A falta de convicção dos pais e os resultados na vida da criança

Muito se diz hoje em dia sobre a ansiedade das crianças, sobre a quantidade de diagnósticos de transtornos de atenção e hiperatividade (TDAH), transtornos opositores e desafiadores (TOD), dos altos índices de desobediência e de dificuldades em lidar com a infância e, na maioria dos casos, os responsáveis apontados para esses fenômenos são: excesso de telas, excesso de informações, rotinas cheias de compromissos, ritmo acelerado de vida. Tenho certeza de que todas essas coisas têm sua parcela de responsabilidade nesses diagnósticos. No entanto, como educadora e orientadora familiar experiente, arrisco dizer, baseada em minha vasta experiência em atendimento familiar, que o que mais causa impacto e gera esses fenômenos na vida das crianças é a falta de convicção dos pais no exercício da autoridade sobre elas. 

Tenho me deparado cotidianamente com essa dificuldade dos pais de estabelecer com convicção o que consideram o melhor para seus filhos e fazer esse melhor acontecer. Trata-se de pessoas extremamente bem-intencionadas, porém, sem força de decisão. Pessoas que temem os sentimentos dos filhos, temem desagradar-lhes, temem o trabalho que dá enfrentar um descontentamento infantil, uma birra… Enfim, em última instância, pessoas que querem evitar desconfortos na relação e, desta forma, oferecem um ambiente caótico à criança. Um ambiente em que “não” vira “sim”, “talvez”, “só um pouquinho” … Em que “Isso é errado, não é para fazer” muda porque “a criança ainda não entende, não adianta proibir. Quando crescer, vai entender”. Enfim, onde estão os pais que tinham valores e princípios inegociáveis e que não se desmanchavam em argumentos para convencer os filhos sobre o certo e o errado? Pais, não é necessário convencer os filhos, porém, é fundamental que estejam convencidos – que tenham o que estou chamando de convicção naquilo que estão transmitindo, exigindo, determinando. 

Seus filhos precisam da sua convicção e da sua coerência – isso os deixará seguros. 

O papel dos pais é dar direção, transmitir valores e princípios para a vida. Em outras palavras: ensinar os filhos a viver. 

Viver em sociedade, encontrar sentido amplo para a vida, exercerem verdadeiramente sua liberdade, construir a felicidade, enfim, viver como pessoas – com todo o potencial que têm. 

No entanto, essa falta de convicções e de clareza – frutos de um relativismo que foi tomando conta do imaginário de toda a sociedade – vão gerando um ambiente familiar desordenado, caótico. Um ambiente em que o nível de exigência é baixo, o sofrimento é evitado a todo custo, afinal, felicidade é quase sinônimo de prazer e, portanto, o sofrimento não cabe na equação e assim vamos formando gerações enfraquecidas, ansiosas, agitadas, inseguras, vitimizadas. 

Precisamos quebrar esse ciclo, precisamos conduzir nossas crianças com segurança para que possam se desenvolver de modo equilibrado, harmonioso. Precisamos lembrar que educar custa, tira da zona de conforto, necessariamente promove frustrações, mas, essa é a missão dos pais. A maternidade/paternidade nos dá uma grande oportunidade, a de nos salvar de nosso próprio egoísmo, de aprender a alegria de nos doarmos, de entregarmos a vida nessa missão de formarmos outras pessoas. Mas isso exige um sim, exige uma determinação. Exige entender que o que não fizermos para nossos filhos, outros não poderão fazer, afinal, essa é uma missão intransferível. 

Pais, não percam essa oportunidade. Busquem no silêncio do coração seus valores, suas convicções e os transmitam como herança aos seus filhos, com convicção e firmeza. Isso certamente fará deles e de vocês pessoas muito melhores e mais saudáveis. 

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