Caminhar com Jesus e com as multidões

Resume o evangelista Mateus: “Jesus percorria todas as cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas, pregando a Boa Notícia do Reino, e curando todo tipo de doença e enfermidade. Vendo as multidões, Jesus teve compaixão, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então, Jesus disse a seus discípulos: ‘a messe é grande, mas os trabalhadores são poucos! Por isso, peçam ao dono da messe que mande trabalhadores para a colheita’” (Mt 9,35-36). 

Cinco aspectos de ordem evangélico-pastorais chamam a atenção. Primeiramente, vem o verbo percorrer. Em lugar de esperar na sacristia ou na porta dos templos, a Boa Nova do Evangelho nos chama aos porões e periferias do mundo urbano em particular, onde habitam os pobres e excluídos da sociedade. De igual forma que o “profeta itinerante de Nazaré”, somos também convidados a caminhar com Jesus e com as multidões, segundo o projeto da “Igreja em saída”, proposto pelo Papa Francisco. Nessa perspectiva, o verbo percorrer, tanto quanto “acolher, proteger, promover e integrar”, faz parte não apenas do núcleo da Pastoral dos Migrantes, e sim de toda a vivência cristã. 

Depois, vem a cura de todo tipo de doença e enfermidade. Jesus revela o rosto bondoso de um Deus da cura, do cuidado e da vida: “Eu vim para que todos tenham vida e que a tenham em abundância” (Jo 10,10). A pandemia de COVID-19 nos trouxe uma consciência mais aguda sobre as implicações da doença, bem como sobre o grande valor que é a saúde. Saúde que, por outro lado, se estende cada vez mais a todas as formas de vida, vegetal, animal e humana (biodiversidade). Entramos assim no espírito do cuidado com “nossa casa comum”, na qual somos convidados a um convívio de “todos como irmãos, como lembram respectivamente as encíclicas Laudato si’ (2015) e Fratelli tutti (2020). 

As multidões cansadas e abatidas aparecem em terceiro lugar. Mais do que nunca, multidões que se encontram nas ruas e praças das cidades, em tendas precárias, reflexo de vidas ainda mais precárias. Constituem o resultado do desemprego, subemprego ou serviços informais; o resultado do desenraizamento e das migrações em massa; o resultado da falta de terra, teto e trabalho. Cansadas pelo esforço de séculos, desde os mais antigos antepassados, às vezes em vão; abatidas pelas falsas promessas e pelas seguidas perdas, que obrigam a recomeçar novamente e sempre, e sobretudo cansadas pelo peso da pobreza, da miséria e da fome. 

Em quarto, vem a compaixão. Palavra composta: com + paixão. Quer dizer, estar com na paixão de outra pessoa, outro grupo ou outro povo. A paixão costuma figurar como uma espécie de situação-limite da existência humana: fracasso, morte, separação, doença, perda, amor não correspondido!… Em tais momentos, “estar com” não é dar coisas, mas se dar a si mesmo; ceder o próprio tempo, os olhos e os ouvidos a quem necessita de uma palavra, um olhar, um sorriso, um toque, uma visita!… “Estar com” é o mesmo que dizer: nada tenho para te oferecer, mas estou do teu lado, vamos ver juntos o que é possível fazer. A compaixão conduz ao compromisso pastoral e sociopolítico. 

Por fim, vem o pedido de mais trabalhadores para a colheita. Agosto é o mês de pedir pelas vocações. Toda pessoa, de uma forma ou de outra, é requisitada a algum tipo de serviço para a grande colheita do Reino. Vocação tem mão dupla: simultaneamente, chamado e resposta. Deus convida seus filhos e filhas à felicidade, a qual só é possível por meio da alegria de servir na busca do bem-estar comum. 

Padre Alfredo José Gonçalves, CS, pertence à Congregação dos Missionários de São Carlos (Scalabrinianos). 

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