Todos os pais querem que seus filhos sejam autônomos, que confiem em sua própria capacidade de agir e que apreciem e valorizem o seu modo de ser e de viver.
No entanto, nem sempre as ações cotidianas conduzem verdadeiramente a criança a esse objetivo. Exatamente por isso, trago aqui algumas reflexões sobre a aquisição dessas capacidades e espero, com elas, contribuir para que estimulem melhor seus filhos nesta conquista.
Vamos começar refletindo sobre a autonomia. Em tese, a autonomia se refere à capacidade de se conduzir e tomar decisões próprias, levando em conta regras, valores, o próprio bem e o bem comum. Se olharmos para esse conceito, já a princípio percebemos que se trata de algo impossível a uma criança. Esta, por definição, é um ser em formação, alguém incapaz de decidir com critérios, pois ainda não os têm. Está aprendendo sobre a vida e depende completamente de seus pais para direcioná-la com segurança. Crianças, de modo geral, agem impulsivamente, buscando aquilo que as encanta, atrai, apetece. Não conseguem ainda distinguir com clareza o bem e o mal, não têm noção de causa e consequência e, portanto, precisam do apoio e direcionamento de seus pais.
Ensinar autonomia é muito importante e trata-se de um longo processo. Quando são ainda pequenos, começamos com aquilo que chamo de autonomia de ação, ou seja, os pais, percebendo para quais desafios os filhos estão preparados, os estimulam a realizá-los. Por exemplo: levar o alimento à boca sozinhos, subir e descer da cadeira, deslocar-se em um determinado ambiente, tirar o prato da mesa, tomar banho sozinho, limpar-se ao usar o banheiro, enfim, gradativamente vão ganhando habilidade na realização de autocuidados e cuidados com o ambiente. Essas ações vão sendo aprendidas e orientadas pelos adultos, de modo que as crianças vão aprendendo aos poucos o bem envolvido nelas, o quanto são favoráveis à saúde, à ordem pessoal e da casa, ao bem próprio e comum. Nesse processo educativo, vão aprendendo valores e critérios e se preparando para decisões. Também gradativamente, os pais devem dar aos filhos a possibilidade de decidir sobre algumas coisas, sempre levando em conta as capacidades que já adquiriram e o quanto estão aptos a arcar com a consequência daquilo que forem decidir. E, atenção: se deixarem que decidam, deixem que vivam a consequência da decisão, pois isso é importante para a aprendizagem.
Bem, entendido esse processo de aquisição de autonomia, olhemos agora para a autoconfiança. Crianças bem orientadas e acompanhadas na aquisição de autonomia tenderão a perceberem-se capazes de executar aquilo que foi orientado, posteriormente decidir responsavelmente o que é permitido e, com isso, sentir-se-ão confiantes em suas habilidades de execução e, ao seu tempo, de decisão. Já quando os pais as protegem demais, impedindo que enfrentem os desafios para as quais já estão preparadas, ou quando as abandonam a desafios muito maiores do que têm capacidade de enfrentar (tanto no que diz respeito à execução quanto à decisão), poderão gerar insegurança nos pequenos e, com isso, eles não se perceberão capazes, o que pode dificultar a aquisição de autoconfiança.
Por fim, vamos acrescentar a autoestima nessa equação. A autoestima é gerada por uma percepção de que faço coisas potencialmente estimáveis, ou seja, sou eficaz, realizo bem, portanto, tenho o que estimar em mim. De nada adianta elogiar uma criança para que ela cresça em autoestima, se esse elogio não estiver conectado com uma percepção pessoal de merecimento de tal elogio. Nem sempre crianças que repetem muitas vezes: “Viu como sou bom nisso ou naquilo?”, percebem-se realmente hábeis no que estão dizendo. Podem estar repetindo palavras que ouviram, mas isso não significa que realmente têm uma autoestima adequada.
É claro que existem componentes íntimos que impactam o modo como as diferentes pessoas absorvem as experiências e isso também influencia a aquisição dessas capacidades. No processo educativo, precisamos perceber as tendências naturais de cada filho para podermos ajudá-los a aproveitarem tais tendências da melhor maneira.
Pais queridos: entendam que estar atentos e comprometidos é muito importante para o bom desenvolvimento dos filhos. Mas, sem dúvida, não existirá condução perfeita. Os erros podem ser corrigidos e a rota realinhada. Compromisso, presença, constância e paciência (com a criança e com as próprias limitações), esse é o caminho para alcançar resultados muito positivos na formação dos filhos. Coragem!