comum” (Carta para o evento “Economia de Francisco”, 01/mai/2019).
“A tecnociência, bem orientada, pode produzir coisas realmente valiosas para melhorar a qualidade de vida do ser humano […] É capaz também de produzir coisas belas e fazer o ser humano, imerso no mundo material, dar o ‘salto’ para o âmbito da beleza […] Não podemos, porém, ignorar que a energia nuclear, a biotecnologia, a informática, o conhecimento do nosso próprio DNA e outras potencialidades que adquirimos nos dão um poder tremendo. Ou melhor: dão, àqueles que detêm o conhecimento e sobretudo o poder econômico para o desfrutar, um domínio impressionante sobre o conjunto do gênero humano e do mundo inteiro. Nunca a humanidade teve tanto poder sobre si mesma, e nada garante que o utilizará bem, sobretudo se se considera a maneira como o está a fazer […] ‘O homem moderno não foi educado para o reto uso do poder’ […] A sua liberdade adoece, quando se entrega às forças cegas do inconsciente, das necessidades imediatas, do egoísmo, da violência brutal […] Carece de uma ética sólida, uma cultura e uma espiritualidade que lhe ponham realmente um limite e o contenham dentro de um lúcido domínio de si […] A economia assume todo o desenvolvimento tecnológico em função do lucro, sem prestar atenção a eventuais consequências negativas para o ser humano. A finança sufoca a economia real […] Em alguns círculos, defende-se que a economia atual e a tecnologia resolverão todos os problemas ambientais, do mesmo modo que se afirma, com linguagens não acadêmicas, que os problemas da fome e da miséria no mundo serão resolvidos simplesmente com o crescimento do mercado […] O mercado, por si mesmo, não garante o desenvolvimento humano integral nem a inclusão social” (Laudato si’, LS 103-109).
“O mundo da economia precisa de uma mudança. Não o mudareis apenas tornando-vos ministros, prêmios Nobel ou grandes economistas — todas estas coisas são boas — mas mudá-lo-eis sobretudo amando-o, à luz de Deus, injetando nele os valores e a força do bem, com o espírito evangélico de Francisco de Assis […] Amar a economia, amar concretamente os trabalhadores, os pobres, privilegiando as situações de maior sofrimento. Não são os grandes e os poderosos que mudam o mundo para melhor: é o amor o primeiro e maior fator de mudança. Um economista de vida santa, Beato Giuseppe Toniolo, escreveu a este propósito que quem salvará verdadeiramente a sociedade ‘não será um diplomata, um douto, um herói, mas um santo, aliás, uma sociedade de santos’ […] Gostaria de vos deixar três ideias: ser testemunhas, não ter medo, esperar sem se cansar” (Discurso à delegação da “Economia de Francisco”, 25/set/2024).