A leitura politizada da sucessão papal 

Com sua partida, o Papa Francisco deixa um legado marcante para a Igreja Católica do século XXI. Muitos afirmam que ele foi o responsável por trazer a Igreja para os desafios e debates deste novo século – e essa visão é bastante pertinente para refletirmos sobre sua trajetória. Francisco conseguiu, de maneira notável, ser um reformista sem romper com a tradição. Em um mundo cada vez mais polarizado entre esquerda e direita, certo e errado, seu pontificado pode ser visto como um feito revolucionário. 

Algo também digno de nota é a natureza do papado, que, por sua inspiração divina, apresenta o papa como um enviado de Deus, em contraponto aos valores do mundo. Essa característica fica evidente nos últimos três pontífices. Durante a Guerra Fria, São João Paulo II teve papel central na resistência ao comunismo, contribuindo para a queda do Muro de Berlim e para o fim do conflito. Já Bento XVI, em um contexto de relativismo moral, firmou-se como defensor intransigente da doutrina, ajudando a manter viva a tradição da Igreja na modernidade. Por fim, Francisco assumiu o papado em um momento em que regimes populistas ganhavam força, frequentemente marginalizando minorias. Sob esse olhar, os três papas se complementam — e, juntos, refletem diferentes respostas da Igreja ao mundo contemporâneo. 

Infelizmente, a discussão sobre os papáveis — os cardeais mais cotados para se tornarem papa — foi reduzida a uma disputa política nas redes sociais, como se a escolha do pontífice se desse por articulação humana, desconsiderando a ação sobrenatural do Espírito Santo. E não é apenas o mundo laico ou a grande mídia que agiu assim; nós, católicos, também acabamos por transformar o Conclave em uma espécie de torcida, como se estivéssemos acompanhando uma final de campeonato ou uma votação por inteligência artificial. 

Em 27 de abril, por exemplo, um jornal publicou em seu perfil no Instagram que alguns influenciadores católicos não haviam se manifestado sobre a morte de Francisco. Embora o jornal tenha cometido erros em alguns nomes citados, em outros foi preciso. A publicação transmite uma mensagem clara: por ser alinhado a uma posição, o jornal se valeu da imagem do Santo Padre para atacar católicos de orientação contrária. No entanto, é igualmente verdade que alguns desses perfis realmente se calaram diante da morte do papa — o que causa estranhamento, considerando que seus conteúdos giram em torno de pautas católicas. Teriam evitado o tema por saberem que parte de seu público não se identifica com Francisco? Estariam omitindo questões centrais para o mundo católico para não desagradar a seus “seguidores fiéis”? 

A verdade é que tendeu-se a interpretar o Conclave sob uma ótica ideológica, esquecendo que a escolha de um papa é, antes de tudo, uma ação do Espírito Santo. O papa é o sucessor de Pedro, o pastor chamado a conduzir um rebanho de mais de 1,4 bilhão de fiéis. Por isso, precisamos substituir a ideologia pela oração. Afinal, após o Habemus Papam, deixamos o campo das ideias e entramos no mundo real — um mundo que o novo Pontífice, Leão XIV, terá que conduzir com sabedoria, coragem e fé. 

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