Queridos pais, hoje quero escrever especialmente para vocês. Escrevo com todo o amor e carinho, pois sei o quanto essa missão é árdua e o quanto todos e cada um querem acertar; porém, o que “falarei” não é tão fácil de “ouvir”. No entanto, como ouvi recentemente de um sacerdote muito novo, mas muito sábio: “A palavra que salva às vezes precisa ser dura”. Portanto, peço que abram os corações e leiam com carinho e coragem, com verdadeira vontade de olhar para dentro de vocês mesmos e desse rico mundo interior que cada um tem em si, tirar o melhor e identificar o que precisa ser mudado.
Como trago diversas vezes nesta coluna, vejo este momento que vivemos como uma época de grande crise de autoridade. Essa crise é geral, porém, afetou fortemente os lares, as relações familiares. Os pais encontram imensa dificuldade em orientar com firmeza seus filhos, colocando limites claros e formando pessoas lúcidas.
Também costumo dizer que quem tem autoridade é aquela pessoa que suscita no outro segurança, confiança, admiração por sua coerência, por sua postura. Enfim, a autoridade dos pais se inicia no vínculo estreitíssimo que têm com os filhos e vai crescendo à medida que estes percebem neles conhecimento sobre a vida, coerência na luta por ser melhor, prudência nas ações e orientações… No entanto, como podemos dar aquilo que não temos e, pior, aquilo que nem percebemos que não temos?
Sim, infelizmente recebo hoje, em meus atendimentos, muitíssimos pais imaturos. Estamos todos – quando digo todos, digo todos de verdade: eu e todos vocês – imersos numa cultura extremamente materialista, hedonista e, portanto, submersos numa realidade em que o prazer e o conforto são a grande busca da vida. Que pena.
Pessoas são capazes de tanto, de um processo de aprendizagem, crescimento e doação imensos e, no entanto, estamos nos conformando com muito pouco: com o amor-próprio, com a própria satisfação, com o próprio conforto. Estamos fracos. Não suportamos inconvenientes, queremos facilidades. Filhos nos oferecem as mais ricas experiências e suscitam os mais diferentes sentimentos, no entanto, facilidade e conforto, NÃO. Eles nos desinstalam do nosso lugar e nos impulsionam a buscarmos mais – mais paciência, mais fortaleza, mais coragem, mais generosidade, mais capacidade de doação e esquecimento próprio, ou seja, mais maturidade. Infelizmente, vejo pessoas resistindo a esse processo de amadurecimento, com dificuldade de sair da zona de conforto para buscar o bem dos filhos, terceirizando a responsabilidade e, o pior de tudo, terceirizando a responsabilidade até mesmo para as próprias crianças – deixam que escolham por impulso, confundem atitudes impulsivas e inadequadas com autonomia e liberdade. Quando os pequenos estão expostos a alguma frustração natural da vida, esbravejam com quem for preciso para que sejam poupados e assim, os aprisionam na mesma imaturidade da qual são prisioneiros… que emaranhado complicado de desatar!
Queridos pais, abram os corações e acolham este conselho de alguém bastante experiente: saiam da zona de conforto, não se sintam vítimas ao precisarem dormir menos, lutar mais, dar suporte aos filhos para enfrentarem as frustrações. Aliás, fortaleçam-se, pois os pequenos precisam da fortaleza dos pais emprestada para poderem suportar os pequenos desafios e sair deles maiores, mais capazes, mais eficazes.
Determinem-se a olhar com coragem para dentro de vocês e identifiquem em que aspectos precisam amadurecer, em que pontos precisam de mais luta, mais esforço e empreendam este caminho árduo, mas extremamente frutuoso da maturidade pessoal. Tenham certeza: a única felicidade que realmente vale a pena é essa.