A grande esperança

Podemos imaginar o ânimo dos discípulos após a condenação de Jesus à morte de cruz e sua sepultura. Estavam sem rumo, abatidos, perplexos, frustrados. Foi como se o chão tivesse desaparecido debaixo de seus pés ou como se vivessem um pesadelo e custava-lhes acordar para a realidade dos acontecimentos. Os dois discípulos de Emaús retratam bem este desencanto, que havia tomado conta deles: “Nós esperávamos que fosse ele quem libertaria Israel do domínio dos Romanos” (cf. Lc 24,13-35).

Igualmente Tomé, de tão triste e decepcionado que estava, não conseguia acreditar no testemunho dos outros que tiveram um encontro com o Senhor ressuscitado (cf. Jo 20,24-29). Pedro, liderando os demais apóstolos, resolveu encarar a realidade e virar página, tomando uma decisão: “Eu vou pescar. E os demais disseram: ‘Vamos também nós contigo’” (Jo 21,1-3). A decepção e o desânimo haviam tomado conta de todos depois da morte de Jesus. Não restava outra alternativa, senão voltar a fazer o que haviam feito antes do chamado de Jesus, à beira do mar da Galileia.

Não foi diferente com Maria Madalena e as outras mulheres, que foram ao túmulo de Jesus no “primeiro dia da semana, bem cedo”, para completar as práticas funerárias e ungir com perfumes o corpo de Jesus. De fato, Ele havia sido sepultado às pressas, uma vez que, na Sexta-feira Santa, o tempo disponível tinha sido escasso, pois já iniciava o sábado, que era de especial solenidade. Elas foram ao túmulo amarguradas e chorosas por causa da morte violenta imposta ao seu Senhor. Quem podia imaginar a surpresa que elas teriam? Encontraram o túmulo vazio, mas foram as primeiras a ver e ouvir Jesus depois de sua Ressurreição.

O belo hino da sequência pascal, cantada no Domingo da Páscoa da Ressurreição, traz a pergunta: “Responde, pois, ó Maria: no teu caminho, o que havia?” E ela: “Vi Cristo ressuscitado, os anjos da cor do sol, o túmulo abandonado. Ressuscitou, de fato, Cristo, minha esperança! Vi a glória do Ressuscitado”. O hino retrata o encontro de Maria Madalena com Jesus ressuscitado, ainda junto do túmulo, conforme lemos no Evangelho de São João (cf. Jo 20,1-18). Maria Madalena e as outras mulheres que estavam com ela foram as primeiras a recobrar ânimo e correram para dar a boa notícia da Ressurreição de Jesus aos demais discípulos.

A Ressurreição de Jesus inverteu o estado de ânimo de Pedro, Tiago, João, Tomé e dos demais apóstolos; também dos discípulos de Emaús e das santas mulheres. Lendo os relatos evangélicos sobre os encontros de Jesus ressuscitado com os discípulos, nota-se como a tristeza, decepção, desencanto e desânimo são mudados em alegria, fé e confiança reencontradas, coragem e prontidão para seguir Jesus novamente, até nas perseguições e torturas e martírios sofridos, por causa de Jesus. Não foi uma convicção intelectual, a partir de certos argumentos e raciocínios, que os levou a crer e proclamar com firmeza: “Verdadeiramente, o Senhor ressuscitou”. Mas foram encontros com Jesus nos quais custou-lhes crer. Eles não estavam criando uma fantasia, um mito, uma ilusão coletiva… Indubitavelmente, o mesmo Jesus que haviam conhecido antes os encontra novamente após a sua morte. Mas, agora, glorificado e não mais sujeito às leis do tempo e do espaço, nem a outras limitações que fazem parte da vida neste mundo.

“Ressuscitou o Cristo, minha esperança”, proclama Maria Madalena. A Ressurreição de Jesus aconteceu neste mundo e no tempo, mas já é parte das realidades do mundo futuro e glorioso de Deus, no qual o Ressuscitado entrou, como “primogênito dentre os mortos” (mortais), conforme a bela expressão do hino cristológico da Carta aos Colossenses (cf. Cl 1,18). Com o mistério da encarnação, o Eterno entrou no tempo, para participar da nossa experiência de criaturas limitadas ao tempo e ao espaço. Com a Ressurreição de Jesus, o mundo e o tempo são acolhidos na eternidade de Deus e se abre, para nós, mortais, um horizonte de esperança sobrenatural. Em Jesus ressuscitado, Filho de Deus e membro de nossa humanidade, já temos um representante glorificado junto de Deus Pai.

Maria Madalena tem razão em proclamar: “Ressuscitou verdadeiramente o Cristo, minha esperança!” A sua é a esperança de cada um e de toda a humanidade. Em Jesus ressuscitado, temos a certeza de que o sofrimento, o ódio, as tramas da injustiça e da morte e todas as coisas que oprimem a dignidade humana não possuem a última palavra sobre a nossa existência, ainda sujeita às vicissitudes do tempo, do espaço e das relações humanas. Deus preparou para nós muito, mas muito mais! Este mundo, porquanto seja belo e atraente, ainda faz parte da realidade contingente e limitada da existência.

Não somos mais prisioneiros deste mundo. Não estamos mais limitados a uma bolha fechada, em que dependemos apenas de nós mesmos e encontramos somente o nosso próprio limite. O Cristo ressuscitado abriu-nos o caminho e as portas da eternidade. Deus encheu nossa vida de esperança, de grande esperança, alicerçada no amor misericordioso de Deus Criador e Salvador.

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Anna Maria Cintra
Anna Maria Cintra
8 meses atrás

O texto é muito claro e bonito ao cobrir com clareza todo o percurso após a morte e ressurreição de Jesus.