Cristo propõe aos chefes dos sacerdotes e anciãos outra parábola sobre a “Vinha”. Citando a profecia de Isaías (Is 5,1-7), compara o povo de Deus a uma vinha pacientemente plantada, cultivada, protegida e vigiada pelo Senhor. Nela são estabelecidos vinhateiros – isto é, líderes religiosos –, encarregados de recolher os frutos até que chegue o Dono.
No momento de entregar os resultados do cultivo, esses arrendatários espancaram, mataram e apedrejaram os muitos “empregados” – os profetas – que o Senhor lhes havia enviado. Por fim, Deus mandou à Vinha seu próprio filho Jesus Cristo. Vendo-o, os vinhateiros disseram as mesmas palavras dos irmãos de José do Egito: “Vinde, vamos matá-lo!” (Gn 37,20). Com inveja semelhante à deles, pensavam: “Este é o herdeiro. Vamos tomar posse da sua herança!” (Mt 21,38).
Agarraram o filho, jogaram-no para fora da vinha – isto é, além dos muros de Jerusalém, no Calvário – e o mataram. Jesus previa, deste modo, a morte a que seria submetido, motivada pelas intrigas dos judeus, seus interlocutores. E perguntou-lhes: “Quando o dono da vinha voltar, o que fará com esses vinhateiros?”. Os chefes dos sacerdotes e anciãos, sem perceber que a parábola se referia a eles, deram uma resposta profética: “Com certeza, mandará matar de modo violento esses perversos e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos no tempo certo” (Mt 21,41).
A conclusão do Senhor é aterradora: “O Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos” (Mt 21,43). Um “povo” (éthnos) significa aqui um “povo de gentios”, que não pertencem a Israel. Entregue aos cuidados de Pedro, dos demais Apóstolos e de seus sucessores, a Vinha do Senhor passaria a incluir pessoas de todos os povos, raças e origens. Com a fundação da Igreja – Novo Israel –, a Vinha divina recebe toda a sua fecundidade e se estende não somente do Mediterrâneo ao Jordão, mas por toda a Terra.
Essa comparação indica que a Igreja é como um organismo vivo a ser cuidadosamente cultivado. Como uma planta, Ela cresce, floresce, atravessa diferentes estágios e estações, mas permanece sempre a mesma. Possui regras vitais de desenvolvimento que devem ser respeitadas e protegidas. Para a Igreja, categorias como “revolução”, “reformulação” e “renovação radical” não funcionam. O seu crescimento é lento e natural, como o de uma plantação ou jardim. Precisa ser podada, regada, protegida e mantém sempre a mesma identidade. Os movimentos e cortes bruscos levam seus ramos infalivelmente à secura, à esterilidade e à morte.
A nós cumpre implorar ao Senhor que proteja a sua Vinha! Que Ele a guarde cercada com o cinturão verde dos Santos Padres e Doutores. Que os seus vigias – os Bispos – avisem, do alto, quando o mal se aproximar. Que o seu lagar permaneça sempre incontaminado. Que não falte a chuva fecunda das graças e bênçãos do Céu. E que todos nós produzamos uvas boas de amor, fé, conversão e obras santas.