Confesso que quanto mais atendo as famílias, mais percebo o quanto os pais modernos estão despreparados para lidar com a realidade de educar uma pessoa. O mais interessante é que, aparentemente, nos primeiros meses de vida, diante da plena debilidade e fragilidade daquele ser, da impossibilidade de que fique sem os cuidados dos adultos, os pais cuidam com primor dos pequenos. No entanto, basta a criança começar a andar, falar e manifestar com mais clareza seus desejos imaturos, e demonstrar sentimentos negativos diante dos limites e orientações que os pais estabelecem, que ela é, imediatamente, tomada como uma pessoa apta a decidir, opinar, escolher. Em pouquíssimo tempo, a rotina diária se transforma em um verdadeiro caos.
“Ele não aceita dormir em sua cama, chora o tempo todo”; “Ele não come de jeito nenhum, não há quem o faça comer”; “Se eu não comprar o que ele quer, não para de berrar no mercado”… enfim, são centenas de exemplos que poderia dar. De modo impressionante, uma simples rotina de preparar a criança para a escola torna-se um verdadeiro dilema na vida da família.
Ouço com frequência nas mentorias: “nossa, é impossível conviver com ele”; “É uma criança exaustiva”; “Ficar muito tempo com ela é muito desgastante”. Em alguns casos, chega-se ao cúmulo de pais que dizem: “É uma criança insuportável”. Que triste! Que tragédia para uma criança de tão pouca idade transformar-se em um ser difícil de conviver!
O pior: parece que as crianças “vieram assim de fábrica”, que nasceram com esse modo impositivo e “mandão” de ser e que os pais simplesmente se adaptam ao modus operandi da criança, mesmo que com muita dificuldade e descontentamento, mas não sabem o que fazer para contribuir com o aperfeiçoamento desse modo inicial de ser.
Esta sim é a grande tragédia: o movimento de destruição da autoridade foi tão grande e tão bem feito que os pais não se sentem no “direito” de educar seus filhos. Percebem-se tirando a liberdade e autonomia das crianças se não as deixam levantar o tempo todo para ir ao banheiro, beber água, pegar um boneco na hora de dormir. Acreditam que precisam atender a todas as demandas dos pequenos: “Me dá a mão, fica comigo, não saia do quarto”… e contam isso como se as simples palavras dos filhos fossem ordens; como se não as atender fosse causar traumas aos pequenos, fosse dar margem a que eles não amem os pais. Mas arrisco algo ainda pior: não atender a essas demandas gera um estresse com o qual não estão dispostos a lidar.
Não se enganem, queridos pais: são vocês que lapidam seus filhos. É a família que forja o caráter da criança, esta é sua missão: manter os filhos vivos e ensiná-los a viver. Para isso, é preciso ter critérios, valores, objetivos, propósitos e, sem dúvida alguma, ter autoridade sobre a criança e conduzi-la para aquilo que é bom e verdadeiro. Só os adultos são capazes disso.
As crianças, embora pareçam muito determinadas e capazes, não estão aptas a dar conta dos “próprios narizes” e precisam de pessoas responsáveis, amorosas, maduras o suficiente para enfrentar as dificuldades e encontrar estratégias que as conduzam à sua melhor versão.
Pais, não obedeçam a seus filhos. Isso os deixa inseguros, irritadiços, difíceis de conviver e os transforma em pequenos ditadores. Eles precisam ser treinados, ensinados a esperar, a suportar, a enfrentar, a cuidar, a se frustrar sem desmanchar. Sim, missão árdua, mas missão assumida quando a criança é concebida.
Ainda é tempo de abrir os olhos, de perceber quais são suas fraquezas, o motivo pelo qual não dão conta de conduzir seres tão pequenos. Tomem consciência do quanto eles precisam dessa autoridade que oferece segurança, que dá contorno e que torna as crianças pessoas melhores, mais aptas ao convívio, mais amáveis e virtuosas.