Advento: tempo de oração

O tempo do Advento que a Igreja vivencia atualmente é sempre um período que nos faz voltar a Deus e intensificar nossa relação com Ele. Durante as quatro semanas que compõem este momento, somos chamados a uma verdadeira conversão, dedicando mais tempo à oração, à penitência, à frequência nos sacramentos e à leitura espiritual. Assim, da mesma forma que nossos antepassados se preparavam para a vinda do Messias, também nós nos preparamos para sua segunda vinda, gloriosa e cheia de majestade, para julgar todas as nações. 

Nesse sentido, podemos sempre meditar a vida de Nosso Senhor para buscarmos as fontes de uma espiritualidade sincera e eficaz e aplicá-las em nossas realidades pessoais. De forma especial, vale ressaltar o valor que Jesus dá à oração – nas manhãs, antes de as pessoas sequer terem acordado, isolava-se em locais desertos para rezar em silêncio (cf. Mc 1,35; Lc 4,42); no momento de uma grande decisão, antes de escolher quem seriam seus doze apóstolos, sobe ao monte para orar (cf. Lc 6,12); após realizar o milagre da multiplicação dos pães, também retira-se para rezar sozinho (cf. Mt 14,23; Mc 6,46). Mesmo sendo Deus, Cristo mostra que o alimento do homem para unir-se ao Senhor e viver conforme Sua vontade é justamente o cultivo de uma relação constante com Ele, colocando-O sempre em primeiro lugar. 

Entretanto, uma das questões mais comuns para aqueles que querem crescer na vida cristã é justamente o modo correto de rezar. É tão frequente que até mesmo os discípulos que andavam com Jesus o fizeram antes de Ele ensinar a oração do Pai-Nosso (cf. Lc 11,1s). Contudo, para além dessa única resposta, podemos observar em diversas passagens do Evangelho outras características também importantíssimas para cultivarmos uma relação frutuosa com Deus. Dessas, duas merecem um especial destaque no tempo do Advento: a humildade e a insistência. 

Para nos ensinar a humildade com que devemos orar a Deus, Jesus nos conta em seu Evangelho a parábola do fariseu e do publicano (cf. Lc 18,9-15). Nela, compara duas diferentes rezas feitas ao Senhor: a primeira, do fariseu, que dizia em seu íntimo palavras soberbas, agradecendo por sua pretensa santidade e superioridade dos demais. Já a segunda, do publicano, apenas pedindo de forma contrita perdão pelos seus pecados. A conclusão é clara: “Este último voltou para casa justificado, mas o outro não. Pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado”. 

O ensinamento da passagem é essencial para uma oração bem-sucedida: devemos colocar-nos em uma condição de completo desolamento, reconhecendo que tudo que possuímos e precisamos vem de Deus. Além disso, precisamos nos apresentar sem nenhuma máscara, sendo verdadeiramente sinceros com o Senhor. Quanto a isso, Jesus mesmo demonstra em seu pedido no Horto das Oliveiras: “Meu pai, se possível, que este cálice passe de mim. Contudo, não seja feito como eu quero, mas como tu queres” (Mt 26,39). 

A insistência, por sua vez, é ilustrada na parábola da viúva e do juiz injusto (cf. Lc 18,1-8). Nela, Nosso Senhor conta a história de uma viúva que, devido à sua insistência e importunação, fez com que até mesmo um juiz injusto lhe concedesse justiça para que ela não lhe agredisse. Assim, nos diz Jesus: “Escutai bem o que diz esse juiz iníquo! E Deus não fará justiça a seus escolhidos, que dia e noite gritam por Ele”? Dessa forma, por mais que pareça muitas vezes que nossa oração não é ouvida, Cristo nos ensina justamente o oposto: devemos pedir sem cessar. 

Portanto, que neste tempo do Advento, dediquemo-nos de forma ainda mais especial à oração. Essa é uma das maneiras mais essenciais para alcançarmos proximidade com Deus e fortalecermos nossa relação com Ele enquanto aguardamos sua vinda. Que nessas quatro semanas, nós rezemos sem cessar, despojando-nos de todo nosso orgulho e esperando ansiosamente por Aquele que é a nossa razão de ser e fonte de nossa felicidade. 

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