Autoridade dos pais: por que tanto medo em exercê-la?

Desde meados do século passado, cresce um fenômeno sociocultural de desprestígio da autoridade. Correntes de pensamento que contrapõem autoridade e liberdade dividem a história e trazem a ideia de que a autoridade não é compatível com a liberdade. Tais correntes identificam a autoridade com autoritarismo e a liberdade com independência, e desse modo ambas não convivem.

Movimento intelectual que surge na Europa diante dos totalitarismos do século passado, a linha freudiana e marxista que se impõe no mundo intelectual acaba trazendo essa identificação da autoridade com o autoritarismo e faz acreditar que as personalidades totalitaristas surgem nas famílias e escolas. Com isso, inicia-se o processo de extinção da autoridade nesses lugares.

Difunde-se a ideia de que somente pais afetuosos e permissivos protegem a personalidade e autenticidade dos filhos – já que não reprimem seus instintos. Há um estímulo a se evitar a obediência que é vista, erroneamente, como submissão cega. No imaginário das pessoas, configura-se a ideia de que exigir equivale a ministrar castigos duros, violentos; e ser dócil é seguir desejos irracionais. Está feita a confusão de conceitos.

Divulga-se a ideia de que a autoridade educativa é um mecanismo de controle. A ideia de liberdade traz em si um desprezo à tradição, ou seja, se queremos formar pessoas livres, não podemos transmitir convicções, crenças, valores e tradições familiares. Joga-se fora essa importante herança que uma geração pode passar à outra, em nome desse conceito errado de liberdade. Ser livre seria elaborar suas próprias ideias sem influências externas.

Do autoritarismo, exercício errado da autoridade, se passou ao não exercício dela – uma omissão, também errada. O permissivismo propõe formas de convívio em que se evitam os conflitos e se elogia a participação, mas falta uma orientação clara por parte daqueles que têm mais maturidade para isso: os pais.

Essa mentalidade sobre o exercício da autoridade penetrou tão profundamente no imaginário moderno que os pais deixaram de confiar no vínculo que têm com os filhos, na percepção de mundo e de valores que regem suas vidas e delegaram a especialistas (psicólogos, psicopedagogos etc.) a educação de seus filhos. Sim, os profissionais têm seu papel, mas não podemos esquecer: pais precisam educar como pais e não como profissionais – podem aprender com eles, mas precisam confiar no vínculo com o filho, na missão educativa que têm na vida deles, que não pode ser terceirizada.

É evidente o descrédito na autoridade da família. Vê-se como uma diminuição da liberdade que a família influencie na formação da personalidade de seus filhos – educar na liberdade, hoje em dia, equivale a deixar que os filhos escolham, mesmo sem estarem preparados para arcar com as consequências.

Outro dificultador do exercício da autoridade é a fragilidade dos vínculos familiares. A família se tornou uma comunidade de amigos, de iguais – não é ruim que exista amizade, mas é péssimo que a relação se reduza a ela.

Precisamos mudar esse rumo e retomar as rédeas na formação dos filhos, pois os prejuízos dessa falta de autoridade têm sido enormes.

Aqueles que dão a vida têm também a missão de preservá-la e ajudar para que alcance a plenitude. Nascemos numa família, pertencemos a ela e esse sentido de pertinência traz em si uma vinculação tal que pressupõe aceitar a autoridade, que cuida, ensina valores, insere numa história e numa cultura.

Pais, fundamentem a autoridade na prudência, para orientar o bem viver dos filhos até que possam ser donos de si mesmos. Ofereçam por herança os valores que consideram essenciais para que seus filhos alcancem a felicidade. Exerçam a autoridade para educar e depois, conforme os filhos ganhem racionalidade e maturidade para fazerem suas escolhas, aos poucos a retirem de cena para que possam construir suas biografias.

Pais, não se esqueçam: quando se recebe uma herança, tem-se o que aceitar ou negar, porém, sem herança, o que há é um vazio e, no vazio, tudo cabe.

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Antonio Silvani Pinheiro
Antonio Silvani Pinheiro
1 ano atrás

Muito boa a matéria.
Uma triste realidade que se tornou a família, os pais não educam mais os filhos para uma vida de respeito e amor ao próximo, mostrando que o ser é muito mais importante que o ter…
Para o mundo moderno ser família é a mesma coisa que ter família.