Assim diz o Salmo: “Senhor, quem morará em vossa casa e em vosso monte santo habitará? É aquele que caminha sem pecado e pratica a justiça fielmente; que pensa a verdade no seu íntimo e não solta em calúnias sua língua” (Sl 14,1-3). São Paulo dizia a Tito: “Não falem mal dos outros, sejam pacíficos, afáveis e saibam dar provas de toda mansidão para com todos os homens” (Tt 3,2). Essa particularidade parece um pouco esquecida em nossos dias. Chega a ser impressionante o quanto as pessoas não medem muito as palavras nos comentários que fazem a respeito dos outros. Nosso tempo podia ficar conhecido como o tempo da informação ou da instrução. Mas, infelizmente, parece estar mais conhecido como o tempo das “fake news” e dos “cancelamentos”.
Mais surpreendente ainda é que até no seio da Igreja ou, até mesmo em nome dela, algumas pessoas não se sentem minimamente interessadas em cuidar de não se tornarem maledicentes profissionais. Principalmente nas redes sociais, falar mal dos outros, dos padres, dos bispos, do Papa e até da própria Igreja tem estado mais em moda do que parece compreensível. Alguns usuários de internet utilizam esse meio apenas para desfilar sua capacidade de depreciar as pessoas e as instituições. É claro que a crítica pode ter sempre um espaço útil nas relações da sociedade. Mas, é impressionante como, para alguns, exercer a atividade crítica nunca reserva nenhum espaço para enaltecer alguma qualidade de alguém. E quando falamos desse alguém, consideramos o quanto se é seletivo nessas possibilidades. Para alguns críticos das redes sociais, muitas vezes, parece que alguma pessoa não tem absolutamente nada que mereça consideração e, em compensação, parece que ela tem todos os defeitos do mundo. Só o fato de alguém se arvorar em juiz dos outros já constitui uma contrariedade às palavras de Jesus: “Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados” (Lc 6,37).
As atitudes críticas de alguns que parecem se sentir mais católicos do que os outros, até do que o Papa, a quem difamam de maneira desrespeitosa, afastam-se muito das recomendações de Jesus: “Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!” (Mt 5,9). Falar mal dos outros não nos faz melhores do que somos nem melhor do que eles, além de nos arriscarmos a cometer injustiças, porque não conhecemos a verdade plena.
Lembro-me de uma situação, há muitos anos, quando nem seminarista eu era ainda. Era um leigo engajado em minha paróquia. Certa vez, critiquei para um amigo um senhor que fazia leituras e comentários na missa. Eu achava que ele só queria aparecer, gostava de ter o microfone na mão e fazer pose de líder. Foi quando esse amigo me perguntou se eu conhecia aquele homem antes de ele começar a participar da Igreja. Respondi que não. Então, esse amigo, que o conhecia havia muito tempo, começou a falar da vida errada que aquele homem levava antes de sua conversão. Fiquei envergonhado! Descobri que minha interpretação de que se tratava de um orgulhoso prepotente estava errada. Era só uma pessoa empolgada com sua nova vida. Mudei de atitude. Desde então, procuro frear meus comentários e fazê-los com mais reverência e respeito. Sempre me lembro das palavras de Jesus: “Raça de víboras, maus como sois, como podeis dizer coisas boas? Porque a boca fala do que lhe transborda do coração. O homem de bem tira boas coisas de seu bom tesouro. O mau, porém, tira coisas más de seu mau tesouro. Eu vos digo: no dia do juízo, os homens prestarão contas de toda palavra vã que tiverem proferido. É por tuas palavras que serás justificado ou condenado” (Mt 12,34-37).