Neste final de semana, tive a oportunidade de falar sobre “A cultura do sentimentalismo e suas consequências na formação das crianças” em um congresso em São Paulo e, refletindo sobre o que preparei sobre esse tema, gostaria de fazer aos pais e educadores católicos um alerta. Na verdade, espero com este artigo promover reflexões que possam iluminar a visão de educação que está tomando conta das pessoas que deveriam ser as primeiras responsáveis pela boa formação das crianças.
Como cristãos católicos, contamos com diversos documentos da Igreja e vasta literatura que orienta sobre o papel dos pais e dos educadores católicos na formação das crianças. Na Familiaris consortio, por exemplo, encontramos: “A família cristã é a primeira comunidade chamada a anunciar o Evangelho à pessoa humana em crescimento e a levá-la, por meio de uma catequese e educação progressiva, à plenitude da maturidade humana e cristã.” Sabemos, também por ensinamento dos Santos Padres e doutores da Igreja, que o caminho de crescimento da pessoa é o caminho de crescimento nas virtudes humanas e sobrenaturais. Que as adversidades e circunstâncias difíceis proporcionam momentos propícios para o crescimento nas virtudes; portanto, o sacrifício tem um papel central na vida cristã.
Ocorre que, apesar de grande conhecimento que vem sendo desenvolvido ao longo dos séculos pela Igreja, nos vemos hoje completamente envolvidos por teorias e propostas educativas que evitam de qualquer modo, e sem considerar os verdadeiros prejuízos, as frustrações e dificuldades na vida da criança e, pior do que isso, colocam o sentimento no centro de todo e qualquer processo. Sendo assim, o desejo e o sentimento infantil ganham o status de ordem no ambiente familiar e, por consequência, na escola, uma vez que os professores não podem contrariar aquilo que a criança quer; afinal, os pais entram em defesa delas.
E como chegamos a esse ponto?
Desde o advento do Romantismo, os sentimentos foram ganhando um lugar de destaque. Por outro lado, o Iluminismo, especialmente na pessoa de Jean Jacques Rousseau, trouxe a ideia de que “O homem nasce bom, e a sociedade o corrompe”. Sendo assim, cada pessoa deveria viver plenamente a própria subjetividade e cumprir suas vontades sem interferência de outras pessoas e ideias. Essas correntes foram influenciando de tal modo os teóricos da educação que, hoje em dia, nos encontramos em um estado de formação humana deplorável, colhendo péssimos resultados, na medida que vemos a olhos nus as gerações mais novas, completamente despreparadas para a vida.
Ideias como: “Nenhuma criança que esteja aprendendo a escrever jamais deveria ouvir que alguma letra está malfeita… toda criança ou homem burro é produto do desencorajamento… dê curso livre à natureza e não haverá ninguém burro” (Cecil Grant em “A educação inglesa e a doutora Montessori”); “As capacidades humanas desenvolvem-se a si mesmas” (Pestalozzi); “Não force a criança a nada… deixe-a mover-se livremente… deixe-a passar de um objeto interessante a outro… devemos esperar pelo desejo da criança, pela consciência da necessidade” (John Dewey, in “Podres de Mimados de Theodore Dalrymple”) foram formando o imaginário e a consciência dos nossos pedagogos e dos pais nos últimos séculos, de modo que o propósito educativo e formativo das crianças passou a não ser uma responsabilidade do adulto. A este cabe cuidar para que a criança não perca a inocência infantil e, desse modo, ficam as crianças abandonadas aos próprios impulsos e sentimentos imaturos.
Sim, é preciso valorizar a aprendizagem pela experiência em determinada etapa da vida, é importante uma educação afetiva que ajude as crianças a crescerem em conhecimento de seus sentimentos, emoções, mas, não menos importante, que cresçam em capacidade de ordená-los e, para tanto, tais sentimentos precisam estar ancorados na realidade e iluminados pela razão.
Pais e professores, convido-os a olhar com toda a atenção para esse aspecto e retomar com urgência a educação das crianças de modo mais responsável, ocupando o lugar de autoridades necessárias nessa caminhada de crescimento e aperfeiçoamento humano. Caso contrário, estaremos sendo negligentes com a missão que nos foi dada pelo próprio Deus – levarmos nossos filhos à plenitude da maturidade humana e cristã.