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A caridade e o cuidado com os pobres 

Neste último 4 de outubro, dia de São Francisco de Assis, o Papa Leão XIV publicou sua primeira exortação apostólica, intitulada “Dilexi te”, sobre o amor para com os pobres. Nela, o Santo Padre nos mostra que o cuidado com os mais necessitados e marginalizados brota da caridade cristã e está no coração do Evangelho de Jesus Cristo e da Igreja, sendo preciso ser vivido por todo ser humano e especialmente pelos católicos. 

Entender esse conceito e praticá-lo com toda alma é essencial para vivermos segundo os preceitos de Deus e nos configurarmos a Ele. No documento, o Papa recorda que o maior exemplo de amor aos pobres foi o próprio Jesus, fazendo a si mesmo um pobre: “Na sua encarnação, Ele ‘esvaziou-se de si mesmo, tomando a condição de servo.’ […] Trata-se de uma pobreza radical, fundada na sua missão de revelar a verdadeira face do amor divino” (Dilexi te, 18). 

Esse ato de “pobreza voluntária”, contudo, não se limitou ao seu mistério de Encarnação. Pelo contrário, ao longo de todo o Evangelho vemos Nosso Senhor se identificando com cada um dos que sofrem, dizendo: “Em verdade, vos digo: todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequeninos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40). Aquele, portanto, que rejeita ou ignora o pobre faz o mesmo para com o Senhor. Por isso, João escreve em sua primeira epístola: “Quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê” (1Jo 4,20). 

Amar a Deus e amar o próximo são, por consequência, duas ações que brotam da mesma fonte: a caridade divina. O próprio Catecismo da Igreja Católica nos diz que “Jesus fez da caridade o novo mandamento. Amando os seus ‘até o fim’, manifesta o amor do Pai que ele recebe. Amando-se uns aos outros, os discípulos imitam o amor de Jesus que eles também recebem” (CIC 1823). São João Crisóstomo, em suas homilias, complementa: “Queres honrar o Corpo de Cristo? Não permitas que seja desprezado nos seus membros, isto é, nos pobres que não têm o que vestir, nem O honres aqui no templo com vestes de seda, enquanto lá fora O abandonas ao frio e à nudez” (Homiliae in Matthaeum, 50,3). 

Além disso, o exercício da caridade, advinda do amor de Cristo, também nos transforma profundamente interiormente. Deixamos de ser egoístas, aperfeiçoamo-nos nas virtudes, tornamo-nos mais alegres, pacíficos e misericordiosos. Na exortação, o Papa é claro ao dizer que “este olhar cristocêntrico e profundamente eclesial leva a sustentar que as ofertas, quando nascidas do amor, não aliviam apenas a necessidade do irmão, mas purificam também o coração de quem as dá e está disposto a uma mudança” (Dilexi te, 46). Também, ao ajudar “os mais pequeninos” sem esperar nada em troca, “libertamo-nos do risco de viver as nossas relações segundo a lógica do cálculo e das vantagens, abrindo-nos à gratuidade que existe entre aqueles que se amam e que, por isso, partilham tudo” (Dilexi te, 27). 

Sejamos, portanto, dóceis à ação do Espírito Santo e deixemos a caridade atuar em nós, passando a ver os pobres como irmãos e trabalhando ativamente para consolá-los em suas condições individuais. João, em sua primeira epístola, nos diz: “Se alguém possui riquezas neste mundo e vê o seu irmão passar necessidade, mas diante dele fecha seu coração, como pode o amor de Deus permanecer nele?” (1Jo 3,17). Que essas palavras duras e verdadeiras não se apliquem a nós. Sejamos sempre testemunhas vivas do amor de Deus, recordando: ao ajudar os carentes, “somos chamados a identificar-nos com o coração de Deus, que está atento às necessidades dos seus filhos, especialmente os mais necessitados” (Dilexi te, 8). 

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