A violência nas escolas: o que cabe à família fazer?

Diante dos tristes acontecimentos que estamos enfrentando, toda a sociedade se coloca em alerta: cenas de violência em ambientes escolares, que são locais de alegria, aprendizagem, crescimento, e repentinamente se transformam em lugares de horror.

Sem dúvida, estamos caminhando mal, estamos errando gravemente como sociedade.

Sentimos um enorme medo, insegurança de deixarmos nossos filhos na escola e nos surpreendermos com uma tragédia como as últimas que aconteceram. Esse receio toma conta de muitas famílias e, justamente por isso, creio que seja fundamental conversarmos a respeito desses acontecimentos. Apresento, em seguida, alguns pontos que considero importantes a cada família considerar: 

1. Avalie com serenidade a situação: apesar do medo gerado por acontecimentos brutais como esses, é preciso discernir entre o real e o que o medo nos leva a imaginar. Além de estarmos todos imersos num clima de temor, muitas notícias vão se espalhando pelas redes sociais, fake news aparecem e, se não estivermos dispostos a encarar a realidade com lucidez, acabaremos nos deixando tomar pelo pânico, diante de ameaças muito pouco prováveis de se realizarem. Muitas situações são possíveis, mas muito poucas são prováveis. É possível que essa tragédia se repita em muitas escolas? Sim. No entanto, muito pouco provável. O pânico somente aumenta o clima de ansiedade e pode causar efeitos nefastos entre as crianças e adolescentes. Nós, adultos, precisamos olhar com senso crítico para as notícias e nos determos em avaliar qual a postura a adotar diante delas.

Outro efeito bastante ruim que pode ser gerado quando todos se envolvem com as notícias e se dedicam a divulgá-las é o “efeito contágio”: outras pessoas que talvez não tivessem coragem de atos violentos como esses, se contagiam com o clima e os detalhes divulgados e acabam reproduzindo a ação.

2. Alie-se à escola em busca de soluções imediatas: é esperado que os pais busquem maior segurança para os filhos no ambiente escolar, porém, não tomem as escolas como rivais, mas, sim, como parceiras nesse processo; afinal, elas também não têm interesse algum em se colocar em risco, tampouco colocar as crianças. Vejo muitos pais querendo medidas drásticas e radicais sem considerar que as escolas têm uma visão diferente da realidade. Eles estão dentro da cena escolar, percebem a realidade daquela instituição em particular, avaliam os riscos com maior visão. Não pressionem a escola a medidas radicais que possam aumentar o pânico nas crianças e não a sensação de segurança. Aliás, o ideal seria que as crianças nem fossem comunicadas sobre todos esses acontecimentos; afinal, precisamos protegê-las e não expô-las ao medo. Nós precisamos cuidar da segurança dos pequenos e nunca promover que fiquem amedrontados.

3. Assuma um olhar cuidadoso em relação aos filhos: muitas vezes, tenho visto famílias que não estão verdadeiramente envolvidas no processo de formação do caráter dos filhos. Estamos numa sociedade bastante movida pelo sucesso profissional, pela busca de conforto etc. e, não raro, a formação dos filhos é delegada a terceiros – escola, babás, avós, telas (o que é extremamente danoso). Muitos pais não acompanham de perto esse processo de formação dos filhos e, quando menos esperam, estão diante de um adolescente que está envolvido com grupos, jogos e movimentos absolutamente estranhos a seus valores. Quantos pais se surpreendem com comportamentos dos seus filhos adolescentes, simplesmente porque, ao longo da infância, não acompanharam de perto a formação deles? Quantas famílias acabam optando por processos educativos mais permissivos, mais fáceis, em que os embates nunca acontecem e, com isso, formam pessoas com senso moral inexistente, com pouquíssima habilidade social? O amor, o afeto e a firmeza precisam estar presentes na formação dos filhos. A presença e envolvimento dos pais no processo é condição sine qua non para que se conheça bem cada um dos filhos e que uma boa formação de caráter seja garantida. Pais que conhecem e acompanham de perto os filhos, que conversam e convivem com eles, observam rapidamente qualquer mudança de comportamento, percebem se estão envolvidos com más companhias, se estão em algum jogo ou desafio digital que possa ser prejudicial, enfim, ajudam, e muito, a preservar a sociedade do convívio com personalidades malformadas e desequilibradas.

As mochilas que chegam à escola, nas quais pode haver objetos que ferem e matam, saem de casa, do aconchego do lar. Será mesmo necessário que a escola reviste essas mochilas ou seria muito mais adequado que os pais soubessem o que os filhos levam tanto na mochila quanto no coração?

Não podemos ficar alheios a todos esses acontecimentos e ao aumento crescente da violência nas escolas, mas não podemos esquecer: resolver esse problema é papel de todos e de cada um de nós – educadores, pais e poder público. Não podemos delegar a ninguém a parte importantíssima que cabe à família: formar bem os filhos, acompanhando-os no árduo e importante caminho de construção do caráter e de uma personalidade equilibrada, saudável e lúcida.

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site www.simonefuzaro.com.br. Instagram:@sifuzaro

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