Atentado na escola: em busca de soluções

Após o impacto inicial do atentado cometido por um aluno numa escola pública, causando a morte de uma professora e ferimentos em outras, surgem inúmeras questões a serem respondidas. O que leva um adolescente a executar um ataque como este? Quais motivos estão por trás deste comportamento? Bullying? Vingança? Ele havia dado sinais de que estaria planejando o atentando? Teve ajuda de algum colega? O ato teria sido apenas a manifestação de um transtorno mental ou expressão de uma cultura violenta que alcança, de várias formas, todos os jovens?

As muitas análises realçam diferentes aspectos, comprovando a complexidade da questão. É difícil emitir um parecer definitivo sobre as motivações para tal comportamento, assim como propor soluções para evitar a repetição destes atos.

O Estado é frequentemente apontado como o maior responsável pelo ataque, por engavetar projetos que previam a assistência psicológica nas escolas e por não oferecer a segurança necessária. Isto é correto. São décadas de abandono da educação, de professores realizando o trabalho em condições desafiadoras, com pesadas cargas horárias e baixos salários, ao sabor de projetos que mudam frequentemente.

A influência negativa das redes sociais também é bem conhecida e sua utilização foge à capacidade de controle dos pais, ainda que estes procurem acompanhar os filhos de perto.

A pandemia, por sua vez, deixou marcas profundas na aprendizagem e no desenvolvimento emocional/social dos adolescentes. De fato, hoje os professores tem que lidar com situações que exigem uma compreensão além de sua formação profissional. Além disso, na maioria das escolas não houve um projeto de acolhimento e recuperação do conhecimento e dos laços de amizade e confiança perdidos. A pandemia, porém, não foi a responsável pela situação atual, mas aprofundou o mal-estar vivido pelos jovens, sua solidão, falta de perspectivas profissionais devido ao aumento do desemprego e despreparo para o trabalho (geração “nem, nem”) e a falta de compreensão do significado da vida.

Muitas medidas de prevenção têm sido tentadas: presença de psicólogos nas escolas, acompanhamento social, instalação de botão de pânico em locais estratégicos, detector de metais, criação de canais de denúncia e monitoramento de inteligência policial. Essas medidas podem ser necessárias e algumas já deveriam vigorar a muito tempo, como o acompanhamento psicológico e a interação com as famílias. Elas, porém, também têm alcance limitado.

Em uma entrevista, uma professora atingida no ataque afirmou que saberia falar sobre a Revolução Francesa, mas não sobre aquilo “que vai na alma humana”. É uma afirmação justa. Não se trata, porém, de acrescentar outra formação técnica, embora esta seja sempre bem-vinda. 

Esta afirmação nos revela a profundidade da questão: ainda que os professores atuem com grande empenho e generosidade, faltam adultos capazes de propor um ideal de vida e isto não afeta somente os educadores. Todos nós perdemos a capacidade de reconhecer as necessidades essenciais da alma humana e a sensibilidade para perceber as riquezas e os sofrimentos dos que estão à nossa volta, em especial dos jovens.

Se os jovens mergulham em bolhas de ódio e preconceito talvez seja porque não encontrem locais para alimentar seu desejo de uma vida plena de significado, mas, sim, um mundo repleto de violência cotidiana. Infelizmente não há soluções eficazes em curto prazo: é preciso iniciar processos na certeza de que a realidade está imbuída pela presença de Cristo, como sempre diz o Papa Francisco, para que os jovens possam descobrir-se aceitos e amados; apesar de suas incoerências, amados por Deus.

Marli Pirozelli N. Silva é professora universitária de Doutrina Social da Igreja, com especialização em Doutrina Social (PUC-Goiás), mestrado em Filosofia da Educação, pela USP.

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