A quem nos ama desse jeito, quem não amaria de volta?

Nestes últimos dias de dezembro, o coração de homens e mulheres do mundo inteiro se aquece, as discórdias se abrandam, e mesmo aqueles que não creem em Cristo sentem, sem saber direito o motivo, um clima diferente no ar. Nós, cristãos, conhecemos bem a causa dessa alegria: não são os trenós ou as renas, nem os duendes ou as estrelas. Antes, nós nos alegramos porque chegou o Natal: nasceu para nós um Menino, foi-nos dado um Filho – e esta mesma criança que é carregada nos braços da Virgem Maria sustenta no ser, com seus braços poderosos, o universo com todas as suas galáxias.

Como entender um mistério tão profundo? Como pode um menino humano ser também Deus criador? Como pode uma mãe gerar virginalmente Aquele que a gerou? Este profundo mistério da Encarnação foi a solução encontrada pela Providência divina para resolver o drama do pecado humano.

É que a ofensa de nossos primeiros pais não foi feita contra uma criatura qualquer: por seu orgulho, eles se rebelaram contra o próprio Deus, cuja dignidade é infinita – e por isso a reparação desta ferida exigira um ato de amor de valor também infinito. A salvação, portanto, só podia vir do próprio Deus. No entanto, o Salvador, se iria de verdade redimir a natureza humana decaída, precisava ser, ele próprio, verdadeiramente humano – pois, como diziam os Padres da Igreja, “o que não foi assumido, não foi redimido”.

E não bastava que o Salvador fosse humano – ele precisava ser “da estirpe de Jessé”, ou seja, pertencer à grande árvore genealógica da família humana, que fora contaminada pelo pecado de Adão e Eva. A cura precisava vir de um novo ramo sadio, a ser enxertado desde fora nesta planta doente.

Assim é que o Verbo se fez carne, e nasceu da Virgem Maria: permanecendo verdadeiro Deus, tornou-se também verdadeiro homem, e Filho do Homem. E tão humano é o Menino Jesus que Ele tinha todas as necessidades de um bebê: era pequeno, frágil e vulnerável; conhecia as lágrimas e os sorrisos, como nós.

Já houve quem se escandalizasse com a humanidade de Jesus: mas é precisamente esta humanidade que permite nossa salvação. Se Cristo precisava ser alimentado e acalentado, se suas fraldas precisavam ser trocadas, Ele era verdadeiramente humano, e foi capaz de salvar nossa humanidade decaída.

Podemos mesmo exclamar: benditas fraldas de Belém!

A Encarnação de Deus num Meni- no tem, assim, profundas razões teoló- gicas, que explicam seu papel em nossa salvação. Mas, além dos raciocínios e argumentos, há também um fator emo- cional, bem propriamente humano: Je- sus quis nascer como criança para que o amemos com ternura. As crianças conquistam a terna afeição de quem as vê – quantas vezes, por exemplo, o sorriso de uma criança no ônibus ou no metrô pode desfazer a carranca do mais atribulado dos circundantes? E se este é o caso, quem não amará de volta, com toda ternura, a um Deus Infante, envolvido em trapos, tremendo de frio, pobrezinho e desprezado, numa gruta em Belém?

Cristão, vinde todos, ó vinde adore-mos o Salvador!

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários