A vinha do Senhor

A 5º sessão da assembleia do sínodo arquidiocesano de São Paulo, realizada no sábado, dia 1º, foi iluminada pelo trecho do Evangelho segundo São Mateus (20,1-16), em que Jesus compara o Reino de Deus ao proprietário generoso que chama os trabalhadores para a sua vinha. Metaforicamente, a vinha é a Casa de Israel, o Povo de Deus a ser cuidado. Ambientada na comunidade de Mateus, a parábola reflete a resistência dos primeiros membros para aceitar os novos que se convertiam, colocando-os no mesmo plano de igualdade que eles tinham diante de Deus. 

Na perspectiva do nosso caminho sinodal, chegamos a uma etapa decisiva, das escolhas fundamentais, dos caminhos a seguir, das propostas a serem feitas e aprofundadas. A partir desse texto evangélico, podemos acolher três apelos, convites ou mandatos. 

Primeiro: “o proprietário saiu de madrugada” — “por volta da hora terceira saiu de novo” — “por volta da hora sexta e da hora nova, saiu novamente” — “e saindo outra vez na undécima hora”. É sempre tempo. Em todas as horas, em todos os lugares, sejamos uma “Igreja em saída”, que busca, que chama, que se insere na realidade, que se compromete com a vida das pessoas para anunciar a elas o Evangelho, com ardor e paixão pelo Reino. 

Segundo: Jesus “viu outros que es- tavam na praça, desocupados” – “encontrou outros que estavam na praça” e perguntou: “Por que estais aqui o dia inteiro, desocupados?”. Eles responderam: “Porque ninguém nos contratou”. E meu são esses na perspectiva sinodal? São os afastados, os empobrecidos, os descartados, os impedidos, os indiferentes, os insensíveis, os não praticantes, os necessitados do anúncio e do testemunho, os das periferias existenciais e geográficas, os pequenos, os vulneráveis, os silenciados. E que pergunta desafiadora, que se aplica a nós e a todos: “Por que estais aí desocupados?”. 

O terceiro apelo é o chamado que o Senhor faz a cada um de nós: “Ide também vós para a minha vinha”. Somos chamados a trabalhar na vinha do Senhor, nesta metrópole onde Deus habita, fez sua morada e vive seu povo amado. Somos enviados para anunciar a Palavra de Deus. A vinha do Senhor é a pastoral dos sacramentos, é a família, a juventude, são os cristãos leigos e leigas, as vocações, a sementeira dos seminários, o sinal e testemunho da vida consagrada. A vinha do Senhor é a caridade, o serviço à vida, a promoção da dignidade, da justiça e da paz. Na vinha do Senhor, estão os refugiados e migrantes, as emergências e urgências do povo. 

Trabalhar na vinha do Senhor é cuidar da casa comum, é tornar espaço de fé e comunhão as paróquias e comunidades, é sermos discípulos missionários, é organizar-se bem pastoralmente, é habitar o universo da comunicação, é cuidar da vida e da saúde, é sofrer com os que sofrem, alegrar-se com os que se alegram, é ser e fazer interlocução com os construtores da sociedade no pluralismo urbano, é diálogo inter-religioso e ecumênico. A vinha do Senhor é aqui na cidade de São Paulo. 

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